O clima era de expectativa para ver a entrada triunfal da menina, que chegou � sala numa cadeira de rodas e depois se levantou para receber o abra�o dos pais S�rgio Alexandre Nunes da Silva, barbeiro e cabeleireiro, e Shirlene Soares da Cunha Silva, cabeleireira, residentes em Contagem, na Grande BH. A fim de garantir o sucesso da festa surpresa para a menina, que cativou a equipe m�dica pela simpatia, os funcion�rios conseguiram doa��o de lojas, sem deixar de lado o carinho em forma de bal�es azuis e brancos, mesa com salgadinhos e painel com a carruagem e desenho de Cinderela. “Minha filha completa 15 anos, mas ainda � muito menina. Gosta demais dos desenhos da Disney”, contou a m�e.
Antes da comemora��o, S�rgio Alexandre disse que a doen�a se manifestou em abril de 2014, quando Brenda perdeu a vis�o direita. Depois foi a vez da esquerda, mas com recupera��o dos dois olhos. Na sequ�ncia, vieram surtos diferentes, at� ser acometida a face e paralisa��o do lado direito. Um dos momentos mais emocionantes da tarde foi quando o pai colocou no dedo da filha um anel. “Estou melhorando. Jesus aben�oe a vida de todos voc�s. Estou fazendo o tratamento e vai dar certo”, disse a menina, levantado a m�o e fazendo uma pequena mesura antes de dan�ar com o pai.

ANEL DO SONHO A festa no d�cimo andar do pr�dio, na regi�o hospitalar de BH, foi mantida no maior sigilo e, ao ser “produzida” pela maquiadora profissional L�via Souza, as enfermeiras despistaram, dizendo que ela apareceria num v�deo da Santa Casa – mal sabendo ela que, ao entrar no ambiente, veria um monte de m�quinas fotogr�ficas e celulares apontados na sua dire��o. Feliz da vida, embora emocionado, S�rgio Alexandre recordou que, quando a menina completou 9 anos, manifestou o desejo de ganhar um anel aos 15. Ele adiantou que haver� uma festa no dia 27, em Contagem, para tornar real o maior desejo da debutante Brenda, que tem um irm�o de 16, Mateus, presente � festa com a fam�lia. A comemora��o do anivers�rio da menina, conforme a assessoria de comunica��o, faz parte da “humaniza��o no atendimento” da Santa Casa.
S�rgio, que tamb�m � bispo da Igreja Batista e tem uma banda de m�sica gospel, da qual Brenda � vocalista, explicou que atualmente mora na casa de amigos, na capital, para acompanhar de perto o tratamento da filha: “Temos muita f� em Deus. Ela n�o se queixa, n�o reclama de nada, nem teve depress�o. Seu maior desejo � ser jornalista”. Diante da crise que assola a Santa Casa, carente de recursos e obrigada a fechar 450 leitos, o pai explicou que fica com o cora��o apertado. E perguntou: Se perdermos uma institui��o dessas, como vamos fazer?” A m�e lembrou que a fam�lia n�o teria condi��es de arcar com o tratamento, pois cinco dias ficaram em R$ 25 mil.
Segundo o m�dico intensivista e coordenador do CTI, Cl�udio Dornas, a neuromielite �ptica � realmente uma doen�a rara, embora j� tenha havido casos na Santa Casa, que tem leito espec�fico para a doen�a. Explicou que pode haver um caso em cada 100 mil pessoas no mundo, embora esse n�mero n�o seja exato. Ele disse que as causas s�o desconhecidas, mas pode surgir no in�cio da juventude. “Se n�o houver rapidez no tratamento, pode haver sequelas”, disse.
Institui��o pede socorro
Um abra�o, um grito de socorro e muita uni�o. Cerca de 5 mil pessoas, entre funcion�rios, volunt�rios, parentes de pacientes, parceiros de casas de acolhida e parlamentares participaram, no in�cio da tarde de ontem, de uma manifesta��o em frente � Santa Casa de Belo Horizonte, na regi�o hospitalar. Como objetivo, alertar autoridades federais, estaduais e municipais para a situa��o da institui��o fundada h� 118 e que vive momento cr�tico em sua hist�ria: j� fechados 450 leitos ou 40% do total dispon�vel.
