
Segundo Cristiane, o m�dico se aproveitava da sua condi��o profissional e da posi��o ginecol�gica em que as pacientes ficam durante os exames para cometer os abusos. “Ele fazia exames de toque sem usar luvas, acariciava a regi�o genital das mulheres e apalpava os seios de forma desnecess�ria ao examin�-las. Algumas mulheres ficam na d�vida se ocorreu o abuso ou n�o por se tratar de um exame �ntimo, mas se h� a suspeita, tem que denunciar”, disse a delegada.
Em Betim, o ginecologista atendia desde 2015 no posto de sa�de do Bairro Alvorada e num hospital particular. Antes, havia trabalhado nas unidades dos bairros Bueno Franco e Nossa Senhora de F�tima. Na cidade, a primeira v�tima registrou ocorr�ncia em 2015. Ela estava gr�vida e fazia pr�-natal no posto. O caso n�o foi apurado, pois a v�tima n�o compareceu � Delegacia de Mulheres para prestar depoimento. Em junho do ano passado, outra mulher reacendeu a quest�o, acusando Saulo Andrade de abuso dentro do Hospital da Unimed.
“Ela estava em posi��o ginecol�gica para um exame preventivo de papanicolau. De repente, viu o m�dico se afastando com as cal�as abaixadas e o p�nis para fora. Ela se assustou, perguntando o que aquilo significava, e ele respondeu para ela se acalmar, que n�o tinha doen�as. Como estava com as pernas cobertas pelo pano, ela n�o viu que houve uma conjun��o carnal sem ela esperar”, conta a delegada. “A paciente deixou o local transtornada e veio � delegacia dois dias depois. Foi feito exame de corpo de delito, mas acusou apenas que ela teve rela��o sexual, sem viol�ncia. � o �nico caso em que houve penetra��o”, acrescenta Cristiane. Na ocasi�o, o m�dico foi afastado do hospital.
Diante desse fato, a delegada retomou as investiga��es anteriores e convocou as v�timas. Ouviu ainda o suspeito e funcion�rios que trabalhavam com ele em Betim. “Nos postos, os colegas confirmaram que havia muitas reclama��es, mas eram todas informais, mulheres que sa�am da consulta e iam � recep��o, por exemplo. Mas, no Alvorada, a dire��o determinou, diante de tantas reclama��es, que ele atendesse somente se acompanhado de uma t�cnica de enfermagem”, afirma. Em depoimento, o ginecologista negou as acusa��es e afirmou se tratar de procedimentos ginecol�gicos comuns. Disse ainda que as mulheres “se confundiram”.

PROCESSO Saulo Andrade de Oliveira foi indiciado pela Pol�cia Civil e denunciado pelo Minist�rio P�blico por viola��o sexual mediante fraude – quando o suspeito usa de seu of�cio para praticar atos libidinosos ou conjun��o carnal sem uso de viol�ncia ou amea�a. A pena para esse tipo de crime � de dois a seis anos de pris�o. Pedido em dezembro do ano passado, o mandado de pris�o contra o suspeito s� foi expedido no fim de mar�o. Chegou � delegacia no �ltimo dia 7 e foi cumprido ontem, depois de v�rias tentativas da pol�cia de prend�-lo.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Unimed informou que desde junho de 2016 o m�dico n�o atendia clientes da cooperativa. Em janeiro de 2017, ele deixou definitivamente de fazer parte do quadro de cooperados.
A Prefeitura de Betim informou, tamb�m por meio de nota, que h� um processo administrativo disciplinar aberto contra o m�dico, em fase de sindic�ncia, desde 2014. “Na �poca, a prefeitura n�o possu�a �rg�o espec�fico para a apura��o de infra��es disciplinares. A atual gest�o criou, em janeiro de 2017, a Secretaria Adjunta de Corregedoria para agilizar a apura��o e avalia��o de casos e den�ncias da administra��o municipal”, diz o texto. A nota acrescenta que devido � den�ncia registrada no processo, Saulo Andrade atendia com a presen�a de uma t�cnica de enfermagem, por recomenda��o que consta no processo. “Diante da atividade do m�dico, pelos fatos relatados, quando o processo for encerrado, caso se comprove as den�ncias, o mesmo n�o vai retornar ao cargo, sendo demitido do servi�o p�blico”, concluiu a nota.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) n�o informou se h� den�ncias contra o m�dico, pois os processos tramitam em sigilo. A 1ª secret�ria do CRM, Cl�udia Navarro, explicou que, assim que a entidade toma conhecimento de fatos como o do ginecologista, abre sindic�ncia. Havendo qualquer ind�cio de infra��o �tica, � aberto processo, seguido da fase de instru��o e julgamento. O profissional pode ser absolvido ou apenado. As san��es v�o de advert�ncia confidencial (s� o m�dico fica sabendo) at� a cassa��o. Ela acrescentou que n�o h� um prazo determinado, pois depende da instru��o do processo, do n�mero de testemunhas que precisar�o ser ouvidas e de documentos a serem avaliados.
Cl�udia orienta que, em caso de d�vidas sobre a conduta m�dica, o paciente denuncie. As den�ncias n�o podem ser an�nimas e devem ser feitas pessoalmente, por escrito, ou por meio de of�cio enviado pelos Correios. “Orientamos at� os pr�prios m�dicos para que atendam sempre em companhia de uma assistente e, no caso de ginecologia, se a paciente puder, ir acompanhada. Na d�vida, denuncie, que o CRM vai investigar.”
A Pol�cia Civil informou que n�o h� procedimento instaurado em nome do ginecologista em Nova Lima. As v�timas podem ter feito boletim de ocorr�ncia, mas n�o ter dado continuidade ao procedimento. Em Belo Horizonte, a Delegacia de Mulheres n�o conseguiu verificar ontem como est� o caso.
