
“Da enfermaria, a gente via as pessoas que morreram sendo levadas nas macas, cobertas pelos len��is. Aquilo perturbava a gente demais, porque voc� passa mal o tempo todo e sente que pode ser voc� que vai morrer a qualquer momento”, conta o trabalhador rural, morador de Caratinga, no Vale do Rio Doce.
A solid�o dentro do hospital era grande. “As visitas ficavam pouco e quando iam embora a gente ficava s�. Nem todo mundo conseguia falar, porque passava muito mal com a febre, ficava delirando na cama e os m�dicos vinham, levavam para dentro depois de um tempo e voltava ou n�o. Quando me despedia da minha fam�lia, ficava pensando se veria eles de novo no outro dia ou se iria embora numa maca, coberto por um len�ol”, diz Claudinei. O Hospital Eduardo de Menezes � refer�ncia estadual em doen�as infectocontagiosas e recebeu muitos doentes de todo o estado para tratar da febre amarela.
Quando foi transferido de Ipanema para Manhua�u para tratar da febre amarela, o aut�nomo Willian Lima Vieira, de 33, achou que era o seu fim. “Todo mundo que chegava l� no hospital estava morrendo. Essas eram as not�cias que a gente estava tendo. Olhei para meu pai antes de ser transferido e disse para ele: 'Toma conta da minha mulher e da minha filha que n�o volto n�o'”, lembra. Os momentos de dor e sofrimento envolveram e mobilizaram toda a fam�lia. “Sentia febre, muita dor no corpo, n�o comia, s� queria ficar deitado. Minha mulher � que me dava banho, porque eu n�o aguentava. Via pelo olhar dela que eu n�o estava nada bem. Ela tentava me incentivar, mas podia ver que estava todo amarelo, quase um cad�ver. Os 10 primeiros dias foram os mais dif�ceis e depois melhorou, mas a doen�a pode voltar e eu ir de novo para a UTI. Por isso estou de repouso”, conta.

ABATIMENTO At� quem n�o teve a doen�a sofreu com a perda de amigos e o abatimento da mol�stia sobre parentes e colegas, sobretudo nas pequenas comunidades rurais. “Um amigo meu, Ronilso, morreu. Dois amigos foram internados em Belo Horizonte e um em Ipatinga. Meu pai tamb�m, foi internado em Ipatinga. Come�ou a dar febre, press�o alta no hospital. Foram 15 dias de sofrimento. Vomitando sangue, com sangue saindo tamb�m do nariz, da boca e do ouvido. A gente tentava incentivar, mas quando olhava para ele ficava apavorado. At� o preto do olho dele estava amarelo”, lembra Grauciano Mendes Lopes, de 29 anos, trabalhador rural de Caratinga. O pai dele, Manuel Clementino Lopes, de 54, ainda se recupera.
Nas comunidades pequenas e pacatas, como a de Patroc�nio e de S�o Jo�o do Jacutinga, em Caratinga, a paz t�pica foi quebrada pela busca desenfreada pela vacina. No posto de sa�de de S�o Jo�o do Jacutinga, a chefe de enfermagem Jaqueline Gomes Soares conta que se vacinava 400 pessoas por dia. “Gente de comunidades afastadas e at� de outros munic�pios ficavam sabendo que aqui tinha vacina e aparecia aquele tanto de gente. A gente trabalhava at� as 20h para dar conta de todo mundo. Enquanto tinha dose a gente atendia”, lembra.
Em Patroc�nio, al�m a vacina��o, as pessoas come�aram a se mobilizar quando descobriram que havia muitos focos de mosquitos transmissores nos quintais e espa�os p�blicos. Os bancos sob o frondoso p� de saboneteira da entrada do distrito t�m as sombras mais disputadas do lugarejo, onde muita gente gosta de conversar, brincar com as crian�as e fazer refei��es inclusive churrascos. “O pessoal da sa�de da prefeitura veio aqui e encontrou uma por��o de mosquitos e larvas. Tinha muito copo de pl�stico e outros lixos que a gente deixava. Foi um susto, porque eu mesma adoro sentar ali com minhas netinhas”, conta a dona de casa Maria das Gra�as Silva, de 66.