
“Desde pequena, digo para minha filha que o cabelo dela � lindo. Ela sempre gostou, mas depois desses epis�dios, ela me pediu para alis�-lo. Um local que � pra se educar e se respeitar, acabou com a autoestima dela”, lamenta Elisete, que trabalha com o empoderamento de mulheres negras por meio dos cabelos. De acordo com a m�e, o problema come�ou h� duas semanas, quando a menina chegou em casa da escola e disse: “A professora me perguntou se eu n�o lavava o cabelo. Eu n�o posso mais ir de cabelo solto para a aula?” Revoltada, a m�e decidiu ir at� a escola para conversar com a diretora. “Ela me disse que apuraria a situa��o. Tentou se explicar. Disse que o marido � negro e que a docente n�o era racista”, lembrou. Por�m, afirma, nenhuma provid�ncia foi tomada.
Ao contr�rio, em menos de uma semana, na v�spera do feriado de 15 de junho, a crian�a ainda passou por um novo constrangimento. Segundo a ativista, depois de mais um dia de aula, a menina contou, abalada, que a diretora puxou os cabelos dela e a for�ou a fazer um coque. “Quinta-feira era feriado. Eu pensei durante o fim de semana e, na segunda, decidi fazer o boletim de ocorr�ncia na Delegacia Especializada de Prote��o � Crian�a e ao Adolescente.” No documento oficial, consta que "o fato aconteceu em sala de aula. A v�tima se sentiu constrangida perante os colegas de classe.” Ap�s o registro, ela procurou a Superintend�ncia Regional de Ensino Metropolitana de educa��o para relatar o caso.
Os epis�dios n�o foram os primeiros envolvendo coment�rios degradantes dirigidos � menina por professores.“Em 2015, um professor de educa��o f�sica disse que o cabelo da minha filha servia para varrer o ch�o”, lembrou. Na �poca, revoltada, Elisete procurou a dire��o da escola, que a dissuadiu de fazer um BO. Naquela ocasi�o, entretanto, houve provid�ncias efetivas: o professor foi expulso dois dias depois do ocorrido.
E a filha de Elisete n�o � a �nica v�tima. Segundo a modelo, depois que o caso foi divulgado, pais de alunos da mesma escola a procuraram para relatar outros atos de preconceito. Uma m�e teria sido questionada sobre o uso de turbante pela filha. Outro familiar afirma que um professor disse em sala de aula que os alunos s�o “fedorentos” e que “ningu�m aguenta o mau cheiro deles”, lembrou.
APURA��O A Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) disse, por meio de nota, “que repudia quaisquer atitudes e manifesta��es de discrimina��o e de preconceito e que a��es que estimulem o respeito �s diferen�as e o combate ao racismo s�o prioridades desde o in�cio desta gest�o”. O texto destaca que “a escola � um espa�o sociocultural, que deve respeitar e, sobretudo, discutir amplamente a pluralidade cultural, como uma forma de desconstruir preconceitos.” Com rela��o ao caso apresentado, a SEE informa que j� entrou em contato com a m�e da aluna para esclarecimentos sobre as situa��es ocorridas na Escola Estadual Efig�nio Salles e orientar quanto aos procedimentos a serem tomados. Garante ainda que todas as den�ncias ser�o devidamente apuradas pela equipe de inspe��o da Superintend�ncia Regional de Ensino Metropolitana A, que � respons�vel pela coordena��o da unidade escolar.
A m�e cobra mais que puni��o para os atos de preconceito. “Quero que trabalhem na escola sobre racismo, chamem pessoas negras para falar sobre empoderamento. Queremos que as nossas crian�as sejam respeitadas. No ano que vem, a minha filha n�o estar� mais estudando l�, mas quantas crian�as mais precisar�o passar por isso? O black � identidade. � a nossa identidade”, desabafa. “Antes n�s engol�amos tudo. N�s precis�vamos de nos adequar para frequentar certos lugares, conseguir um emprego. Agora, n�s n�o deixamos passar”, disse.
Segue a nota da Secretaria de Educa��o na �ntegra:
“A Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) salienta que repudia quaisquer atitudes e manifesta��es de discrimina��o e de preconceito e que a��es que estimulem o respeito �s diferen�as e o combate ao racismo s�o prioridades desde o in�cio desta gest�o. A escola � um espa�o sociocultural que deve respeitar e, sobretudo, discutir amplamente a pluralidade cultural, como uma forma de desconstruir preconceitos.
Com rela��o ao caso apresentado, a SEE informa que j� entrou em contato com a m�e da aluna para esclarecimentos sobre as situa��es ocorridas na Escola Estadual Efig�nio Salles e orientar quanto aos procedimentos a serem tomados. Todas as den�ncias ser�o devidamente apuradas pela equipe de inspe��o da Superintend�ncia Regional de Ensino Metropolitana A, que � respons�vel pela coordena��o da unidade escolar.
O caso tamb�m est� sendo acompanhado diretamente pela equipe da Superintend�ncia de Modalidades e Tem�ticas Especiais de Ensino da SEE, que coordena as a��es relacionadas a essa pauta em todo o Estado. As den�ncias de discrimina��o racial dentro de escolas s�o acompanhadas pelos profissionais desse setor, que orientam as regionais de ensino e as escolas sobre os procedimentos no �mbito administrativo, al�m de orientar sobre suporte �s v�timas e suas fam�lias, por meio da acolhida e escuta.
As escolas, com base na Campanha Afroconsci�ncia, lan�ada em 2015 pela Secretaria, s�o orientadas a buscarem parcerias locais, como, por exemplo, com o movimento social negro, para ministrarem palestras de modo a fortalecer a identidade de negros e negras nas nossas unidades escolares, assim como proceder a��es de forma��o dos profissionais da institui��o para lidarem com o assunto. A campanha Afrosconsci�ncia � uma a��o de Educa��o para as Rela��es �tnico-Raciais nas escolas que visa reconhecer e valorizar a hist�ria e a cultura dos africanos na forma��o da sociedade brasileira. Al�m da Campanha, s�o realizadas v�rias outras a��es de conscientiza��o junto aos estudantes e � comunidade escolar.
Entendendo que o racismo � um dos tipos de viol�ncias existentes na sociedade, foi lan�ado tamb�m o Programa de Conviv�ncia Democr�tica nas Escolas, que tem como objetivo articular projetos e estrat�gias educativas para promover e defender direitos, compreender e combater a viol�ncia no espa�o escolar, incentivar a participa��o pol�tica da comunidade escolar e fortalecer a pol�tica de Educa��o Integral nos territ�rios onde as escolas est�o inseridas, al�m do reconhecimento e da valoriza��o das diferen�as e das diversidades.”