“Estamos com um d�ficit mensal de R$ 4 milh�es no caixa e s� o governo de Minas nos deve R$ 23 milh�es. N�o temos mais como atender nenhum paciente que chegar aqui, o que seria um crime. Estamos chamando a aten��o de todos os que dizem que a sa�de � prioridade no Brasil”, disse o provedor da Santa Casa, Saulo Coelho. Para ele, o quadro se apresenta “insustent�vel e constrangedor”, pois h� 10 anos n�o h� corre��o na tabela dos recursos repassados pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS). Est� defasado, estamos sem os repasses do Fundo Municipal de Sa�de. “Os m�dicos recebem R$ 10 por consulta e temos que complementar R$ 18”, explicou Saulo, que est� h� 17 anos no cargo e v� o hospital “agonizando”.
No s�timo andar do pr�dio da regi�o hospitalar, os leitos estavam vazios. A exce��o era a t�cnica em enfermagem La�s Gomes da Silva, de 27, residente em Betim, na Grande BH, que est� gr�vida das g�meas Ana Lu�za e Sofia Vit�ria. “Estou com gravidez de alto risco, com o colo do �tero dilatado. Esta � a segunda vez que estou internada aqui, mas, agora, muito triste, ainda mais por ser o m�s das m�es. Antes, havia muitas mulheres, faz�amos amizade. Fico chateada. Isso d�i bastante”, disse La�s, que est� com 31 semanas e tr�s dias de gesta��o.
ABRA�O SIMB�LICO Eram 14h30, quando a multid�o de branco desceu a Avenida Francisco Salles at� a esquina com a Rua �lvares Maciel. Dali em diante, seguindo pela Rua Piau�, formou-se um imenso cord�o, com cartazes, bal�es, cora��es no peito e frase alusiva ao momento de dificuldades: “Sa�de em primeiro lugar”. No in�cio da manifesta��o, da Avenida Brasil � Rua Cear�, o tr�nsito foi interrompido e s� voltou ao normal com a chegada da BHTrans. O ato teve participa��o do Conselho Municipal de Sa�de.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), via Secretaria Municipal de Sa�de (SMSA) informou que repassa para a Santa Casa, 24 horas ap�s receber do Minist�rio da Sa�de, recursos oriundos do Fundo Nacional de Sa�de para o pagamento da produ��o feita pelo hospital, n�o havendo atraso por parte da PBH: “Os pagamentos est�o em dia”. E mais: “O Minist�rio da Sa�de (MS) fez uma corre��o de 163% em alguns programas como Samu e Estrat�gia Sa�de da Fam�lia (ESF). Entretanto, este recurso n�o foi destinado, pelo MS para custeio de qualquer tipo de pagamento para os hospitais. O recurso j� vem com destina��o espec�fica determinada pelo MS. Portanto n�o � poss�vel, nem permitido que a SMSA remeta recursos adicionais para a Santa Casa neste sentido”. Finalmente, a PBH esclarece que “o problema da Santa Casa n�o � diferente de outros hospitais p�blicos do pa�s, que tamb�m t�m dificuldade com financiamento do SUS. E n�o cabe � SMSA fazer reajustes de tabela de hospitais. Isso � atribui��o do Minist�rio da Sa�de”.
J� a Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES) informou que, em 2016, o estado transferiu para a Santa Casa mais de R$ 11,3 milh�es ao hospital referentes ao Pro-Hosp. Em 2017, a SES vai transferir mais R$ 3.832.627,99 referentes � parcela do primeiro quadrimestre de 2017, podendo haver descontos conforme cumprimento de metas pela institui��o de sa�de. Portanto, n�o h� atrasos em repasses para esse programa.
E mais: “Referente � Rede Cegonha, o valor mensal do incentivo � R$ 169.725,00. Est�o pendentes as parcelas dos meses de novembro e dezembro de 2016, e janeiro e fevereiro deste ano”. Em rela��o ao Programa de Triagem Auditiva Neonatal, o pagamento � feito por produ��o, e a meta mensal da Santa Casa � de R$10.398,30, sendo a anual de R$ 124.779,60. Est�o pendentes os pagamentos referentes aos meses de setembro (R$12.730,04), outubro (R$9.326,96), novembro (R$10.132,71) e dezembro (R$14.791,70).
