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Estado de Minas RU�NAS DE EIKE

Com derrocada de Eike, Nova Era est� dividida entre a vergonha e a como��o

Ru�na do ex-bilion�rio, al�m de rastro de preju�zo no estado, deixou a terra natal do patriarca da fam�lia dividida entre a vergonha, o ressentimento e a solidariedade


postado em 06/02/2017 06:00 / atualizado em 06/02/2017 07:45

Prisão do empresário é assunto de rodas de conversa da cidade tradicional de 18,9 mil habitantes, na Região Central(foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Pris�o do empres�rio � assunto de rodas de conversa da cidade tradicional de 18,9 mil habitantes, na Regi�o Central (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)

Nova Era
– A pris�o e a ru�na moral de Eike Fuhrken Batista da Silva, de 60 anos, celebrizado como Eike Batista no mundo social e dos neg�cios bilion�rios, ecoa numa cidade do interior de Minas: Nova Era, nascida nos tempos coloniais �s margens do Rio Piracicaba, na Regi�o Central, e distante 130 quil�metros de Belo Horizonte. Considerado ber�o da fam�lia, terra do ex-ministro e ex-presidente da Vale, Eliezer Batista, de 93 anos, pai de Eike, e onde vivem parentes do agora encrencado empres�rio, o munic�pio de 18,9 mil habitantes tem moradores com opini�es distintas a respeito da situa��o do rec�m-ocupante de uma cela na Penitenci�ria Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, no Rio de Janeiro (RJ). Uns dizem que � vergonhoso para a cidade; outros acreditam que n�o h� impacto, enquanto h� quem confie em Eike e tor�a para ele se sair bem desse epis�dio de den�ncias de corrup��o envolvendo a acusa��o de pagamento de propinas ao ex-governador fluminense S�rgio Cabral, tamb�m preso no Rio.

Mineiro de Governador Valadares, na Regi�o Leste, Eike deixou com suas empresas um rastro de devasta��o ambiental e preju�zos em Brumadinho, S�o Joaquim de Bicas e Igarap�, na Grande BH, conforme mostrou ontem o Estado de Minas. Nesses locais, fica a maior �rea de atua��o da MMX Sudeste, bra�o miner�rio da EBX, a empresa principal do conglomerado do ex-bilion�rio preso pela Opera��o Lava-Jato. Como resultado das atividades e das promessas de progresso, restaram fazendas abandonadas, hoje usadas como ref�gio de criminosos, cavernas abaladas e h�bitats de fauna e flora silvestres desaparecidos do mapa junto com a paisagem natural que sofreu com o peso do maquin�rio.

Osvino Rodrigues Sette, diante do casarão onde Eliezer Batista morou, acredita que o pai de Eike poderia ter atuado para ajudar o município em que nasceu(foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Osvino Rodrigues Sette, diante do casar�o onde Eliezer Batista morou, acredita que o pai de Eike poderia ter atuado para ajudar o munic�pio em que nasceu (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)

Segundo filho de Eliezer e da alem� Jutta Fuhrken, Eike nasceu em Governador Valadares quando o pai, engenheiro, trabalhava no escrit�rio da Estrada de Ferro Vit�ria-Minas, da antiga Vale do Rio Doce, hoje Vale. O casal teve sete filhos. Muitas dessas hist�rias povoam um bem conservado casar�o do s�culo 19, pintado de bege e marrom, com verde nas laterais, destaque na Rua Governador Valadares, no Centro de Nova Era. Com um escrit�rio diante da constru��o, o despachante e bacharel em direito Osvino Rodrigues Sette, de 51, afirma que a fam�lia Batista nunca fez nada pelo munic�pio. “Tenho muita m�goa, pois poderiam ter ajudado a comunidade em todos os sentidos. Quando Eliezer estava no auge, muito poderia ter sido feito em prol da popula��o, nos setores de sa�de e inclus�o social. Nada disso aconteceu”, critica Osvino, conhecido como Noc�o.

Diante dos �ltimos acontecimentos, que puseram Eike na cadeia e no epicentro de um sucess�o de esc�ndalos, Osvino n�o tem d�vidas de que se trata de uma “vergonha” para a cidade, antiga S�o Jos� da Lagoa, surgida no s�culo 18. De fam�lia de pol�ticos – filho de Geraldo Sette, do antigo MDB, depois PMDB, preso em 1964, e com irm�o chamado Brizola Rodrigues Sette, batizado aos 19 anos pelo ex-governador do Rio Leonel Brizola (1922-2004) –, Osvino espera que a Justi�a seja feita em rela��o a Eike. “O ber�o da fam�lia dele � aqui, mas ficou um ran�o dessa fam�lia. Tomara que o empres�rio honre o que falou na entrevista, na tev�, de querer ajudar a passar o Brasil a limpo, e fa�a a dela��o premida.”

BOCA A BOCA O assunto est� em todas as bocas, mas muitos nem querem se identificar, devido aos la�os de amizade que os unem � fam�lia. � o caso de um “amigo do doutor Eliezer”, como se autodeclara, convicto de que a fam�lia “fez, sim”, muito por Nova Era. “Foi gra�as a ele que se instalou na cidade, h� cerca de 30 anos, a empresa Nova Era Silicon, de beneficiamento de min�rio de um grupo japon�s, gerando 500 empregos. No per�odo em que foi presidente da Vale, criou dois bairros, o Santana e o S�o Jos�. E quando era conselheiro da Celulose Nipo-Brasileira S/A (Cenibra), trouxe para c�, h� 10 anos, o escrit�rio da empresa”, relata. Eliezer foi presidente da Vale por duas vezes, de 1961 a 1964 e de 1979 a 1986, sendo ainda ministro das Minas e Energia entre 1962 e 1964, no governo do presidente Jo�o Goulart, o Jango (1918-1976). Ele comprou dos herdeiros, segundo o “amigo”, todas as partes do casar�o, que est� vazio, embora “muito bem conservado”.

