Para os visitantes, a nova etapa na igreja ser� oportuna tanto para se conhecer o trabalho dos restauradores como tamb�m para ver a interven��o em todos os ret�bulos da nave e da capela-mor, al�m de forros e pinturas. Segundo o chefe do escrit�rio do Iphan em Ouro Preto, Andr� Macieira, as portas ficar�o abertas durante os servi�os, pois a matriz oferece completa seguran�a. O secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio, Zaqueu Astoni Moreira, aplaude a iniciativa e adianta que toda a programa��o da Semana Aleijadinho, em novembro, ser� alusiva aos 280 anos do patrono das artes no pa�s e natural de Ouro Preto, cidade cujo Centro Hist�rico � reconhecido como Patrim�nio da Humanidade pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco).
Segundo estudos, a hist�ria da matriz come�a por volta de 1699, quando foi elevada, a mando do bandeirante Ant�nio Dias, uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Concei��o. Em 1705, instituiu-se a primitiva matriz, sofrendo provavelmente modifica��es e acr�scimos para se adaptar � nova fun��o. O r�pido crescimento da popula��o do antigo Arraial de Ant�nio Dias fez com que os moradores, em 1711, exigissem a constru��o de um novo templo, o que ocorreu em 1724.
Em 1727, foi iniciada a constru��o da atual matriz, cujo projeto � atribu�do a Manoel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho. Os trabalhos iniciados antes da Matriz do Pilar seguiram em ritmo mais lento at� 1756, quando se inicia a talha da capela-mor e posteriormente as obras de pintura e douramento. Os altares da nave s�o bem mais antigos, podendo incluir, como no caso da Matriz do Pilar, pe�as remanescentes da primitiva. A decora��o interna da nave � atribu�da tamb�m ao pai de Aleijadinho. J� a talha da capela-mor, a Jer�nimo F�lix Teixeira e Felipe Vieira, disc�pulos de Noronha e Xavier de Brito, da� sua afinidade com a Matriz do Pilar.

PESQUISA O ano de nascimento de Aleijadinho sempre despertou pol�mica, alguns dizendo que foi em 1730 e outros em 1738. De certeza mesmo, s� o da morte, 1814, tanto que em 2014 houve muitas homenagens pelo transcurso do bicenten�rio. Mergulhado em pesquisa no Brasil e Portugal, o promotor de Justi�a e membro do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais Marcos Paulo de Souza Miranda jogou luz sobre o assunto no seu livro Aleijadinho revelado – Estudo hist�rico sobre Antonio Francisco Lisboa, ao descobrir que foi mesmo em 1737.
Na Matriz de Nossa Senhora da Concei��o, em Ouro Preto, Marcos Paulo localizou o registro de nascimento de Antonio Francisco Lisboa, filho da negra forra Isabel. Em entrevista ao Estado de Minas, ele explicou que “os estudiosos certamente procuravam o registro apenas pelo nome do pai, o art�fice portugu�s Manuel Antonio Lisboa. A quest�o � que, naquela �poca, pelo direito can�nico, era proibido que constassem do registro os nomes dos pais quando o casal n�o fosse formalmente casado. Da� s� haver o nome da m�e no documento. Al�m disso, o costume era levar a crian�a � pia batismal logo ap�s o nascimento.” A �nica data que se conhecia era a da morte, 18 de novembro, conforme consta do atestado de �bito. � curioso notar, no t�mulo, que uma placa traz o sinal de interroga��o ao lado do ano de 1738, que seria o do nascimento.
O autor do livro lembrou que a primeira biografia foi escrita em 1858, por Rodrigo Jos� Ferreira Bretas, ex-promotor de Justi�a de Ouro Preto. “O trabalho foi publicado no jornal Correio de Minas, 44 anos depois da morte de Aleijadinho. Bretas conversou com dona Joana Lopes, parteira, que foi casada com o filho do artista, Manoel Francisco Lisboa, batizado com o mesmo nome do av�.”
O pai de Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa, nasceu em S�o Jos� de Odivelas, antes pertencente a Lisboa, Portugal, hoje munic�pio aut�nomo, conforme os levantamentos de Souza Miranda: “O nome de fam�lia n�o � propriamente ‘de Lisboa’, apenas indica a proced�ncia. O pioneiro Jo�o Francisco e seus tr�s filhos vieram da capital portuguesa atra�dos, no auge da minera��o do ouro nas Gerais, pela alta efervesc�ncia de constru��o de igrejas. Era uma fam�lia de art�fices. Os tios de Aleijadinho, Antonio Francisco Pombal e Francisco Antonio Lisboa, foram ex�mios entalhadores e atuaram, respectivamente, nas matrizes do Pilar e de Nossa Senhora da Concei��o de Antonio Dias”.
