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Estado de Minas

Documentos comprovam ajuste na mira de m�sseis americanos a partir de dados colhidos em Minas

Registros in�ditos descobertos nos EUA por pesquisador brasileiro revelam comunica��o dos militares para modifica��o nas armas que hoje s�o usadas contra a S�ria


postado em 15/05/2017 06:00 / atualizado em 15/05/2017 10:55

O marco do local onde os americanos acamparam em Bocaiuva para acompanhar o eclipse do Sol nos dias de hoje(foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
O marco do local onde os americanos acamparam em Bocaiuva para acompanhar o eclipse do Sol nos dias de hoje (foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
Bocaiuva – Respons�vel por resgatar no acervo do Arquivo Nacional dos Estados Unidos documentos in�ditos que comprovam o interesse militar na miss�o de observa��o do eclipse solar em Bocaiuva, Norte de Minas, em 1947, o professor Her�clio Tavares, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, enfatiza que a inten��o dos americanos era “usar os dados das medi��es do fen�meno para o aperfei�oamento do sistema de mira dos m�sseis intercontinentais, que estavam sendo desenvolvidos no per�odo”. Isso � demonstrado em of�cio datado de 1º de abril de 1947, endere�ado ao chefe da Se��o de Engenharia do Ex�rcito dos EUA pelo coronel das For�as Armadas norte-americanas William M. Garland.

“Sua aten��o � requerida ao documento anexo, datado de outubro de 1944, sobre o assunto ‘Trabalho geoastron�mico durante o eclipse solar em 9 de julho de 1945’, e carta deste quartel-general datada de 15 de janeiro de 1945, com o tema ‘Navega��o de M�sseis Guiados de Longa Dist�ncia’”, anuncia o documento.


Prossegue o of�cio: “Tendo em vista o presente interesse militar em uma informa��o geogr�fica mundial do ponto de vista do uso de m�sseis guiados, � sugerido que um projeto em parceria com a Engenharia de For�a A�rea seja estabelecido para investigar as possibilidades de um trabalho geoastron�mico intercontinental durante os eclipses solares, e para obter tantos dados quanto poss�veis durante o eclipse solar de 20 de maio de 1947”. Para o professor UFRJ, a correspond�ncia revela um fato importante: “Desde antes da ocorr�ncia do eclipse total do Sol de 1947, vis�vel no Brasil, o Ex�rcito dos EUA j� vislumbrava usar os dados de uma observa��o espec�fica para o aperfei�oamento de m�sseis intercontinentais”.

O mesmo marco de observação do eclipse, porém, em 1947(foto: José Medeiros/Arquivo O Cruzeiro/EM)
O mesmo marco de observa��o do eclipse, por�m, em 1947 (foto: Jos� Medeiros/Arquivo O Cruzeiro/EM)


Outra comprova��o nesse sentido vem de of�cio datado de 15 de abril de 1947, direcionado pelo quartel-general das For�as A�reas do Ex�rcito Americano a um oficial do “Comando de Material A�reo”, tendo como assunto “Trabalho geoastron�mico durante o eclipse solar”. Nele, fica evidente o interesse militar nos estudos de Bocaiuva: “� desejado que voc� se engaje como representante da For�a A�rea em um projeto conjunto com a equipe de engenheiros, para investigar as possibilidades de um trabalho geoastron�mico intercontinental durante os eclipses solares e para obter tantas informa��es quanto poss�vel durante o eclipse solar de 20 de maio de 1947”.

Em outro of�cio ao seu comando em Washington, de 18 de julho de 1947, a administra��o da For�a A�rea faz feita refer�ncia � sua participa��o nos estudos sobre a “medi��o das dist�ncias das trajet�rias continentais” em eclipse previsto para 1948, citando a import�ncia desses para o “projeto de m�sseis guiados”. “Os documentos demonstram que os usos que os governos dos EUA podiam dar � ci�ncia estavam estritamente ligados a seus interesses militares. Isso n�o quer dizer que a ci�ncia seja ‘ruim’, mas sim que os usos que podemos dar ao conhecimento da natureza s�o hist�ricos e variam de acordo com as circunst�ncias em que os envolvidos est�o inseridos”, avalia.

Bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos tremularam em campo de aviação de Bocaiuva em 1947(foto: José Medeiros/Arquivo O Cruzeiro/EM)
Bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos tremularam em campo de avia��o de Bocaiuva em 1947 (foto: Jos� Medeiros/Arquivo O Cruzeiro/EM)

Novos jogos de guerra

O professor salienta que “a ideia principal dos EUA naquele momento era reformular a estrat�gia de guerra, em que a necessidade de estar no territ�rio inimigo podia ser revista”. “Atacar um alvo situado em outro continente por m�sseis bal�sticos intercontinentais n�o gera baixas nem exige grandes opera��es para o pa�s que faz o ataque”, observa.

O especialista faz uma compara��o entre a estrat�gias americana na segunda metade dos anos 1940 e a conjuntura atual. “O que est� ocorrendo hoje entre a Coreia do Norte e os EUA toca exatamente essa quest�o. Os Estados Unidos t�m tecnologia para bombardear qualquer regi�o do mundo com m�sseis intercontinentais. N�o se sabe se a Coreia do Norte det�m a tecnologia para fazer o mesmo contra os EUA. Ent�o, o pa�s asi�tico diz que det�m, sim, essa tecnologia, ao mesmo tempo em que amea�a aliados dos EUA geograficamente pr�ximos, como o Jap�o, a Coreia do Sul, que pode atingir com seus m�sseis sem problemas”, comenta.

Segredos  e armas

A for�a-tarefa norte-americana que desembarcou em Bocaiuva contava com militares de alta patente das For�as Armadas, projetos de experimentos secretos e cientistas que tinham no curr�culo o desenvolvimento de armas de destrui��o em massa. “� evidente que expedi��o da National Geographic Society (NGS) e do National Bureau of Standards (NBS) para a observa��o daquele eclipse  foi bem diferente n�o s� das anteriores, mas tamb�m das organizadas por observat�rios e outras institui��es de pesquisa na mesma ocasi�o”, disse Tavares, em artigo.

Ele ressalta ainda que os norte-americanos tentavam sair na frente dos finlandeses, que na d�cada de 1940 faziam pesquisas sobre as medi��es de dist�ncias intercontinentais. O plano deu certo.“A sondagem foi um sucesso e os cientistas dos EUA se aproximaram dos colegas finlandeses. Contudo, antes de estes publicarem seus resultados, os americanos organizaram uma expedi��o com sete bases astron�micas para a realiza��o da mesma observa��o durante o eclipse anular do Sol que se seguiu, em 9 de maio 1948, vis�vel no Sudeste Asi�tico”, relata o pesquisador.


O dia em que o sol apagou

De repente, uma grande sombra engoliu totalmente a luz do sol. Galinhas correram para os poleiros. Parecia que j� estava anoitecendo, embora os rel�gios marcassem 9h34 da manh� de 20 de maio de 1947. Tanto quanto a invas�o da cidade por estrangeiros e sua parafern�lia cient�fico-militar, o eclipse total do Sol de 70 anos atr�s ficou guardado nas recorda��es de antigos moradores de Bocaiuva. Enquanto uns se fascinavam, outros se dividiam entre o desespero ante o que acreditavam ser o fim dos tempos e a desconfian�a em rela��o �quela gente de fala embolada, sob cujas ordens pouco tempo antes haviam sido arrasadas por bombas at�micas as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

“Foi impressionante. Eu me lembro das pessoas mais velhas rezando sem parar. Era manh� e, de repente, tudo escureceu. Lembro dos animais atordoados. As galinhas correrem para os poleiros. Os galos cantavam”, descreve o advogado e ex-vereador Jos� Roque da Silva, de 77 anos, ao falar sobre o que aconteceu em Bocaiuva naquele 20 de maio, h� sete d�cadas, quando ele tinha 7 anos. “Eu sempre fui precoce e j� entendia tudo”, ressalta.

