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Estado de Minas

'Nunca vou me esquecer', desabafa cabeleireira v�tima de agress�es racistas de advogado em BH

No dia mundial de luta contra o racismo, cabeleireira agredida f�sica e verbalmente por advogado em BH relata indigna��o com o preconceito, despreparo da pol�cia e revolta com libera��o do acusado


postado em 22/03/2017 06:00 / atualizado em 22/03/2017 08:13

"As agress�es verbais, de cunho racista, continuaram na frente dos policiais, que n�o reagiram. (...) No in�cio, pensei que n�o ia dar em nada. Mas � exatamente pelo sentimento de impunidade que as pessoas n�o denunciam" - Taciana Cristina Souza Pires, cabeleireira, atacada quando embarcava em um �nibus no Centro da capital (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Enquanto a cor da pele e os cachos nos cabelos s�o motivo de orgulho para uma popula��o que se conscientizou de suas origens negras, um preconceito hist�rico e arraigado persiste na sociedade brasileira. Ontem, Dia Internacional de Luta pela Elimina��o da Discrimina��o Racial, esse tipo de atitude ainda indignava a cabeleireira Taciana Cristina Souza Pires, de 28 anos, agredida f�sica e verbalmente na v�spera, quando subia em um �nibus no Centro de Belo Horizonte. Est� longe de ser um caso isolado. Den�ncias de pessoas que incitam �dio motivado pela cor, etnia, religi�o ou origem de suas v�timas somaram 401 casos – entre racismo e inj�ria racial – de janeiro a novembro do ano passado, em Minas, m�dia de 36 ocorr�ncias a cada m�s ou mais de uma por dia. O mais recente flagrante de preconceito na capital chocou cidad�os e mobilizou movimentos e pessoas via redes sociais. O agressor, um advogado de 70 anos, foi detido e liberado sob fian�a de R$ 1 mil. Ontem, ainda abalada com o epis�dio, Taciana contou ao Estado de Minas como foram os momentos que enfrentou e de onde tirou for�as para levar o caso � pol�cia.


No sal�o de beleza onde trabalha, o clima era de solidariedade entre os colegas de profiss�o. Taciana estava nitidamente abalada, mas ao mesmo tempo mostrava determina��o na defesa da cultura negra. Ela disse que passou a noite praticamente acordada, pensando no epis�dio. “Nunca vou me esquecer daquele homem, de olhos azuis, me ofendendo, me chamando de macaca v�rias vezes. Mas eu sei que sou linda, meu cabelo � lindo e eu sou maravilhosa”, disse a profissional, que trabalha no sal�o Todo Black � Power, especializado em cabelos crespos. Confiante, ela explica os motivos que a levaram � delegacia para prestar queixa contra o agressor. “N�o podia deixar passar batido, temos que denunciar. Fa�o isso hoje n�o s� por mim, mas por todos os homens e mulheres que sofrem com o racismo diariamente”, afirma a cabeleireira.

O caso ocorreu quando Taciana entrava em um coletivo da linha 3503, na volta para casa. “Quando me virei, ele me deu um tapa na cara e disse que meu cabelo era feio, al�m de fazer outras inj�rias raciais”, afirmou a jovem. Taciana conta que, com a rea��o de pessoas pr�ximas, o agressor desceu e tentou fugir em um t�xi. “As pessoas, revoltadas, n�o deixaram o taxista arrancar. Ele ent�o saiu andando a p�, em dire��o � Pra�a Sete. Fomos atr�s”, contou.

Mesmo detido pelos militares, o homem continuou com as ofensas. “As agress�es verbais, de cunho racista, continuaram na frente dos policiais, que n�o reagiram. Quando chegamos � delegacia e vi a quantidade de advogados que o esperavam, percebi que queriam passar a m�o na cabe�a dele”, reclamou a jovem. Por�m, em pouco tempo houve uma mobiliza��o via redes sociais e ativistas seguiram para o local, em apoio � cabeleireira.

Taciana revela que chegou a pensar em n�o fazer o boletim de ocorr�ncia, mas disse ter sido motivada a levar o caso adiante pelas pessoas presentes. “No in�cio, pensei que n�o ia dar em nada. Mas � exatamente por isso que as pessoas n�o denunciam, justamente pelo sentimento de impunidade”, afirma.

Levar o caso ao conhecimento das autoridades � exatamente a orienta��o dada pela delegada da Coordena��o de Direitos Humanos da Pol�cia Civil, Elizabeth Martins. Ela explica que, apesar de ainda haver muito desrespeito em rela��o � ra�a, cor, etnia, religi�o ou origem, � preciso denunciar. “Antes, ofensas eram encaradas como uma brincadeira. As pessoas se sentiam ofendidas, mas permaneciam caladas. Agora est�o tendo mais consci�ncia”, afirma. Ela diz ainda que, apesar de em alguns casos haver dificuldades para se comprovar a acusa��o, na maior parcela dos processos h� testemunhas, grava��es e registros de internet que funcionam como provas.
Ontem, Taciana, ainda abalada, recebeu solidariedade de colegas de trabalho(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Ontem, Taciana, ainda abalada, recebeu solidariedade de colegas de trabalho (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)

DESPREPARO A cabeleireira, no entanto, faz cr�ticas ao trabalho policial. Ela diz que na Central de Flagrantes da Pol�cia Civil (Ceflan) 2, no Bairro Floresta, na Regi�o Leste de Belo Horizonte, onde foi atendida, parte dos funcion�rios n�o estava preparada para lidar com a situa��o. “Quando todos viram a repercuss�o e v�rios rep�rteres na porta, um dos funcion�rios chegou a dizer: ‘Nossa, mas para que isso tudo?”, relatou.

Ela ainda se revoltou com a fian�a que permitiu a libera��o do acusado. “Quando cheguei em casa, fiquei me perguntando: que justi�a � essa? Eu n�o deixei que ningu�m encostasse a m�o no homem, justamente para garantir que a justi�a legal fosse feita. Mas a� o respons�vel, que foi pego em flagrante, paga R$ 1 mil e vai embora para casa?”, questionou. Taciana conta que em nenhum momento o agressor se mostrou arrependido. O Estado de Minas tentou contato com o homem detido pela agress�o, mas ele n�o atendeu �s liga��es. Na Ceflan 2, o advogado dele foi contatado, mas n�o quis se pronunciar sobre o caso.

EM acompanhou registro da den�ncia na delegacia. Assista:




 

Exposi��o no Detran


No Dia Internacional de Luta pela Elimina��o da Discrimina��o Racial, a Pol�cia Civil abriu exposi��o fotogr�fica chamada Invisibilidade Social. A a��o visa a marcar a data, trazendo fotografias do artista Felipe Soares, que retrata um homem negro subjugado nas ruas da cidade grande. A campanha foi iniciativa da Coordena��o de Direitos Humanos e do Departamento de Tr�nsito de Minas Gerais (Detran-MG), e ser� exibida no p�tio do departamento, na Avenida Jo�o Pinheiro, no Bairro Funcion�rios, Centro-Sul de Belo Horizonte, at� sexta-feira.


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