Aleijadinho foi aprendiz, oficial e tornou-se mestre, aprendendo a trabalhar com a pr�pria fam�lia, pois todos eram do ramo. Em 1760, aos 23 anos, ele come�ou com sua oficina, embora n�o fosse um espa�o f�sico, mas um servi�o itinerante. De acordo com Souza Miranda, “ele se deslocava para o lugar onde houvesse servi�o, tanto que morou em Rio Espera, na Zona da Mata, e Sabar�. A equipe dormia geralmente nas casas paroquiais. Outra atividade importante, a exemplo da desempenhada pelo pai, foi a de perito ou ‘louvado’.
Um dos irm�os de Aleijadinho, o padre F�lix, seguiu a mesma trilha e se tornou talentoso escultor de pe�as sacras”. Autor do pref�cio do livro, o secret�rio de estado de Cultura, Angelo Oswaldo, afirma que 1738 continua o ano dado como aceito pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), mas acredita que pode ser dada a largada para os festejos. “Aleijadinho � para se festejar todo dia”, afirma. O ano de 1738 decorre de uma certid�o de �bito datada de 18 de novembro de 1814, na qual h� a informa��o de que o homem sepultado teria 76 anos, portanto, nascido em 1738. “Na �poca do bicenten�rio, foi formada uma comiss�o pelo Iphan para estudar a fundo o legado de Aleijadinho, identificar as obras, tirar as d�vidas, mas acho que n�o evoluiu”, diz o secret�rio. Ele lamenta que o Museu Aleijadinho, composto pelo acervo das igrejas de Nossa Senhora da Concei��o, S�o Francisco e Merc�s de Baixo, em Ouro Preto, n�o esteja aberto � visita��o.

RECONHECIMENTO O nome Aleijadinho tem reconhecimento de norte a sul. “Dos artistas brasileiros que atuaram no per�odo colonial, Aleijadinho foi o que mais se destacou, tanto do ponto de vista qualitativo, quanto quantitativo. Ele viveu em Minas e sua trajet�ria coincide com o per�odo �ureo da explora��o de metais preciosos, quando a regi�o presenciou um grande momento de vida social urbana”, ressalta o diretor do Departamento de Patrim�nio Material e Fiscaliza��o do Iphan, Andrey Rosenthal Schlee. Ele explica que “a riqueza do ouro e dos diamantes, associada � profus�o de irmandades religiosas, garantiu trabalho e reconhecimento ao artista, que deixou obras significativas em Ouro Preto, S�o Jo�o del-Rei, Congonhas e Sabar�.
“Para demonstrar a import�ncia de Aleijadinho e de sua oficina, basta citar a delicadeza da Igreja de S�o Francisco de Assis de Ouro Preto ou a monumentalidade do conjunto arquitet�nico dos Passos e Adro dos Profetas do Santu�rio de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas”, conta Andrey, tamb�m professor da Universidade de Bras�lia (UnB) e doutor em arquitetura pela Universidade de S�o Paulo (USP).
RETRATO OFICIAL

Louvado pelas imagens que brotaram de suas m�os, o g�nio do Barroco paradoxalmente tem na pr�pria fisionomia um mist�rio. Nos s�culos 18 e 19, muitos desenhistas e pintores fizeram o “retrato falado” de Aleijadinho, um assunto ainda bastante pol�mico. O chamado retrato oficial, que faz parte das homenagens no bicenten�rio de morte, est� exposto no Museu de Congonhas, na Regi�o Central de Minas Gerais. Trata-se de �leo sobre pergaminho (foto) feito no s�culo 19, por Eucl�sio Penna Ventura. O quadro, na verdade um ex-voto, medindo 20cm por 30cm, pertenceu � Casa dos Milagres, de Congonhas, e mostra um homem mulato bem-vestido. Foi vendido em 1916 a um comerciante de Congonhas, identificado como Senhor Baerlein, propriet�rio da Relojoaria da Bolsa do Rio de Janeiro. A alega��o de que se tratava do rosto do mestre do Barroco se baseou na imagem representada ao fundo da pintura, em segundo plano, que parecia id�ntica a uma obra de autoria do artista.
