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Estado de Minas

Reuni�es da Pastoral da Diversidade Sexual s�o marcadas por combate ao preconceito

Apesar de opini�es divergentes, tom predominante � de abertura e respeito. A palavra que mais define o clima dos encontros � acolhimento


postado em 12/06/2017 06:00 / atualizado em 12/06/2017 08:07

A cada 15 dias, sala da igreja fica repleta de fiéis, que compartilham experiências relacionadas às diferenças na vivência da sexualidade(foto: Rúbia Costa/Divulgação)
A cada 15 dias, sala da igreja fica repleta de fi�is, que compartilham experi�ncias relacionadas �s diferen�as na viv�ncia da sexualidade (foto: R�bia Costa/Divulga��o)
A mesma B�blia que � usada por alguns para atacar os homossexuais, na Pastoral da Diversidade Sexual do Santu�rio S�o Judas Tadeu – a primeira do tipo na Arquidiocese de Belo Horizonte –, � uma das armas para defend�-los dos preconceitos. “Quando a gente olha a vida de Jesus, como ele viveu e como ele agiu, vemos que est� longe dessa trajet�ria a homofobia e coisas semelhantes”, argumenta o padre Marcus Aur�lio Mareano, em um encontro do grupo acompanhado pelo Estado de Minas. Na sequ�ncia, a m�e de uma jovem “enquadra” um senhor mais exaltado, que questionava “a que ponto vamos chegar” com a aceita��o e conviv�ncia com a homossexualidade. Todos aplaudem.

A palavra que mais define a reuni�o � acolhimento. Na sala da igreja, lotada com mais de 50 pessoas em uma noite de quarta-feira de maio, todos podem ser o que s�o e trocar experi�ncias pr�prias ou no trato com familiares, relacionadas �s diferen�as na viv�ncia da sexualidade. Durante o encontro, quem compartilhou ideias foi a advogada Aurora Ramalho, m�e da transg�nero Raphaela, que tamb�m apareceu no fim para conversar com os participantes, arrancando calorosos aplausos de quem a ouvia.

Aurora disse que teve de conviver com uma crian�a triste por 13 anos, por n�o haver espa�o para que ela assumisse seu g�nero. Antes mesmo da chegada da menina que nasceu em corpo de menino, a m�e j� enfrentava dificuldade para fazer o batismo por ser m�e solteira. No relato, disse ter sido uma alegria o dia em que a filha falou sobre o assunto, para poder finalmente ajud�-la. “Depois que a Rapha descobriu quem era, n�o para uma maquiagem e uma bijuteria nas minhas coisas, � tudo nosso”, brincou.

O tom da conversa � de total abertura. N�o h� assuntos proibidos, e todos s�o sempre permeados pela �tica da religi�o. “Deus n�o disse para a gente que voc� tem que amar o pr�ximo ‘desde que’...”, destacou Aurora. Raphaela tamb�m exp�s um pouco do sofrimento e do bullying que viveu na inf�ncia, al�m de levantar uma quest�o dos dias atuais: a transfobia. De acordo com ela, o preconceito contra os que mudam de g�nero parte at� mesmo dos pr�prios homossexuais.

O psiquiatra e psicanalista Jos� Del Faro Filho, que tamb�m fez palestra sobre as caracter�sticas da sexualidade humana, disse que a homofobia e a transfobia s�o fruto do machismo e da avers�o ao feminino. “O homem sublima e massacra o que � feminino, porque a primeira identidade dele � feminina”, explica, abordando teorias da psican�lise.

CONVIV�NCIA
Em meio � explana��o, um homem sentado � direita aproveita a presen�a do profissional e, dizendo ser a quest�o de um terceiro, perguntou como ajudar os pais a aceitar os filhos gays: “Eu aprendi a conviver com isso, mas quando � na sua casa, voc� se v� totalmente sem ch�o”. O m�dico responde que a primeira coisa a fazer � deixar claro o amor pelo filho. “N�o sei se � voc�, ou seja quem for, diga ao filho que, quando se sentir preparado para falar, vai encontrar uma pessoa que o acolha. Aceitar � com o tempo”, resumiu.

Em tempos de redes sociais em alta, a reuni�o do dia 24 de maio foi transmitida ao vivo pelo Instagram da par�quia. E veio de l� uma das perguntas: “Como ajudar aqueles pais que dizem que ser gay � coisa do dem�nio?”. De novo quem respondeu foi o psiquiatra. “Diga a esse pai que � coisa de Deus ter direito ao amor e � liberdade. Dem�nio � o mal que fazemos ao pr�ximo quando somos preconceituosos”, disse.

