Imagine passar duas noites sem dormir, com alimenta��o racionada, �gua contada e dormindo praticamente ao relento, sob um frio de 5 graus cent�grados? Essas condi��es in�spitas desanimariam a maioria das pessoas, mas a cada ano mais e mais gente busca matas de Minas Gerais para aprender t�cnicas de sobreviv�ncia e testar os limites do corpo e da mente em simula��es de situa��es de emerg�ncia em terreno selvagem. No fim do m�s passado, a equipe do Estado de Minas acompanhou por tr�s dias os treinamentos da escola de sobreviv�ncia Mestre do Mato, em Lagoa Santa, a 36 quil�metros de Belo Horizonte, onde sete alunos se inscreveram para o curso de n�vel intermedi�rio, um deles do Rio de Janeiro, dois de S�o Paulo e quatro mineiros.
A aventura � para candidatos determinados. “O curso avan�ado � t�o extremo que costuma ocorrer uma vez a cada dois anos. No curso b�sico, o aluno aprende t�cnicas e conceitos de kits para sobreviver por 72 horas, que � a m�dia de um resgate. J� no intermedi�rio, algumas priva��es entram em cena e o aluno precisa vencer com t�cnicas as dificuldades e, com a mente, o contexto de priva��o”, afirma o instrutor e fundador da escola, Giuliano Toniolo, que � reconhecido no meio dos mateiros e da sobreviv�ncia como um dos pioneiros do tema no YouTube, al�m de fazer trabalhos de consultoria a programas do g�nero.
Para simular as condi��es de uma pessoa em uma situa��o de emerg�ncia, os alunos s�o privados de grande parte dos costumeiros confortos da vida moderna. Para tr�s dias, cada um s� pode levar dois litros de �gua, duas barrinhas de cereal e duas de chocolate. Na primeira noite, cada pessoa precisa enfrentar a escurid�o do entardecer dentro de uma �rea de cerrad�o, onde deve montar sua rede de selva e a cobertura de lona. N�o � permitido levar cobertores ou sacos de dormir.

Na segunda noite, as condi��es pioram. Enquanto metade do grupo se organiza para trazer folhas para forrar o ch�o de terra de uma clareira, o restante se esfor�a para esticar uma tenda improvisada que servir� de abrigo. Dormindo no ch�o, a perda de calor � ainda mais intensa e obriga que todos se espremam, em busca do aquecimento da fogueira e dos corpos dos companheiros de sobreviv�ncia. “O mais desafiador para mim foi a falta de sono, ficar muito tempo sem dormir, dormir no ch�o. Com um frio que chegou a 5°C, a mata ensina que quem n�o est� totalmente preparado, com agasalhos e equipamentos, passa frio mesmo”, disse um dos alunos, o administrador de empresas paulistano Bruno Coelho, de 32 anos.
“Na primeira noite estava muito frio e o cobertor aluminizado n�o ajuda. Quando esquenta, a pessoa sua tanto que fica molhada. A� o frio acaba com qualquer um. A solu��o � acordar e ir para perto da fogueira”, afirma o engenheiro Andr� Augusto Orsi Dutra, de 49, tamb�m de S�o Paulo.
�gua racionada e abate de codorna
A alimenta��o acaba sendo dosada para momentos de necessidade de energia, como a navega��o pela mata com todo equipamento nas costas e o uso de fac�o e b�ssola para avan�ar. Como parte do ensinamento, os sobreviventes aprendem a escolher quais os tipos de cip�s acumulam �gua, e podem purificar a �gua de um c�rrego para completar sua hidrata��o. A falta de comida cobra seu pre�o, e entra uma das mais duras partes do treinamento para alguns, que � a simula��o de ca�a, abate e prepara��o de alimento. Codornas de cativeiro s�o levadas para essa finalidade. A fome � tanta que a li��o sobre o que � necess�rio para viver por mais algum tempo faz com que o abate dos animais seja silencioso, r�pido, mas sem arrependimentos.
Os gastos de energia s�o grandes tamb�m nas oficinas de fogo primitivo, onde � preciso aprender a fazer uma fogueira usando m�todos como a fric��o de um arco e uma broca de madeira ou pelo atrito de pedras de quartzo com limas de a�o. Tanto esfor�o feito em meio ao racionamento de �gua e comida cobra seu pre�o. Muitos alunos acusam, ao fim do segundo dia, um quadro de leve desidrata��o, com urina escura e dores de cabe�a.
Um deles, o empres�rio belo-horizontino Rhana Mussa, de 33, sofreu mais com os sintomas e contou com a ajuda dos companheiros para repousar e se recuperar. “Controlei tanto o consumo de �gua que passei o dia sem beber nada. N�o conhecia os sintomas de desidrata��o e depois dessa experi�ncia passei a saber todos”, conta. “Comecei tendo dor de cabe�a, depois tonteira, �nsias. A press�o caiu. Foi uma grande oportunidade de aprendizado, que deixou clara a import�ncia de um grupo. No ano passado tive problemas com o frio por falta de agasalho e quase tive hipotermia. Essa viv�ncia em um ambiente em que temos suporte t�cnico � o momento de aprender”, considera.