LINHA DO TEMPO
» 1720
Chegam a Ouro Preto, vindos de Portugal, Jo�o Francisco e tr�s filhos, sendo um deles Manuel Francisco Lisboa
» 1737
Em 26 de junho, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, � batizado na Matriz de Nossa Senhora da Concei��o de Ant�nio Dias, em Ouro Preto. Ele � filho de Manuel Francisco Lisboa com a negra forra Isabel. Alguns estudiosos apontam 1730 ou 1738 como o ano do nascimento
» 1750
O menino Antonio frequenta o internato do Semin�rio dos Franciscanos Donatos do Hosp�cio da Terra Santa, em Ouro Preto, onde aprende gram�tica, latim, matem�tica e religi�o
» 1755
Nasce F�lix Antonio Lisboa, irm�o de Aleijadinho. Foi padre e escultor talentoso
» 1763
O artista faz sua primeira interven��o com caracter�sticas arquitet�nicas: frontisp�cio e torres sineiras da Matriz de S�o Jo�o Batista, em Bar�o de Cocais, e ainda a imagem S�o Jo�o Batista
» 1766
Em Ouro Preto, o artista executa o projeto da Igreja de S�o Francisco de Assis, as imagens do frontisp�cio e a fonte-lavabo da sacristia
» 1768
Antonio se alista no Regimento da Infantaria dos Homens Pardos de Ouro Preto e, durante tr�s anos, presta o servi�o militar, o qual conjuga com uma atividade profissional intensa
» 1774
Recebe a encomenda do projeto da Igreja de S�o Francisco de Assis, de S�o Jo�o del- Rei, e executa o projeto da Igreja de S�o Jos�, de Ouro Preto. Em Sabar�, faz trabalhos para a Igreja do Carmo
» 1777
Nasce o filho de Aleijadinho, que recebe o mesmo nome do av� – Manuel Francisco Lisboa. O menino � batizado em 23 de janeiro na catedral do Rio de Janeiro. � detectada uma grave doen�a degenerativa, que deforma corpo e membros do artista
» 1780
Aleijadinho conclui o conjunto de talha, ret�bulos, p�lpitos e coro da Igreja de Nossa Senhora da Concei��o da Jaguara, encomendada pela Irmandade da Ordem Terceira do Carmo de Sabar�
» De 1784 a 1786
Aleijadinho esculpe o conjunto em madeira da Fazenda da Jaguara, em Matozinhos. No in�cio do s�culo 20, o acervo � transferido para a Matriz do Pilar, em Nova Lima, na Grande BH
» 1790
Recebe o apelido de Aleijadinho. Tem obra elogiada no levantamento de fatos not�veis, ordenado pela Coroa em 1782 e feito pelo vereador da C�mara de Mariana capit�o Joaquim Jos� da Silva
» 1790-1794
Aleijadinho se ocupa do ret�bulo do altar-mor da Igreja de S�o Francisco, em Ouro Preto, com grande equipe de oficiais de talha. Obra � a coroa��o da atividade de escultor e entalhador
» De 1796 a 1799
Nas capelas que recriam a via-cr�cis, em Congonhas, Aleijadinho esculpe o conjunto de 64 figuras em madeira. Nas paredes, h� as pinturas b�blicas de Manuel da Costa Ata�de (1762-1830)
» De 1800 a 1805
No Santu�rio Bas�lica do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, Aleijadinho esculpe os 12 profetas que receberam reconhecimento da Unesco como patrim�nio mundial
» 1812-1813
O estado de sa�de de Aleijadinho se agrava. Passa a viver em uma casa perto da Igreja do Carmo, em Ouro Preto, para supervisionar as obras que l� estavam em andamento
» 1814
Aleijadinho morre em 18 de novembro, segundo certid�o de �bito arquivada na Par�quia de Nossa Senhora da Concei��o. Est� sepultado sob o altar de Nossa Senhora da Boa Morte
» 1858
Publicada a primeira biografia do mestre do barroco, escrita pelo promotor de Justi�a Rodrigo Jos� Ferreira Bretas
» 1930
Feita a primeira exuma��o dos restos mortais de Aleijadinho, para lembrar o bicenten�rio do nascimento do artista, que, segundo nova pesquisa, nasceu em 1737 e n�o em 1730 ou 1738, como se considerava anteriormente
» 1947
Feita a segunda exuma��o, de forma clandestina. Peda�os de ossos s�o levados para exames na Inglaterra. Outras duas ocorreram em 1970 e 2003