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Estado de Minas

Falta de interven��es torna o Anel Rodovi�rio uma estrada desgovernada

Novo desastre na rodovia, desta vez envolvendo 20 ve�culos e deixando seis feridos, volta a expor a necessidade da sempre adiada reforma. Especialistas cobram ao menos solu��es paliativas


postado em 06/04/2017 06:00 / atualizado em 06/04/2017 07:36

Novo desastre chamou a atenção pelo fato de uma das vítimas ter saído com vida mesmo esmagada dentro de um carro no meio de dois caminhões(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
Novo desastre chamou a aten��o pelo fato de uma das v�timas ter sa�do com vida mesmo esmagada dentro de um carro no meio de dois caminh�es (foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
At� quando o Anel Rodovi�rio de Belo Horizonte ser� palco de acidentes, como o da manh� de ontem, no Bairro Bet�nia (Regi�o Oeste), onde uma carreta com entulho empurrou 19 ve�culos, esmagando alguns como se fossem brinquedos de papel? Por milagre ningu�m morreu. Seis pessoas se feriram, duas das quais gravemente. O desastre voltou a direcionar os holofotes sobre a morosidade do poder p�blico em revitalizar um corredor constru�do na d�cada de 1960 para impulsionar a economia do estado, ligando tr�s BRs (040, 381 e 262), mas que se tornou uma armadilha e grande dor de cabe�a para os usu�rios.


O risco de mais trag�dias persiste, pois n�o h� prazo para interven��es no Anel. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), respons�vel pela via, informou que iniciou este ano um levantamento de viabilidade t�cnica, econ�mica e ambiental (EVTEA) para indicar a solu��o para a seguran�a na BR. O estudo ainda n�o foi conclu�do. Enquanto isso, motoristas e passageiros dos cerca de 160 mil ve�culos que trafegam diariamente nos 26 quil�metros da via continuar�o com a vida em risco.

O Anel � a via mais movimentada da capital. O perigo de acidentes aumenta ainda mais por causa do intenso fluxo de carretas. Quem testemunhou o acidente de ontem custou a acreditar que n�o houve mortes. O motorista de um caminh�o abarrotado de entulhos perdeu o controle na descida do Bet�nia. Ele contou aos militares que n�o conseguiu encaixar uma marcha, o que levou o ve�culo a ganhar velocidade. A carreta atingiu 19 ve�culos que enfrentavam a tradicional reten��o do km 538.

O trecho � marcado por uma s�rie de batidas, pois, pouco depois do fim da �ngreme descida de 6 quil�metros, o que leva muitas carretas a ganhar velocidade, h� uma reta com afunilamento no n�mero das faixas de rolamento, de tr�s para duas. A redu��o ocorre por causa do pontilh�o que sustenta uma linha f�rrea. Um dos pared�es da ponte ocupa o que deveria ser a terceira faixa de rolamento.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)

Vale lembrar que o Anel foi constru�do com duas faixas de rolamento e, anos depois, a Uni�o abriu a terceira, quando o pontilh�o j� havia sido erguido. O afunilamento de pistas tamb�m ocorre nas cabeceiras dos viadutos ao longo da rodovia, locais em que as reten��es tamb�m s�o di�rias nos hor�rios de pico. Especialistas defendem maior seriedade e compet�ncia dos gestores p�blicos.

“O Anel foi projetado com duas faixas (de rolamento). Por isso, grande parte dos viadutos permanece com essa capacidade (formando reten��es). A via deveria ser uma avenida com sem�foro, velocidade mais baixa, maior acessibilidade para pedestres, comunica��o entre ambos os lados etc. Para receber o tr�fego rodovi�rio de passagem, deveria ter um Rodoanel com carater�sticas de rodovia expressa, fora da malha urbana”, defendeu Frederico Rodrigues, s�cio-diretor da Imtraff, especializada em consultoria para o tr�nsito.

Ele vai al�m: “Enquanto isso, uma auditoria de seguran�a vi�ria deveria ser feita e implementada imediatamente no Anel, seguindo os padr�es internacionais de ‘a��es x resultados’ j� consagrados para a redu��o de acidentes de tr�nsito”.

J� o consultor em assuntos urbanos Jos� Aparecido Ribeiro, que tamb�m � integrante da Comiss�o T�cnica de Transporte da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) e blogueiro do site Uai, sugere caixas de desacelera��o na descida de seis quil�metros. Trata-se de �reas com brita ou areia capazes de possibilitar a parada de ve�culos sem freios. Para que isso ocorra, contudo, � preciso desapropriar terrenos �s margens do Anel.

“Centenas de mortes poderiam ser evitadas se fossem corrigidas falhas de estreitamento de pista (12 no total), que provocam engarrafamentos onde jamais poderiam ocorrer e reconstru�das as marginais, com �reas destinadas a panes, como instala��o de ‘caixas de desacelera��o’ na descida do Bet�nia, onde dezenas de caminh�es perdem os freios constantemente”, defendeu Jos� Ribeiro.

