
Inaugurada com o nome de 17 de Dezembro, a Avenida do Contorno foi projetada no fim do s�culo 19 pelo engenheiro Aar�o Reis (1853-1936), chefe da equipe construtora de Belo Horizonte, para ser a divisa entre a zona urbana e a rural da nova capital de Minas. Mas o corredor s� saiu em definitivo do papel na d�cada de 1920, e ainda hoje, quase 100 anos depois, tem uma fragilidade relevante para o tr�nsito. E ela exp�e a parte mais vulner�vel da mobilidade urbana: o pedestre.
A BHTrans constatou que 22 cruzamentos da Avenida do Contorno n�o contam com faixa de travessia no asfalto ou o sem�foro luminoso para pedestre ou ambas as estruturas. Entre os exemplos h� interse��es com intenso fluxo de ve�culos e pessoas, como na encruzilhada com as ruas Santa Catarina e Carangola, ambas na Regi�o Centro-Sul.
O Mobicentro, ao qual o dirigente se refere, � um programa com algumas fases j� implantadas pelo munic�pio, que tem como meta melhorar a mobilidade na �rea central da capital, para garantir tanto seguran�a quanto agilidade aos pedestres e motoristas que transitam pelo Hipercentro. Parte do projeto foi a mudan�a na dire��o do fluxo de ve�culos em vias no entorno da Pra�a Sete, no cruzamento mais movimentado da capital, encontro das avenidas Afonso Pena e Amazonas, e no Barro Preto, tamb�m na Regi�o Centro-Sul.
Justamente no Barro Preto fica um dos 22 cruzamentos em que faltam faixa de pedestre e sinal de travessia. A Rua Tenente Brito Melo, pr�ximo ao dep�sito da Asmare, � uma das vias que precisam das duas estruturas. “A travessia ficar� mais segura”, afirmou o comerciante Paulo Roberto Lima, que trabalha no bairro e passa pelo local de segunda-feira a s�bado.
A outra extremidade da Tenente Brito de Melo tamb�m faz esquina com a Contorno, j� no Bairro Santo Agostinho, pr�ximo ao encontro da avenida com a Amazonas. L� tamb�m n�o h� faixa para pedestre no pavimento, nem sem�foro para pedestres. Isso complica a travessia, j� que motoristas saem da Contorno e entram na via sem prestar aten��o � presen�a de pessoas se deslocando a p�.
O risco de atropelamento cresce, sobretudo se o pedestre estiver no meio da travessia, pois a dist�ncia entre os dois passeios � grande. “� poss�vel, mesmo estando no meio do caminho, que a pessoa n�o tenha tempo de a gente chegar ao outro lado”, alertou Jos� Ananias, enquanto passava pelo local.
D�FICIT T�cnicos da prefeitura que foram a campo fazer o levantamento apuraram que cruzamentos importantes, como o da Contorno com a Rua Carangola, no Bairro Santo Ant�nio, tamb�m precisar�o de investimento. Outro exemplo � a interse��o entre a antiga 17 de Dezembro e a Rua da Bahia. Nesse caso, por�m, o cruzamento conta com os dois sem�foros para quem est� em um dos lados da travessia da Bahia. Mas quem est� na outra cal�ada n�o conta com aux�lio da faixa, nem do sinal. A observa��o � necess�ria, pois os carros que sobem a Bahia podem virar � direita na Contorno. Provavelmente, a instala��o dos dois equipamentos, se ocorrer, levar� � mudan�a no sem�foro para ve�culos.
“Um cruzamento tem quatro lados. O ideal � que todos tenham os equipamentos, mas h� lugar em que n�o h� condi��o”, diz Jos� Carlos Mendanha. Faixas e sem�foros s�o necess�rios em todas as interse��es, “pois n�o d� para confiar apenas na educa��o do motorista”, acrescenta o diretor da BHTrans. Conhecedor da hist�ria da capital e colecionador de curiosidades, ele conta que a Contorno foi a via usada pelos fiscais que recolhiam impostos. Hoje foi engolida pelo crescimento urbano e se transformou n�o apenas em movimentado corredor de tr�fego, mas em um desafio para conciliar todos os personagens do tr�nsito na cidade.
Cart�es-postais nos sem�foros
H� 15 meses, sem�foros para pedestres na Regi�o Centro-Sul de BH recebiam contornos especiais para valorizar o turismo e o patrim�nio da cidade. No lugar da tradicional silhueta iluminada pelo verde ou vermelho, desenhos das fachadas de pr�dios como o Teatro Francisco Nunes e o Pal�cio das Artes. Tamb�m h� figuras que remetem � Pra�a da Esta��o e a outros cart�es-postais. A mudan�a faz parte do projeto Cidade Revelada – Interpreta��o e Sinaliza��o do Patrim�nio Hist�rico, uma parceria entre a BHTrans e a Funda��o Municipal de Cultura (FMC). O munic�pio investiu, na �poca, R$ 30 mil.
Uma capital sem limites
Com �rea de apenas 8,9 quil�metros quadrados (km2) em seu per�metro interno, frente aos 330 km2 de toda a capital, a Contorno circunda a regi�o central de Belo Horizonte. Seu desenho segue o tra�ado planejado antes da constru��o da cidade, em projeto que originalmente previa a urbaniza��o apenas da �rea limitada pela avenida. Por�m, com o intenso desenvolvimento no s�culo 20, a mancha urbana ultrapassou esse limite muito antes do esperado, o que criou uma divis�o que o observador do mapa moderno da capital percebe nitidamente. O crescimento inicial foi marcado pelo tra�ado do interior da avenida, que recebeu mais infraestrutura, sistemas de transporte coletivo e servi�os como �gua, luz e esgotos. Nesse per�metro se concentrou tamb�m a maior parte do com�rcio, hospitais e escolas. J� a �rea fora desse limite cresceu de forma mais desordenada. Hoje isso fica evidente em quest�es como a disposi��o das ruas: dentro da Contorno, elas tra�am quarteir�es sim�tricos. Fora, formam um desenho bem menos organizado, com vias mais estreitas e sinuosas, que acompanham o relevo natural.