
As medidas das ruas e avenidas projetadas pelo engenheiro e urbanista ficaram pequenas diante do aumento da frota de ve�culos, que aumentou 74% nos �ltimos 10 anos. O total de ve�culos passou de 1.020.465 unidades, em 2007, para 1.778.298 em 2017. Muitos desses ve�culos passam pelo Centro, �rea planejada por Aar�o Reis, sem ter o local como destino. “Estima-se cerca de 250 mil viagens por dia”, diz Jos� Carlos Mendanha Ladeira, diretor de Sistema vi�rio da BHTrans.
� bom lembrar que Aar�o Reis n�o planejou toda a �rea externa � Avenida do Contorno. Dessa forma, o crescimento da cidade e o salto na frota criaram gargalos que causam dores de cabe�a nos motoristas e, em alguns casos, sucessivos acidentes com mortes.
� o caso do pontilh�o da ferrovia sobre o Anel Rodovi�rio, no Bairro Bet�nia, onde h� reten��es constantes, no sentido Vit�ria, devido ao estrangulamento de pistas. Uma das faixas � ocupada por parte da estrutura que o sustenta. O gargalo contribui com v�rias trag�dias no local: carretas embaladas que desceram a via n�o conseguiram frear e atingiram a fila de autom�veis. Tamb�m por estrangulamento de pistas, h� tr�fego lento nas entradas dos viadutos do mesmo corredor.

“� como se fosse linha de produ��o, como se fosse um encanamento. Ou seja, s� passa a �gua que a restri��o permite. N�o adianta o Anel ter tr�s faixas numa extens�o de cinco quil�metros e, quando chegar um viaduto, s� passar dois carros ao mesmo tempo”, avaliou o engenheiro Charliston Marques, que � mestre em engenharia de transportes.
Obra � a solu��o tanto para esse gargalo quanto para outros, como o do cruzamento entre as avenidas Ab�lio Machado, Her�clito Mour�o e Brigadeiro Eduardo Gomes, na Regi�o do Bairro Al�pio de Melo. L� h� um dos poucos sem�foros quatro tempos na capital. O condutor espera pela luz verde por 1 minuto e 30 segundos.
A BHTrans fez estudos para resolver o problema e concluiu que n�o � vi�vel impedir a convers�o � esquerda, como ocorreu na Pra�a 7, pois o retorno para quem segue a Ab�lio Machado em dire��o ao Bairro Coqueiros, por exemplo, aumentaria o trajeto em torno de 1,6 quil�metro. A solu��o mais recomendada seria a constru��o de uma ponte sobre o c�rrego que margeia a Her�clito Mour�o, mas o recurso n�o est� previsto no or�amento do munic�pio.
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Mas h� obras que apenas transferem o gargalo de lugar. � o que ocorre na Via Expressa, na altura do Bairro Padre Eust�quio, onde a constru��o do viaduto Itamar Franco eliminou o gargalo que antes era causado pelo pontilh�o f�rreo. Juntamente com a estrutura, o poder p�blico tampou parte do leito do Rio Arrudas, mas, pr�ximo � Rua Inga�, no sentido bairro, uma das quatro faixas desaparece.
Resultado: a reten��o di�ria deixou de ser no pontilh�o f�rreo e foi transferido, menos de um quil�metro adiante, no trecho em que o Arrudas continua descoberto. A redu��o do n�mero de faixas causa gargalos em outras avenidas da cidade, como na Ant�nio Carlos, sentido bairro, na altura do viaduto S�o Francisco. Tamb�m na Bandeirantes, em dire��o a Afonso Pena, logo ap�s a Pra�a JK.
Outro exemplo � a liga��o da Tancredo Neves com a Pedro II, no Padre Eust�quio. As quatro faixas viram duas pistas para autom�veis – e uma para �nibus – ap�s o viaduto do Anel Rodovi�rio. Investir no transporte coletivo, ali�s, � uma das solu��es para reduzir o n�mero de ve�culos nas vias p�blicas.
Mas o servi�o precisa ser completo. No caso da pr�pria Pedro II, a BHTrans implantou a faixa exclusiva para �nibus, o que reduziu o tempo de viagem. Contudo, os coletivos passam a disputar as pistas com autom�veis assim que chegam no Centro da cidade.
“A mensagem � a seguinte: depois de uma cidade pronta sem estar totalmente planejada – e planejamento � projetar pensando na expans�o que vir� –, temos de fazer remendos”, afirma o diretor da BHTrans.