Ele avalia que “as causas (do acidente) t�m pouca relev�ncia na complexidade do fen�meno, sobretudo se a culpa for de falha humana. Desvend�-las n�o solucionam o problema. Contra falhas humanas, boa engenharia e vias seguras, com recursos capazes de livrar os bons dos maus motoristas. O fato � que o Anel virou um imbr�glio aparentemente sem solu��o”, defende.

Ver galeria . 31 Fotos Acidente envolveu nove veículos e uma pessoa ficou presa às ferragens. Não há registro de mortos Jair Amaral: EM/DA Press
Acidente envolveu nove ve�culos e uma pessoa ficou presa �s ferragens. N�o h� registro de mortos (foto: Jair Amaral: EM/DA Press )

'PARECIA UM TSUNAMI'

As m�os de Deus salvaram Thiago Hil�rio, de 35 anos, acreditam muitos que viram seu resgate ontem. Ele ficou preso num carro esmagado pela carreta que perdeu o freio no Anel Rodovi�rio, na manh� de ontem, no acidente que pode ser debitado na morosidade do poder p�blico em revitalizar a via. O Corpo de Bombeiros levou cerca de uma hora para retir�-lo das ferragens. “Foi um milagre. Tivemos que abrir espa�o dentro do ve�culo. O rapaz estava consciente. Aparentemente, n�o tinha nenhuma les�o que pudesse ser mais s�ria”, disse o tenente Tiago Costa.

O desastre causou p�nico, agita��o e desespero. “Nasci de novo e, depois dessa, n�o passo mais no Anel Rodovi�rio”, garantiu a estudante Rebeca Praxedes, de 31. Atordoada, ela contou que ouviu um estrondo e olhou para retrovisor: “Consegui desviar (o carro) um pouco para a esquerda. Vi todo mundo passando e, gra�as a Deus, o meu ve�culo foi o que menos estragou. Sa� correndo e n�o quis nem olhar”.

A estudante, que mora no Buritis, bairro vizinho ao local do acidente, telefonou para o pai, o militar Paulo, de 57. Quando viu o tamanho do estrago, o homem agradeceu a Deus pela vida da filha: “� um al�vio ver que ela est� bem”. As v�timas foram atendidas pelo Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) e equipes da Via-040, concession�ria de um trecho do Anel.

“Parecia um tsunami vindo por tr�s. Vi aquela fuma�a levantando e, naquele momento, sa� para a marginal. A� o caminh�o bateu e, gra�as a Deus, a gente teve esse livramento. Jesus jogou a gente pra c�”, acredita F�bio Augusto da Costa, de 33, que dirigia um Corolla com mais tr�s pessoas. O carro dele foi jogado para a marginal com a batida.

Relatos como o do tenente que salvou Thiago, o de Rebeca e o de F�bio mostram o drama de quem esteve ontem na mira do caminh�o desgovernado. O motorista do caminh�o que causou a batida, que n�o teve a identidade divulgada, precisou ser retirado do local, pois algumas pessoas queriam linch�-lo.

O supervisor de hidr�ulica Ivan�sio Ara�jo, de 53, percebeu o motorista do caminh�o, atormentado, tentando deixar o local. “Cobrei mais responsabilidade, porque um ve�culo desse n�o pode descer em alta velocidade. Eu e meu sobrinho sobrevivemos por milagre”, afirmou o dono de uma Saveiro que ficou completamente destru�da.

A batida ocorreu por volta das 8h15 e, segundo o tenente Pedro Barreiros, da Pol�cia Militar Rodovi�ria (PMRv), o motorista do caminh�o alegou que transitava com a segunda marcha engrenada e um alto giro do motor. “Quando ele foi passar a terceira, (a marcha) n�o encaixou e o ve�culo pesado ficou em ponto morto. Ent�o, o freio acabou n�o dando conta de segurar, conforme a vers�o passada pelo motorista”, disse o comandante do policiamento do Anel Rodovi�rio.

� comum filas de carros no local por causa do afunilamento de pistas. “Temos um trecho de estrangulamento, de tr�s para duas faixas, e isso causa congestionamento. Conseguimos controlar os acidentes do Bet�nia, que atualmente s�o poucos. Mas, quando acontecem com ve�culos pesados, normalmente s�o graves”, diz o tenente.

O tr�nsito teve que ser fechado at� �s 10h20 nos dois sentidos para atendimento, o que provocou uma longa fila no Anel.

A estudante de engenharia Rebeca Praxedes ficou muito assustada com a batida quando viu o caminhão atingir um carro ao lado do seu. Seu pai, Paulo Praxedes, correu para o local e ficou aliviado ao saber que estava tudo bem com a filha(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
A estudante de engenharia Rebeca Praxedes ficou muito assustada com a batida quando viu o caminh�o atingir um carro ao lado do seu. Seu pai, Paulo Praxedes, correu para o local e ficou aliviado ao saber que estava tudo bem com a filha (foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)


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