
A historiadora e professora Luana Tolentino, que � negra, foi v�tima de preconceito racial nas ruas de Belo Horizonte. Em um depoimento postado no Facebook, que j� foi compartilhado por aproximadamente 2 mil pessoas, ela conta o ato vivido na capital mineira e cita outros casos que j� vivenciou. “Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina. Altiva e segura, respondi: N�o. Fa�o mestrado. Sou professora. Da boca dela n�o ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa”, disse.
A professora afirmou que n�o se sentiu ofendida com a pergunta. “Durante uma passagem da minha vida arrumei casas, lavei banheiros e limpei quintais. Foi com o dinheiro que recebia que por diversas vezes ajudei minha m�e a comprar comida e consegui pagar o primeiro per�odo da faculdade. O que me deixa indignada e entristecida � perceber o quanto as pessoas s�o entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora s� perguntou se eu fa�o faxina porque carrego no corpo a pele escura”, completou. “(..) Quando se trata das mulheres negras, espera-se que o nosso lugar seja o da empregada dom�stica, da faxineira, dos servi�os gerais, da bab�, da catadora de papel”.
Veja abaixo o depoimento na �ntegra da historiadora.
Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina. Altiva e segura, respondi: - N�o. Fa�o mestrado. Sou professora.
Da boca dela n�o ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa. N�o me senti ofendida com a pergunta. Durante uma passagem da minha vida arrumei casas, lavei banheiros e limpei quintais. Foi com o dinheiro que recebia que por diversas vezes ajudei minha m�e a comprar comida e consegui pagar o primeiro per�odo da faculdade.
O que me deixa indignada e entristecida � perceber o quanto as pessoas s�o entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora s� perguntou se eu fa�o faxina porque carrego no corpo a pele escura. No imagin�rio social est� arraigada a ideia de que n�s negros devemos ocupar somente fun��es de baixa remunera��o e que exigem pouca escolaridade. Quando se trata das mulheres negras, espera-se que o nosso lugar seja o da empregada dom�stica, da faxineira, dos servi�os gerais, da bab�, da catadora de papel.
� esse olhar que fez com que o porteiro perguntasse no meu primeiro dia de trabalho se eu estava procurando vaga para servi�os gerais. � essa mentalidade que levou um porteiro a perguntar se eu era a faxineira de uma amiga que fui visitar. � essa constru��o racista que induziu uma recepcionista da cerim�nia de entrega da Medalha da Inconfid�ncia, a maior honraria concedida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, a questionar se fui convidada por algu�m, quando na verdade, eu era uma das homenageadas.
N�o importa os caminhos que a vida me leve, os espa�os que eu transite, os t�tulos que eu venha a ter, os pr�mios que eu receba. Perguntas como a feita pela senhora que nem sequer sei o nome em algum momento ecoar�o nos meus ouvidos. � o que nos lembra o grande Mestre Milton Santos: "Quando se � negro, � evidente que n�o se pode ser outra coisa, s� excepcionalmente n�o se ser� o pobre, (...) n�o ser� humilhado, porque a quest�o central � a humilha��o cotidiana. Ningu�m escapa, n�o importa que fique rico."
� o que tamb�m afirma �ngela Davis. E ela vai al�m. Segundo a intelectual negra norte-americana, sempre haver� algu�m para nos chamar de "macaca/o". Desde a tenra idade os brancos sabem que nenhum outro xingamento fere de maneira t�o profunda a nossa alma e a nossa dignidade.
O racismo � uma chaga da humanidade. Dificilmente as manifesta��es racistas ser�o extirpadas por completo. Em fun��o disso, �ngela Davis nos encoraja a concentrar todos os nossos esfor�os no combate ao racismo institucional. � o racismo institucional que cria mecanismos para a constru��o de imagens que nos depreciam e inferiorizam. � ele que empurra a popula��o negra para a pobreza e para a mis�ria. No Brasil, "a pobreza tem cor. A pobreza � negra." � o racismo institucional que impede que os crimes de racismo sejam punidos. � ele tamb�m que imp�e � popula��o negra os maiores �ndices de analfabetismo e evas�o escolar. � o racismo institucional que "autoriza" a pol�cia a executar jovens negros com tiros de fuzil na cabe�a, na nuca e nas costas. � o racismo institucional que faz com que as mulheres negras sejam as maiores v�timas da mortalidade materna. � o racismo institucional que alija os negros dos espa�os de poder. O racismo institucional � o nosso maior inimigo. � contra ele que devemos lutar. A recente aprova��o da pol�tica de cotas na UNICAMP e na USP evidencia que estamos no caminho certo.