
“� aterrorizante, porque a gente n�o acredita como algu�m acha que voc� � gay, vem para cima e te ataca agressiva e fisicamente”, relata o ator Gerson Marques, de 23 anos, um heterossexual que sentiu na pele o que at� ent�o estava retratando apenas na fic��o. O futebol era sagrado �s quartas-feiras e, at� anteontem, nenhuma brincadeira de cunho preconceituoso jamais havia sido feita.
Gerson acredita que o agressor tenha visto numa rede social postagens sobre a pe�a Certos rapazes – o nosso amor a gente inventa, v�deos de entrevistas e depoimentos sobre o personagem Pedro Henrique. A pe�a, que tem ainda o ator Guilherme Neves, que d� vida a um outro Guilherme, conta a hist�ria de dois rapazes de vidas completamente diferentes, que se conhecem num aplicativo e t�m um relacionamento. “Cheguei e essa pessoa come�ou a me chamar de veado, bicha. Ignorei e continuei jogando bola. Ele estava l� para me provocar. Na cabe�a dele, acha que sou gay. Durante o jogo, percebi que ele estava me marcando demais, com voadoras, empurr�es, cotoveladas e fui me defendendo disso”, conta.
Ao receber uma voadora nas costas, que ainda lhe deixa o corpo dolorido, Gerson parou o lance. “Perguntei qual o problema dele com veado, se era homof�bico, se era machista, trazendo a discuss�o sobre o que ele estava falando, que era grave e imoral. Ele se sentiu ofendido por eu cham�-lo de homof�bico e machista. Come�ou a insinuar que eu estava encostando e relando nele, usando o futebol para me aproveitar”, acrescenta.Depois de p�r em evid�ncia a gravidade da situa��o, o ator preferiu continuar o di�logo, mas o homem come�ou as agress�es f�sicas, lhe dando socos e chutes. A a��o durou cerca de 15 minutos. “Ningu�m se importou com a atitude dele nem separou. Estavam achando gra�a. Fui s� me defendendo, pois n�o queria brigar com ele”, afirma. Ao conseguir se desvencilhar do rapaz, Gerson foi embora discretamente, aproveitando que o futebol havia sido retomado pela turma. “Todo mundo estava conivente e sabia que ele estava me provocando, esperando apenas que eu revidasse para ir tamb�m para cima de mim. Sabia que estava em desvantagem. Eu consegui refletir sobre o que poderia ocorrer naquele momento e depois”, diz.
Segundo a v�tima, o fato deu ainda mais for�a para seguir com a pe�a. “Quando fazemos o espet�culo, trazemos o m�ximo de verdade. Apesar de fic��o, as pessoas se identificam, pois � o que a sociedade vive, o amor, a cumplicidade, os pesares, todos os preconceitos e opress�es, homofobia e racismo. A pe�a � uma mensagem de amor, de cumplicidade, de que toda forma de amor vale a pena.”
O ator diz que a agress�o leva a uma reflex�o sobre a situa��o de milhares de pessoas no pa�s. Dados divulgados no in�cio do ano pelo Grupo Gay da Bahia mostram que o ano de 2016 foi o mais violento desde 1970 contra pessoas LGBTs: foram registradas 343 mortes. Os n�meros fazem do Brasil o campe�o mundial de crimes contra as minorias sexuais. “A luta � contra o preconceito, a homofobia, tudo. Numa sociedade t�o evolu�da e avan�ada, ainda h� uma parte rasa que pensa baixo, que � muito ignorante”, diz. “Todo dia algu�m est� morrendo por causa desse preconceito. Sentir isso na pela � uma forma de se sentir encorajado a lutar ainda mais por esse movimento, que � a liberdade de ser.”
SERVI�O
Certos rapazes
o nosso amor a gente inventa
Local: Teatro Sesiminas (teatro de bolso). Rua Padre Marinho, 60, Santa Efig�nia.
Sextas e s�bados, �s 21h, e domingos, �s 19h
Ingressos: Posto do Sinparc ou pelo vaaoteatromg.com.br