Na regi�o de Belo Horizonte onde a vida tem o ritmo mais acelerado da cidade, os vidros dos carros permanecem fechados, o olhar � atento, e as bolsas seguras na parte da frente do corpo, num sinal claro de medo. � que, apesar da vigil�ncia de 40 c�meras do Olho Vivo e agentes de seguran�a, andar pelas ruas do Hipercentro exige mais do que aten��o com o tr�nsito e com o vaiv�m das mais de um milh�o de pessoas que passam diariamente pelo local.
E pior, ainda h� crimes em ascens�o: os furtos, por exemplo, que na m�dia da cidade subiram 0,4%, registram aumento de 17%, entre janeiro e maio, no cora��o de BH, passando de 729 ocorr�ncias para 853, no per�odo.
A desordem do espa�o urbano � apontada pelo comandante de Policiamento Militar da Capital, coronel Winston Coelho Costa, como elemento complicador para controle da criminalidade. “Estamos tendo uma dificuldade maior de vencer (a criminalidade) no Centro. No n�mero de roubos, por exemplo, delito que incomoda fortemente a popula��o, a redu��o na cidade foi de 14%, enquanto na Regi�o Central ficou em torno de 2%. Isso tem ocorrido por causa da intensa presen�a de camel�s e muitos grupos de moradores de rua, com criminosos infiltrados, na regi�o”, afirma.
No caso dos homic�dios, por exemplo, enquanto a m�dia de redu��o em BH foi de 10%, no Centro o n�mero se manteve no per�odo. “Esse tipo de crime no Centro est� muito relacionado a conflitos de moradores de rua, at� mesmo por uma disputa de espa�o ou por causa do uso de drogas e �lcool. E tem coamo principal caracter�stica a utiliza��o de arma branca, diferentemente de outras regi�es, em que a arma de fogo � mais comum”, afirma Winston Costa. Segundo ele, as mortes s�o registradas principalmente pr�ximo � Rua Guaicurus e aos shoppings populares.
Sobre a altera��o social e urbana no Centro, o comandante detalha de que forma esse processo interfere na seguran�a da �rea, que tem como limites Pra�a da Esta��o; o entorno da rodovi�ria; a Pra�a Raul Soares; e o cruzamento da Afonso Pena, com Rua Guajajaras. “Com o espa�o p�blico desordenado, tumultuado, e menos acessos livres nas cal�adas e arredores de vias p�blicas, as pessoas t�m mais chances de se tornarem v�timas de bandidos que encontram ambiente favor�vel para agir”, afirma o coronel.
Ele disse ainda que a redu��o da visibilidade no ambiente urbano dificulta, inclusive, o trabalho da pol�cia. O comandante ressalta que problemas de ilumina��o e a grande circula��o pessoas e bens, outrora apontados como atrativos para bandidos, j� n�o s�o mais a �nica raz�o para a dificuldade de enfrentar o crime no Centro. “A situa��o em que o Hipercentro se encontra tem gerado uma dificuldade ainda maior para a quest�o da seguran�a”, afirma.
SEMPRE ALERTA
Para quem frequenta a regi�o, o desafio est� a cada esquina. E para cruzar �reas como a Avenida Santos Dumont, o entorno dos shoppings populares e do terminal rodovi�rio, entre outras zonas quentes do ponto de vista da criminalidade, � necess�rio cumprir um verdadeiro check-list de cuidados.
“S� ando agarrada � minha bolsa e �s sacolas, porque a sensa��o de inseguran�a � muito grande. Vejo as pessoas sendo assaltadas, por isso estou sempre alerta”, conta a comerciante Regina Nascimento, de 38 anos, que mora em Igarap� e vem ao a BH toda sexta-feira fazer compras.
H� um ano trabalhando em um escrit�rio na Avenida Santos Dumont, a estagi�ria Let�cia Camargos, de 20, relata as dificuldades de transitar pelo local. “Sempre tem muito camel�, morador de rua e pessoas que se aproveitam dessa confus�o toda para puxar as bolsas, celulares e sacolas. Ando com muito medo”, diz.
Ela afirma ainda que a situa��o piorou ap�s o in�cio da crise econ�mica no pa�s e cobra “mais efetividade da administra��o municipal para retirar o com�rcio irregular da rua e garantir abrigamento para a popula��o de rua e da PM para melhorar a seguran�a.”
O t�cnico de inform�tica Anderson Donizete, de 37, vai na mesma linha. “Nunca � seguro. Nem durante o dia, nem � noite, nem em hor�rio de pico, nem de carro, nem a p�... H� falta de policiamento, de organiza��o do espa�o p�blico e da presen�a do Estado para fazer cumprir a lei”, afirma.
PROVID�NCIAS
De acordo com o coronel Winston, a PM tem intensificado as a��es para barrar o aumento da criminalidade. Dentre as medidas, est� o empenho de mais policiais � 6ª Companhia, respons�vel pela �rea, bem como ado��o de outras estrat�gias: policiamento a p�, refor�o nas abordagens a pessoas suspeitas em quadrantes predeterminados para cada grupo de militares, al�m do trabalho em conjunto com outras institui��es contra o com�rcio irregular e no combate ao crime.
Segundo o coronel, o programa das bases comunit�rias, previsto para agosto, dever� contribuir para melhorar a seguran�a. “A implanta��o dessas viaturas vai garantir mais efetivo e presen�a policial mais pr�xima das pessoas”. Ele lembra ainda que a participa��o das pessoas � fundamental para coibir o crime.
“A popula��o deve cobrar de quem � de direito, porque o Estado tem o dever de organizar o espa�o p�blico. Al�m disso, devem adotar medidas de autoprote��o at� que consigamos um ambiente melhor no Centro, a partir das nossas a��es”, afirma o coronel.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por sua vez, p�s em andamento um programa que ataca um dos fatores apontados como facilitadores da viol�ncia: a presen�a indiscriminada de camel�s. Com ele, pretende retirar os ambulantes ilegais das ruas e realoc�-los.