Encorajado pela pergunta que veio de fora, outro presente citou trechos b�blicos segundo os quais as rela��es entre pessoas do mesmo sexo seriam “paix�es vergonhosas” e motivo de “torpeza”. Ouviu dos padres que, se lida de forma errada, a B�blia manda at� matar. “A gente tem que ter esse senso”, disse o padre Aureo Nogueira de Freitas, reitor do santu�rio.

Para Marcus Aurélio Mareano, vigário paroquial e assessor da Pastoral da Diversidade Sexual, aos poucos, as pessoas vão se abrindo e combatendo o preconceito pelo conhecimento(foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS)
Para Marcus Aur�lio Mareano, vig�rio paroquial e assessor da Pastoral da Diversidade Sexual, aos poucos, as pessoas v�o se abrindo e combatendo o preconceito pelo conhecimento (foto: T�lio Santos/EM/D.A PRESS)

"Dom de Deus para a humanidade"


N�o existe uma explica��o religiosa para a homossexualidade. Para o padre Marcus Aur�lio Mareano, vig�rio paroquial e assessor da Pastoral da Diversidade Sexual, trata-se de uma caracter�stica ou de um dom. “N�o � pecado. Deus quer que as pessoas sejam como ele as criou. A gente pode ver os homossexuais e transexuais como um dom de Deus para a humanidade, que enriquece nossa maneira de ser”, explica.

Para o vig�rio, que chegou ao Santu�rio S�o Judas Tadeu quase junto com a pastoral, o grupo se tornou especial “por acolher pessoas que antes n�o tinham acolhida expl�cita da Igreja”. Ele comemora o sucesso da iniciativa, que vem atraindo mais pessoas ao longo das reuni�es. “Talvez o n�mero n�o seja t�o alto ainda porque s� temos um ano, mas considero muito o fato de as pessoas que antes tinham dificuldade de se aproximar da Igreja por n�o se sentir inclu�das agora serem participantes. Elas tamb�m v�o mudando da imagem que tinham da Igreja, que antes pensavam ser fechada, retr�grada e moralizante.”

O vig�rio diz que, aos poucos, as pessoas v�o se abrindo e combatendo o preconceito pelo conhecimento. Mais do que os pr�prios homossexuais, o grupo re�ne familiares, que muitas vezes t�m dificuldade de aceitar a situa��o dentro de casa. O padre da pastoral diz que os encontros contribu�ram para sua pr�pria evolu��o pessoal, ao perceber que o amor � criativo e n�o se restringe a par�metros. “� lindo ver o amor acontecendo de maneira surpreendente, e a riqueza da conviv�ncia com o diferente. Tamb�m aprendemos com a transforma��o das pessoas quando s�o acolhidas.”

Questionado sobre um assunto ainda pol�mico na Igreja Cat�lica, o casamento gay, padre Marcus tamb�m demonstra abertura. “Na Europa j� ocorre, � comum casais fazerem cerim�nia civil e ir para a igreja para a religiosa, que n�o � o sacramento do matrim�nio, porque n�o existe ainda. N�o sei se o papa Francisco estar� vivo para ver, mas acredito que v� chegar a esse ponto”, diz.

No Brasil, o primeiro casamento homoafetivo foi celebrado em Alagoas, em janeiro de 2015, pelo bispo cat�lico dom Fernando Pugliese, da Diocese de Macei�, integrante da Igreja Cat�lica Brasileira, dissidente da Apost�lica Romana, que na ocasi�o se manifestou contra a celebra��o. Em abril de 2016, o Vaticano divulgou o documento “Alegria do amor”, no qual registrou que a Igreja n�o deve discriminar os homossexuais, mas que o casamento entre pessoas do mesmo sexo n�o est� no “desenho de Deus”.

Em Belo Horizonte, padre Marcus diz que o arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira apoia a Pastoral da Diversidade Sexual, “est� contente com o processo” e “incentiva” o Santu�rio S�o Judas Tadeu a ter coragem para continuar. O Estado de Minas n�o conseguiu ouvir o l�der religioso, que estava em um retiro com bispos de Minas Gerais e do Esp�rito Santo.

Onde ir


Quem quiser participar da Pastoral da Diversidade Sexual pode procurar a Secretaria do Santu�rio S�o Judas Tadeu. Segundo a coordenadora, Camila da Silva Santos e Souza, qualquer um pode comparecer. “A pastoral se re�ne sempre nos hor�rios divulgados na igreja e quem tiver interesse em algum acompanhamento espiritual, o padre Marcus faz essa parte”, diz. O pr�ximo encontro ser� no dia 21. A missa organizada pelo grupo ocorre no terceiro domingo de cada m�s, �s 20h. A pastoral tamb�m anuncia que prepara um retiro, com um dia inteiro dedicado a reflex�es e ora��es, em 8 de julho. O santu�rio fica no Bairro da Gra�a, na Regi�o Nordeste de BH. Os telefones da secretaria s�o (31) 2526-4648 ou (31) 2526-4164.


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