
H�bitats de fauna e flora silvestres protegidas, cavernas de forma��es de min�rio de ferro end�micas de Minas Gerais ru�ram abaladas pela vibra��o dos pesados pneus de caminh�es de minera��o. Fazendas que seriam usadas para comportar estruturas miner�rias como usinas e minerodutos se tornaram propriedades-fantasmas, hoje usadas como ref�gios de criminosos, desmanches de carros roubados e abatedouros clandestinos de gado furtado. Paisagens naturais fora aplainadas por m�quinas de terraplenagem, expulsando para outras propriedades veados, tamandu�s e lobos-guar�. Hot�is e restaurantes estruturados para atender a uma for�a de trabalho de 4 mil pessoas fecharam assim que, ao fim de tr�s anos, essa m�o de obra foi demitida. A maior parte desse contingente deixou as casas alugadas e hot�is onde morava e se foi. Se nacionalmente o empres�rio Eike Batista ficou conhecido pelo esc�ndalo de corrup��o que o levou preso pela Opera��o Lava-Jato, em Minas Gerais as promessas de progresso de suas atividades se tornaram rastros de devasta��o ambiental e preju�zos, principalmente em Brumadinho, S�o Joaquim de Bicas e Igarap�, na Grande BH –, maior �rea de atua��o da MMX Sudeste, o bra�o miner�rio da EBX, a empresa principal do conglomerado do ex-bilion�rio.
Ele foi preso pela Pol�cia Federal no Rio de Janeiro na �ltima segunda-feira, como principal alvo da Opera��o Efici�ncia, desmembramento da Lava-Jato, por suspeita de integrar um esquema de corrup��o envolvendo o ex-governador fluminense S�rgio Cabral. J� em Minas, o empres�rio nascido em Governador Valadares saiu de cena pedindo a recupera��o judicial da MMX Sudeste, em 2013. Atualmente, a empresa tenta se capitalizar e negociou sua atividade miner�ria com o grupo holand�s Trafigura. A gigante do ramo de log�stica e commodities j� repassou R$ 65 milh�es � empresa que era controlada por Eike e assumiu as opera��es em Serra Azul, onde a MMX tem as minas de Tico-Tico e Ip�, e tamb�m em Bom Sucesso, no Centro-Oeste mineiro.
Mas as marcas deixadas como heran�a por Eike n�o passaram. As incertezas e o trauma deixados pela MMX ainda assombram os habitantes dos munic�pios onde a empresa atuou, trazendo desconfian�a sobre a Trafigura. A multinacional foi procurada, mas n�o informou quando pretende retomar a produ��o de 6 milh�es de toneladas de min�rio nas minas da Grande BH, onde est�o inseridas as grutas, nem se vai assumir a prote��o e a recupera��o dessas forma��es rochosas. Em 2014, o Minist�rio P�blico abriu um inqu�rito civil para apurar e determinar a interrup��o das atividades da MMX em Serra Azul, visando a impedir a degrada��o e os “danos irrecuper�veis” que a paulatina expans�o da minera��o vinham trazendo. Entre as bancadas de terra vermelha, degraus e estradas que talharam a Serra Azul para extrair min�rio de ferro, resistem nove cavidades fr�geis, formadas ap�s milh�es de anos de a��o das chuvas na regi�o de Brumadinho, S�o Joaquim de Bicas e Igarap� (veja arte). O que restou delas abriga uma fauna formada por aranhas, morcegos, p�ssaros e outros exemplares animais e da flora cavern�cola. Dessas, oito forma��es se encontram nos topos de morros da Mina de Tico-Tico, a menos de 100 metros dos degraus e estradas. Uma outra, a Gruta das Formigas, fica a menos de 200 metros da �rea de impacto. O MP foi procurado, mas n�o soube informar se o inqu�rito prossegue ou se medidas adicionais de prote��o ao meio ambiente ser�o tomadas.

ABANDONO A equipe de reportagem do Estado de Minas foi at� a Mina de Tico-Tico e comprovou que a atividade miner�ria cessou nas instala��es. Apenas alguns vigilantes fazem ronda no per�metro das lavras e galp�es do complexo. Um caminh�o de emerg�ncia com logotipo da MMX tamb�m circula, fazendo vistorias e manuten��es no local. Nenhum tipo de trabalho de recupera��o ou vest�gio de a��o com essa finalidade foi visto na �rea onde est� a Gruta das Formigas, que fica a menos de 200 metros da mina e a 70 metros da estrada da Conquista, entre Igarap� e Brumadinho.
Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), em 14 de outubro de 2016 a MMX assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o estado, em que se comprometeu a efetuar “o pagamento das multas e da indeniza��o pelos danos causados �s cavidades existentes no empreendimento, sendo mantida a penalidade do embargo, a qual dever� ser analisada no �mbito de um novo processo de licenciamento ambiental, com os respectivos estudos pertinentes. O TAC vem sendo cumprido pela empresa”. Ainda de acordo com a Semad, a empresa Trafigura adquiriu as opera��es miner�rias de titularidade da MMX e ainda n�o pode funcionar, uma vez que o embargo ainda � v�lido e a nova controladora “deve observar a legisla��o ambiental pertinente e a obten��o das licen�as ambientais necess�rias na eventualidade de retomada das atividades”. A MMX informou que os “eventuais reparos (�s cavidades naturais atingidas pela atividade e verificados pela Semad) s�o de responsabilidade da MMI – Minera��o Morro do Ip�, nova empresa criada para operar a mina. Empresa controlada pela Trafigura e Mubadala (51%)”.
A MMX no estado
» Empresa foi criada em 2005 para a ind�stria e com�rcio de min�rios em geral, pesquisa, lavra, beneficiamento, presta��o de servi�os geol�gicos e participa��o no capital social de outras sociedades
» Nos anos de 2007 e 2008, adquiriu as a��es da sociedade AVG Minera��o S.A. e as cotas da sociedade Minera��o Minas Gerais Ltda. (Minerminas), incorporadas e transformadas na MMX Sudeste
» Os direitos miner�rios permitem trabalhar nas minas de Tico-Tico e Ip�, em Serra Azul, na Grande BH, e em Bom Sucesso, Centro-Oeste de Minas Gerais
» De 2013 a 2014, o pre�o do min�rio caiu quase 50%
» Depois de investimentos da ordem de R$ 700 milh�es para expandir a atividade de 6 milh�es para 25 milh�es de toneladas de min�rio por ano, a empresa n�o conseguiu licenciamentos ambientais nem empr�stimo de
R$ 4 bilh�es que pleiteava junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES)
» MMX Sudeste pede sua recupera��o judicial em 2013
» O pedido de recupera��o judicial foi concedido em 2016, com a venda dos direitos miner�rios para a Trafigura