Historiador Elvécio Eustáquio diz que a família nunca se integrou à cidade(foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Historiador Elv�cio Eust�quio diz que a fam�lia nunca se integrou � cidade (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)

Rica�o tem tia que fez voto de pobreza


Os moradores do Centro de Nova Era se acostumaram, durante muitos anos, a ver as irm�s de Eliezer, Marta, j� falecida, e Stella, hoje com 89 anos, freira que se encontra recolhida na casa de uma cidade da Regi�o Metropolitana de BH. “Ela estava sempre com um h�bito cinza. Mas as duas sempre foram muito reservadas”, diz um morador. Outro residente, amigo da fam�lia, conta que ela est� consciente e sabendo de todos os problemas envolvendo o sobrinho. O curioso � que, ao contr�rio de Eike, que sonhou em ser o homem mais rico do mundo, irm� Stella fez voto de pobreza. Outro nome muito lembrado por todos � do m�dico Jos� Batista, o “doutor Batista”, irm�o de Eliezer, considerado muito bom para os pobres.

A comerciante Nilza Oliveira Caetano, de 62, vizinha do casar�o pertencente a Eliezer Batista, conviveu durante duas d�cadas com as irm�s Marta e Stella. “Elas n�o gostavam de falar sobre certos assuntos, principalmente sobre essa hist�ria de o sobrinho querer ser um dos homens mais ricos do mundo”, conta Nilza. “Sempre foram pessoas de dignidade e reservadas. H� uns 10 anos, fui apresentada ao doutor Eliezer. Dona Stella chegou a me dar um len�o que ela bordou aos 15 anos”, conta a comerciante. A situa��o atual, ela resume em uma senten�a –“� a pol�tica” –, para depois acrescentar: “Um dia, a m�scara dos pol�ticos e empres�rios corruptos tinha que cair. S� que a gente n�o imagina que pode ser t�o pr�ximo de n�s. Acho que n�o � vergonha para Nova Era, o problema � que ficamos chateados”.

Profundo conhecedor da hist�ria local e estudioso de seus fatos relevantes, Elv�cio Eust�quio da Silva, de 72, cr� piamente que a derrocada de Eike n�o respinga em Nova Era. “Na verdade, n�o significa nada, mesmo. Afinal, a fam�lia nunca foi integrada � cidade. Mesmo que o pai dele tenha nascido aqui, essa liga��o � desconhecida de muitos. O pr�prio doutor Eliezer vinha pouco aqui”, afirma. Elv�cio, que faz uma pesquisa sobre a fam�lia Batista em Nova Era, se recorda, no entanto, das f�rias escolares, quando os filhos do ex-presidente da Vale – “crian�as louras, de cabelos cacheados” – visitavam a resid�ncia dos av�s, o casar�o com quintal grande e p�s de jabuticaba e outras frutas. O av� Jos� Batista da Silva, o Juca Batista, era fazendeiro, um dos donos da “bem estruturada” Selaria Batista e Irm�o, e casado com Maria da Natividade Pereira. “O lado paterno, Batista, n�o � de Nova Era e ningu�m sabe a origem. J� o sobrenome Pereira � de uma fam�lia tradicional de nossa cidade”, conta o pesquisador e historiador. Nos levantamentos que fez, Elv�cio verificou que Eike viveu apenas tr�s dias em Governador Valadares.

SEM ORA��ES
Na tarde chuvosa de sexta-feira, os amigos Jos� Ant�nio de Oliveira, de 66, comerciante aposentado, e Geraldo Cirino da Silva, de 60, zelador volunt�rio, conversavam na porta da Matriz de S�o Jos� da Lagoa, templo do s�culo 18. “Pega mal para a cidade, n�o � mesmo?”, comentou Jos� Ant�nio, que conheceu o av� de Eike, que “mexia com sela de cavalo, arreio, la�os, essas coisas...” e o tio-av� dele, Quincas. Com o jeito mineiro inconfund�vel, o aposentado ressalta que os av�s de Eike eram “trabalhadores, pessoas de muito respeito” e certamente ficariam envergonhados com tudo o que ocorre agora. “� humilhante para qualquer um ficar numa cela min�scula”, acrescenta.

Uma not�cia nas redes sociais, de que moradoras estariam fazendo novena para Eike, desperta risadas entre os amigos. “N�o tem nada disso aqui, n�o. Nunca vi”, comentou Jos� Ant�nio, com a total concord�ncia do zelador Geraldo Cirino. Os dois riram referindo-se a uma piadinha que corre solta na cidade: se no passado o av� trabalhava com “sela”, hoje, o neg�cio do neto est� numa “cela”.

A equipe do Estado de Minas esteve na casa de parentes pr�ximos de Eike e foi informada, pelo interfone, de que os donos n�o estavam. Depois, pelo telefone, uma pessoa disse que n�o havia interesse da fam�lia em se manifestar na reportagem.


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