José Roque se lembra das orientações dos cientistas para o grande dia(foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
Jos� Roque se lembra das orienta��es dos cientistas para o grande dia (foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
Jos� Roque conta que, na v�spera do “grande acontecimento solar”, um avi�o da For�a A�rea Americana sobrevoou a cidade e as localidades rurais da regi�o, lan�ando panfletos que orientavam a popula��o a evitar a observa��o do Sol a olho nu, sobretudo, nos 3 minutos e 48 segundos do eclipse. “Al�m disso, solicitava para as pessoas n�o se deslocassem para perto do local onde se encontravam os aparelhos astron�micos e b�licos, instalados na comunidade rural da Extrema”, revela o advogado, recordando que tamb�m n�o houve aulas nas escolas da cidade na v�spera e no dia do fen�meno.

Naquela ocasi�o, afirma, Bocaiuva n�o contava nem sequer com �gua encanada ou rede de esgoto nas ruas de terra. A energia el�trica, gerada por motor a diesel, era fornecida pela prefeitura somente das 18h �s 20h. Na cidade havia apenas duas geladeiras, � base de querosene. A “frota” de tr�s Ford Bigode,  ano 1930, pertencia a um m�dico, um fazendeiro e um rico comerciante. Os principais meios de transporte eram carro�a e carro de boi.  Os americanos chegaram a bordo de jipes e caminh�es possantes.

A t�cnica de enfermagem aposentada Julia Nery Santana, de 82, revela que, por ocasi�o dos estudos do eclipse total do sol, como outros conterr�neos, viu pela primeira vez na vida “um avi�o de pertinho”, no campo de pouso constru�do pelos americanos. Dona Julia se recorda que naquele dia estranho, ainda pela manh�, o pai dela, Joaquim Santana Nery, que era ferrovi�rio, voltou do servi�o, “quando come�ou a escurecer”.

Juca Brandão recorda o barulho ensurdecedor dos aviões B 29(foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
Juca Brand�o recorda o barulho ensurdecedor dos avi�es B 29 (foto: Solon Queiroz/Esp. EM/D.A PRESS)
Tamb�m morador de Bocaiuva, o escritor e advogado Jos� Henrique Brand�o, o Juca Brand�o, do alto de suas mais de sete d�cadas de vida, diz que semanas antes do eclipse os americanos fizeram v�rias reuni�es com lideran�as da cidade, com objetivo de esclarecer que a escurid�o duraria apenas alguns minutos e que nada a mais ocorreria. “O objetivo deles era evitar o p�nico entre as pessoas”, lembra. Brand�o conta que no dia do fen�meno, os avi�es B 29 – as fortalezas voadoras – da expedi��o sobrevoaram Bocaiuva para fazer fotos e estudos, provocando um barulho ensurdecedor.

O poeta e compositor T�o Azevedo, de 74, morava no distrito de Alto Belo distrito na ocasi�o. “Na hora do eclipse, quando viram escurecer, v�rias mulheres come�aram a rezar e ficaram chorando, pensando que o mundo iria acabar”, descreve T�o Azevedo. O mundo n�o acabou. Ap�s o eclipse, a vida dos moradores de Bocaiuva voltou ao normal, mas com uma diferen�a: uma grande hist�ria para contar. E n�o muito mais.

Enquanto isso...
…Chicletes chegam com os estrangeiros


O psic�logo Roberto Ribeiro de Andrade, de 75, conta que, al�m dos avi�es, jipes e equipamentos, os americanos levaram outras novidades para as crian�as de Bocaiuva 70 anos atr�s. Uma delas foi goma de mascar, o popular “chicletes”, at� ent�o desconhecido das bocas da meninada. Na mesma ocasi�o, os bocaiuvenses conheceram chocolate em barra e bal�es de ar (“bexigas”) trazidos pelos visitantes estrangeiros, conta o morador, ele mesmo com uma hist�ria de fam�lia ligada ao eclipse: seu pai, Louren�o Bispo de Andrade, era construtor e fez o “Marco do Eclipse”, em concreto, na comunidade rural de Extrema na �poca das observa��es no local.


 


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