Em ritmo lento
Estrangulamento de vias importantes provoca reten��es que desafiam a engenharia de tr�nsito. Investir no transporte p�blico � uma das op��es para reduzir o fluxo de ve�culos
O complexo de t�neis e elevados da Lagoinha � considerado por muitos especialistas como o maior gargalo no tr�nsito da capital, pois as estruturas recebem o fluxo de tr�s movimentadas avenidas: Ant�nio Carlos, Cristiano Machado e Pedro II. Foi l�, na d�cada de 1980, que ocorreu o maior congestionamento do tr�nsito na hist�ria da capital.
Quem explica � Jos� Carlos Mendanha Ladeira, diretor de Sistema vi�rio da BHTrans: “H� duas barreiras no local (que justificam a constru��o dos elevados): o Ribeir�o Arrudas e a linha f�rrea. O maior congestionamento foi no dia de um com�cio em favor das ‘Diretas j�’. Por alguma for�a misteriosa, o trem de cargas estragou justamente l�. Quem estava na Ant�nio Carlos n�o conseguiu entrar no Centro e quem estava dentro n�o saiu. Naquela �poca, o viaduto chegava no solo antes da linha do trem”.
“� a maior concentra��o do tr�fego de passagem de BH: cerca de 50% das viagens s�o lindeiras, ou seja, n�o t�m o Centro como destino final. Motoristas passam por l� por falta de rotas alternativas. E por que � um gargalo? Porque nada adianta vir com tr�s, quatro faixas da Ant�nio Carlos, Pedro II, Cristiano Machado, sendo que, quando chega nele, h� o estrangulamento. N�o aguenta o fluxo de carros de nove faixas – Tr�s da Cristiano Machado, tr�s da Ant�nio Carlos e tr�s da Pedro II”, avalia Frederico Rodrigues, s�cio da Imtraff e com doutorado na �rea.
O diretor da BHTrans concorda que o complexo de viadutos n�o � satisfat�rio para resolver o problema, mas destaca que interven��es est�o sendo feitas para melhorar o tr�fego. Ele lista o elevado que est� sendo erguido para receber o fluxo de coletivos. Ir� aliviar uma reclama��o surgida com a implanta��o do Move na cidade: os �nibus percorrem boa parte da viagem em pistas exclusivas, mas passam a dividir espa�o com autom�veis, motos e caminh�es ao chegarem ao Centro.
“Os coletivos v�m segregados numa pista s� para eles na Ant�nio Carlos e na Cristiano Machado e, quando chegam no Centro, dividem o tr�nsito com os demais ve�culos. O que estamos fazendo? Uma al�a s� para os coletivos. Os �nibus v�o chegar at� a Santos Dumont e a Paran� sem se misturarem com o tr�fego em geral”, explica Jos� Carlos.

Ele ressalta que o intenso fluxo de ve�culos numa determinada via gera outro problema: a transfer�ncia de parte do fluxo de ve�culos para ruas que n�o foram projetadas para receber um tr�fego elevado. “No Bairro Floresta, por exemplo, v�rias vias classificadas como locais (destinadas ao tr�fego de moradores) est�o sendo transformadas em coletoras (de m�dio a alto tr�fego). Isso ocorre porque as arteriais est�o congestionadas, saturadas. As pessoas est�o usando vias locais como de passagem.”
O problema � que essas vias n�o s�o preparadas para um tr�fego acima do projetado. S�o estreitas e, muitas vezes, nem sequer t�m sinaliza��o adequada. Dessa forma, acrescenta Charliston, “como as vias n�o t�m sinaliza��o para o alto fluxo de ve�culos, gera atraso nas interse��es”. Resultado: ind�cio de mais gargalos.
Palavra de especialista
Frederico Rodrigues, s�cio da Imtraff
Vias transversais
“Se 50% do tr�fego que passa no Complexo da Lagoinha n�o tem o Centro como destino final, temos de retir�-los de l�. Como fazer isso? Com as vias transversais previstas no Viurbs (Programa de Vias Priorit�rias de Belo Horizonte), tamb�m chamado de Corta Caminho. � uma hierarquiza��o de in�meras obras necess�rias na cidade, sendo que grande parte � conex�o transversal de tr�fego. Quando voc� conexa transversalmente a via, retira-se do Centro o tr�fego de passagem. A Via 800, por exemplo, � a que liga a Avenida Carlos Luz � Bar�o Homem de Melo. Seria um t�nel ligando as duas vias (cortando o terreno montanhoso onde hoje est� o Bairro Padre Eust�quio). A Via 710 � outra (e que dever� ser inaugurada este ano), ligando o Bairro S�o Geraldo � regi�o do Minas Shopping.”