
As reuni�es para criar de fato a comunidade da diversidade dentro da S�o Judas Tadeu come�aram em agosto do ano passado, com apenas quatro pessoas. Hoje, segundo a igreja, j� s�o mais de 70 frequentares. Depois da 5ª Assembleia do Povo de Deus, que refletiu a realidade concreta das fam�lias e afirmou a perspectiva de acolhida das suas diversas configura��es, o padre Marcus prop�s a cria��o da pastoral, que foi de imediato abra�ada pelo reitor do santu�rio, padre Aureo Nogueira de Freitas. � ele quem afirma: “� hoje uma das mais vivas”.
O objetivo do grupo, segundo o padre �ureo, � acabar com qualquer preconceito dentro da Igreja. Vale lembrar que durante muito tempo as m�es solteiras e os casais de segunda uni�o tamb�m eram apontados como diferentes na Igreja Cat�lica, sendo proibidos at� mesmo de comungar. Os tempos e os costumes mudaram, e a abertura para os gays come�ou com uma entrevista do papa Francisco, em 2013, quando em um avi�o declarou: “Se uma pessoa � gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julg�-la?”. J� no ano passado, o sumo pont�fice disse que a Igreja deveria pedir perd�o aos homossexuais pela forma com que os tratou no passado. “Eles devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente”, pregou.
OPOSI��O Assim como a nova postura do papa, a Pastoral da Diversidade Sexual causou rea��es na Igreja. Chegou a constar como “den�ncia” em um site internacional cat�lico. Apesar disso, os resultados do grupo s�o sens�veis.“Tenho visto fam�lias voltando para a Igreja, se reconciliando, e para ver o fruto desse trabalho vale a pena toda cr�tica e todo desentendimento”, avalia padre Aureo.
O reitor diz que a convic��o da import�ncia de um grupo como esse veio dos 23 anos de experi�ncia como padre. “Acompanhei na confiss�o e nos atendimentos muito sofrimento por parte de fam�lias ou pessoas que s�o assim, e isso me incomoda muito, porque acho desnecess�rio o que se imp�e sobre essas pessoas. Em vez de se libertar para o amor, elas oprimem. Quantas vezes vi gente querer se suicidar por causa disso, vi pais que n�o aceitam filhos... Desconhecer essa realidade � muito desumano”, relata. Por press�o social e religiosa, segundo o reitor da igreja, muitos casais que n�o deveriam ter se casado assumiram um matrim�nio e outros tantos vivem na clandestinidade.
N�o � o caso de Isabella, que prefere n�o dizer o nome da esposa porque, ao contr�rio do que vive hoje na igreja, a parceira ainda est� sujeita ao preconceito em ambientes como o de trabalho. As duas se casaram em uma cerim�nia espiritualista em 2014, fora da Igreja. Ela chegou � pastoral a convite de uma amiga e acabou levando a m�e junto. “A pastoral trouxe um empoderamento tanto para mim, dentro da Igreja, quanto para minha m�e. Vejo que a conversa com outros pais ajuda, at� para ela contar nossa hist�ria, porque ela sabe que est� ajudando outras pessoas”, diz.
O come�o n�o foi f�cil. Nem para Isabella nem para a m�e, a aposentada Janimar Magalh�es. Aos 18 anos a filha descobriu sua prefer�ncia pelo mesmo sexo e contou para a m�e. A rela��o das duas ficou abalada. “Passei oito anos chorando sozinha todos os dias. Na �poca n�o tinha esse respaldo da igreja, o que causou muito sofrimento, porque l� tinha ainda mais medo de falar”, diz. No caminho para o entendimento, ela chegou a mandar a filha para uma psic�loga, na tentativa de ajud�-la a se compreender e amenizar o sofrimento. “N�o dava conta de encarar e minha inten��o era que o terapeuta desse esse apoio que eu n�o estava dando”, diz.
Passada a fase do preconceito, Isabella voltou a ser motivo de orgulho para a m�e. “� uma pessoa generosa, carinhosa, muito �ntegra e �tica. Se tivesse que ter outra Isabella, gostaria que fosse exatamente igual.” Janimar considera o trabalho na Pastoral da Diversidade Sexual fant�stico e inovador. “Se eu tivesse esse acolhimento na �poca, n�o teria sofrido tanto”, diz. O conflito �ntimo era tamanho, conta a m�e, que ela deixou de colocar um crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora no altar do casamento da filha, por medo de “blasfemar contra a Igreja”. Isso ocorreu tr�s anos antes de ela entrar para a pastoral da S�o Judas. “N�o sei se hoje eu teria permiss�o para colocar a imagem, mas sei que se tivesse de convidar um padre, pelo menos para assistir, tenho certeza de que ele iria e me sentiria acolhida”, comemora Janimar.
"Tenho visto fam�lias voltando para a Igreja, e para ver o fruto desse trabalho vale a pena toda cr�tica e desentendimento”
Aureo Nogueira de Freitas, padre e reitor do santu�rio
“Se uma pessoa � gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julg�-la?”
Papa Francisco