Quando os primeiros socorristas do Corpo de Bombeiros atenderam o jovem, ele j� estava inconsciente e com sangramento na cabe�a. Ao chegar, um m�dico do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) constatou a morte. A c�mera de seguran�a de um im�vel na Rua Estoril, liga��o entre a Rua Boaventura e a Avenida Ant�nio Carlos, flagrou o desastre. Paulo subia a rua a p�, com a mochila nas costas, e parou na esquina com a Rua Beira Alta. Segundo a cozinheira Luiza de Marilac, de 70, o estudante esperava ali diariamente a carona do pai de um amigo, no caminho para a Escola Estadual Anita Brina Brand�o, no Bairro Jaragu�, onde as aulas foram suspensas na manh� de ontem.
As imagens mostram claramente o motorista do Gol descendo a Rua Estoril em dire��o � Ant�nio Carlos pela contram�o. A primeira infra��o cometida pelo condutor � a ultrapassagem em local proibido, j� que o trecho � sinalizado com faixa cont�nua amarela. O artigo 203 do C�digo de Tr�nsito Brasileiro (CTB) trata a conduta como falta grav�ssima, punida com a perda de sete pontos na Carteira Nacional de Habilita��o e multa de R$ 1.467,35. Al�m disso, o condutor fez a manobra em um cruzamento, conduta tipificada no artigo 202 do CTB, com puni��es id�nticas. Quando o motorista estava no cruzamento, o EcoSport sinalizou com a seta que faria a convers�o � esquerda e come�ou o movimento permitido, saindo da Rua Estoril para a Rua Beira Alta.
Choque
A m�e de Paulo foi at� o local do acidente e ficou em estado de choque. Segundo a vizinha Daniela Fernandes, de 41, o adolescente era filho �nico, muito estudioso e morava com a m�e, que � separada do pai. “Ele era uma pessoa muito boa, assim como a fam�lia. Ia para a escola de carona ou pegava �nibus. A m�e � uma pessoa �tima, trabalha como enfermeira e n�o mede esfor�os para ajudar pessoas doentes aqui no bairro”, contou.
O motorista do Gol teve les�o no maxilar e foi encaminhado para o Hospital Odilon Behrens. � PM, relatou que estava na Rua Estoril, em velocidade compat�vel com a via, quando observou o EcoSport fazer uma manobra para esquerda, o que o obrigou a pegar a contram�o de dire��o. A vers�o n�o corresponde � din�mica do acidente revelada pelas c�meras de seguran�a, que indicam claramente que o condutor ultrapassou carros e se deslocava na contram�o por v�rios metros antes da batida.
O delegado de plant�o, Fernando Andrade, ouviu D�nis e ratificou o auto de pris�o em flagrante por homic�dio culposo. A pena pelo crime � de dois a quatro anos de pris�o, e pode ser aumentada em at� a metade, devido ao fato de a v�tima ter sido atropelada sobre o passeio. O delegado afirmou que as an�lises iniciais indicaram que o motorista teve conduta imprudente. O advogado Nilmar Gon�alves Teixeira, que defende D�nis, afirmou que a fam�lia do rapaz est� solid�ria e disposta a ajudar os parentes da v�tima. “Meu cliente n�o saiu de casa para se envolver em acidente e muito menos ceifar a vida de ningu�m.” Segundo ele, o motorista seguia do Bairro Uni�o para o Bairro Ouro Preto, onde iria se encontrar com um amigo. Sobre a pris�o, o defensor afirma que vai entrar com pedido de relaxamento na Justi�a.
O estudante Hugo Rodrigues, de 21, que passava pelo local depois do desastre, disse que toda semana acontece alguma coisa no local, e que por isso a fiscaliza��o deveria ser mais presente. “� perigoso tanto para carros quanto para pedestres. Os motoristas descem em alta velocidade e o fluxo de �nibus � muito intenso”, afirma.
DESRESPEITO
Para o superintendente de Sistema Vi�rio da BHTrans, Humberto Rolo Paulino, o desrespeito � lei pode estar ligado aos costumes dos motoristas. “Ocupantes de carros t�m a cultura de pensar que o autom�vel � superior ao pedestre, aos ciclistas e at� mesmo aos motociclistas, que juntos representam de 80% a 90% dos mortos no tr�nsito”, afirmou. Segundo ele, a autarquia tem feito campanhas de conscientiza��o para evitar esse tipo de ocorr�ncias.
O soci�logo Eduardo Biavati, especialista em seguran�a no tr�nsito, destaca que nunca � poss�vel garantir fiscaliza��o em todos os lugares. “Esse caso comprova que nem toda fiscaliza��o do mundo � capaz de resolver a falta de compromisso e de preparo dos condutores que compartilham o espa�o da cidade com personagens muito mais vulner�veis”, afirma. “N�o temos condutores conscientes de que pequenos atos podem desencadear trag�dias gigantescas. Esse caso � um exemplo triste de um comportamento que a gente adota o tempo todo, quando atende ao celular, quando passa mensagem, quando bebe uma cerveja s�. Essa � a nossa cultura de sempre burlar a legisla��o”, diz.
M�o �nica esbarra em rua sem sa�da
Agentes da BHTrans ouvidos pela equipe do Estado de Minas no cruzamento das ruas Estoril e Beira Alta, no Bairro S�o Francisco, na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, onde o adolescente Paulo Augusto Dalmazio Fonseca foi atropelado e morto, afirmam que a solu��o para o perigo seria transformar a Rua Estoril em m�o �nica. Por�m, a Rua Alcoba�a, uma das op��es para o fluxo em dire��o contr�ria, n�o tem sa�da, por encontrar o C�rrego S�o Francisco, barreira natural para a continuidade da via. Segundo moradores, uma obra da Prefeitura de Belo Horizonte poderia garantir o prolongamento da rua e, com isso, possibilitar a ado��o de sentido �nico na Rua Estoril.
A advogada Concei��o Carneiro, de 63 anos, mora h� 36 na Rua Alcoba�a e defende a abertura da via. “H� muitos anos ouvimos os problemas da Rua Estoril. Por isso, precisamos de outra rua para fazer o sentido contr�rio. S�o tr�s linhas de �nibus, al�m da quantidade grande de carros. Mas � claro que a gente � a favor, desde que se respeitem as nascentes que h� aqui em frente e o c�rrego”, afirma. Por�m, segundo a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a obra de requalifica��o do C�rrego S�o Francisco n�o prev� abertura das ruas Alcoba�a e Estoril.