
A equipe de reportagem do Estado de Minas acompanhou uma das turmas de espele�logos que vieram de v�rios estados at� uma das cavernas s�mbolo dessa luta pela preserva��o, a Gruta da Morena, em Cordisburgo, na Regi�o Central de Minas, que, apesar de n�o estar dentro de um parque, ainda est� conservada, gra�as ao seu isolamento no cerrado. A gruta calc�ria � a maior em um raio de 100 quil�metros da capital mineira e, mesmo em propriedade privada, tem sido invadida. No in�cio deste ano, dois adolescentes entraram na cavidade sem autoriza��o e um deles se perdeu. Os bombeiros foram acionados, mas como uma opera��o dessas em uma caverna necessita de pessoas que conhe�am os t�neis e sal�es, um espele�logo precisou ser chamado de BH para ajudar no resgate do menor que ficou um dia preso no escuro entre as paredes �midas.
“A Gruta da Morena � uma das maiores cavernas acess�veis perto de BH, e evoluiu pelos desabamentos do teto que deram passagem a �gua de um rio e da chuva, que foram penetrando pelo calc�rio da rocha”, conta o diretor da Sociedade Brasileira de Espeleologia, Luciano Faria. De acordo com ele, um caso raro entre as cavernas mineiras que s�o abertas � visita��o. “Temos, por exemplo, no Parque do Perua�u (Norte de Minas), cavernas t�o ou mais imponentes do que esta, mas que est�o dentro de um parque e por isso s�o protegidas. Nesta, o que evita a entrada de visitantes � o isolamento, e isso � o que tem mantido essa relativa conserva��o”, alerta. “Prote��o semelhante poderia ocorrer aqui tamb�m, porque num parque a �rea em volta e acima da caverna � preservada de desmatamentos, de estradas e outros tipos de a��es que trazem impactos para dentro da caverna e podem interferir decisivamente nessas forma��es”, ressalta.
Uma gruta protegida
pela pr�pria natureza
Para entrar na Gruta da Morena � preciso romper por um cerrado fechado, que na seca � puro espinho e nas chuvas, terreno escorregadio. Mas, frente � boca enorme de rochas da cavidade, percebe-se sua integral harmonia com o meio natural, trazendo tanta umidade que a mata do entorno � sempre verdejante. Por�m, logo na entrada j� h� altera��es feitas pelo homem, como escadarias de madeira e degraus escavados no solo por uma equipe de produ��o cinematogr�fica e por intrusos. Mas no interior ainda est� preservada uma profus�o de vida, com bagres e outros peixes, grilos, aranhas, mariposas e morcegos.
As forma��es rochosas s�o tamb�m impressionantes, com sequ�ncias esguias e tortuosas de estalagmites e estalactites, que indicam justamente por onde a �gua passou, pingando do teto. Em alguns lugares na parede h� tamb�m escorrimentos desse material calc�rio, conhecidos em grutas tur�sticas como v�u de noiva, que formam fluxos de cristais cintilantes �s lanternas. Seguindo para o interior avistam-se outras forma��es cristalinas e um rio subterr�neo, completamente protegido por estar dentro da caverna.
“Minas � muito rica em cavernas, tem uma diversidade geol�gica muito grande. S�o calc�rias, de min�rio de ferro, de quartzito...”, enumera a tamb�m diretora da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) Teresa Maria Arag�o. Com os aventureiros que foram conhecer a Gruta da Morena, ela considerou ser muito importante a reuni�o dos v�rios grupos de espeleologia do Brasil no congresso. “Trouxemos v�rios trabalhos e palestras voltados para a preserva��o das cavernas, para a bioespeleologia, que � o estudo dos animais das cavernas, a geologia, a parte tur�stica ou ambiental. A espeleologia no Brasil � pouco conhecida, apesar de interferir com v�rias �reas do saber, como a biologia, a paleontologia e a arqueologia. Ou seja, temos a hist�ria do planeta Terra dentro das cavernas”, considera.
Para uma das organizadoras do congresso, D�bora Lara Pereira, da Sociedade Excursionista Espeleol�gica (SEE) – uma das mais antigas do Brasil, completando 80 anos –, a import�ncia de o congresso ocorrer em Ouro Preto � justamente a proximidade das v�rios tipos litol�gicos (de rochas) das cavidades. “Temos cavernas ferr�feras, de quartzito, de m�rmore, de calc�rio, entre outras. E temos tamb�m a discuss�o de um tema novo, que � a profiss�o de espeleologista. O destaque principal � a forma��o da Escola Brasileira de Espeleologia”, considera. De acordo com a SBE, essa discuss�o objetiva maior profissionalismo e dissemina��o do conhecimento e ensino sobre as cavernas nacionais.
O estudante de geologia Tom Morita, integrante do Grupo de Espeleologia da Universidade de S�o Paulo (USP), conta que seus colegas vieram em peso em uma excurs�o de 10 pessoas participar do congresso. “Tivemos uma experi�ncia muito diferente em termos de forma��es geol�gicas. � muito diferente do que vemos na regi�o de S�o Paulo, como no Parque Estadual do Alto Ribeira”, conta. “Coisas, por exemplo, relacionadas � sedimenta��o, �s rochas das quais as cavernas se formam. S�o muito antigas aqui e a gente v� algumas estruturas e estratifica��es que s�o dif�ceis de se ver com tanta clareza no nosso estado”, disse.