
Delfin�polis e Prat�polis – As roupas camufladas, mochilas cargueiras e chap�us fazem com que a marcha de uma fileira de 14 pessoas por �rea de mata e montes rochosos lembre um deslocamento militar.
Mas essa impress�o se esvai quando sobe o cheiro do fumo nos cigarros de palha, do caf� mateiro e do bacon estalando nas fogueiras entre pedras.
Os 13 homens e uma mulher integraram uma grande reuni�o nacional de mateiros, que entre os dias 20 e 24 deste m�s se encontraram na Serra da Canastra, entre Prat�polis e Delfin�polis, no Sul de Minas, para trocar t�cnicas de viv�ncia selvagem, acampamento e rastreamento, al�m de identifica��o de animais e plantas.
Chamado de “Uni�o Mateira”, o encontro reuniu uma profus�o de sotaques que comprovou a diversidade dos participantes, com modos e falas t�picas do Centro-Oeste ao Sul de Minas e das regi�es de Bauru, Sorocaba, Campinas e S�o Jos� dos Campos, em S�o Paulo.
A equipe do Estado de Minas acompanhou o encontro, que como qualquer reuni�o de pessoas que gostam do mato contou com longos deslocamentos em trilhas por cerca de 60 quil�metros, passando por 13 cachoeiras, ribeir�es, matas ciliares, campos rupestres, montanhas e fazendas, e com direito a uma surpresa no fim: o pedido de casamento de uma dupla que venceu o �ltimo obst�culo dessa etapa dos desafios e se sente pronta para os pr�ximos.

Quem puxou a fila pelas trilhas da serra com formato de ba� rochoso foi o organizador do encontro, F�bio Ceribelli, de 40 anos, morador de Prat�polis e que conhece muito bem os caminhos da Canastra. “A ideia � unir os sobrevivencialistas do Brasil.
Atualmente, somos desunidos, porque se cobra por tudo o que queremos fazer. Se eu ensino algo aqui, por outro lado, aprendo tamb�m. Ent�o n�o d� para cobrar. Por isso � um evento aberto e gratuito, que teve procura de mais de 200 pessoas. Por�m, desta vez s� pudemos fechar com 20, sendo que seis faltaram”, conta.
Sobrevivencialistas s�o pessoas que t�m como filosofia a aquisi��o de conhecimentos, t�cnicas, equipamentos e prepara��es que permitem sobreviver em casos de trag�dias ou emerg�ncias, sem para isso depender do poder p�blico.
No encontro, o perfil era de mateiros – pessoas que desenvolvem t�cnicas para ambientes selvagens ou rurais. Participaram ex-militares, agentes de seguran�a p�blica, caseiros e boiadeiros, mas tamb�m entusiastas da �rea e novatos com pouca experi�ncia.
Duas estruturas de camping no caminho das trilhas em Delfin�polis foram os �ltimos contatos com a civiliza��o. A marcha do grupo se destacava nesse caminho, porque os componentes exibiam fac�es nas cinturas e vestimentas que pareciam de combate, bem diferentes dos turistas com roupas leves que curtiam as cachoeiras no Camping Claro Casa de Pedra, ou das fam�lias � vontade no restaurante e nas atra��es aqu�ticas da Pousada Cachoeira Para�so.
Nesta �ltima, por exemplo, foram oito cachoeiras no caminho dos aventureiros, que aproveitaram para se banhar e abastecer os cantis. Para os olhos destreinados, a mata de cerrado por onde os cursos das cachoeiras serpenteiam parece comum. Mas para os mateiros mais experientes, aquele � um tesouro natural de beleza singular, onde brotos de orqu�deas despontam camuflados entre os galhos das �rvores, ganhando f�lego para em alguns meses desabrochar.
A Cachoeira do Tri�ngulo, com suas sucessivas quedas d’�gua de um pared�o de 32 metros, � a despedida da parte puramente contemplativa da expedi��o na Canastra, separando os turistas dos mateiros, j� que a forma��o precisa ser escalada para alcan�ar as trilhas selvagens.
Um dos participantes que ajudavam a dar as instru��es para a subida era o adestrador de c�es Arquimedes Garrido, de 50, natural de Limeira (SP). A miss�o de vencer a muralha de pedras cinzentas e fraturadas foi cumprida por v�rias vias, com alguns escaladores mais experientes usando as fissuras nas rochas para encaixar seus p�s e m�os, enquanto outros tiveram o aux�lio de cordas.

“Esta � uma excelente oportunidade para passar conhecimentos e aprimorar t�cnicas tamb�m. Muita gente � ensinada a fazer a opera��o de um jeito nas For�as Armadas, por exemplo, mas vem aqui para o encontro e aprende uma forma diferente e melhor para uma situa��o espec�fica”, destacou Arquimedes.
Do alto da cachoeira, o grupo avan�a num espiral de curvas por tr�s quil�metros at� o primeiro topo, com 1.220 metros, um mirante de ventos r�pidos de onde se enxerga, finalmente, as escarpas da forma��o da Serra da Babil�nia, um dos mais desafiadores obst�culos da Canastra.
Mas o �ltimo desafio do primeiro dia do encontro ainda estava por vir. Foi preciso descer 1,6 quil�metro numa garganta com desn�vel de 260 metros e entrar numa mata ciliar, pois o acampamento seria dentro da mata fechada.
A navega��o foi extremamente lenta e dif�cil nesse ambiente vedado por �rvores, arbustos, cip�s, touceiras de espinhos, teias de aranhas, troncos ca�dos e sulcos abertos por enxurradas.
Na parte mais �ngreme, com quase 90 graus, foi preciso duas t�cnicas de descida. A primeira foi o descarregamento de todas as mochilas na parte mais alta, seguida da disposi��o de cada componente ao longo da pirambeira, ancorando-se como podia, com os p�s fincados nos barrancos ou abra�ado � vegeta��o.
Cada mochila foi ent�o descida pela fileira de pessoas, at� a �ltima. Depois, para prosseguir foi necess�rio desenrolar uma corda na encosta e do uso de t�cnicas de rapel.
O esfor�o foi compensado, pois no fundo do vale a mata escondia um c�rrego de �guas cristalinas e g�lidas, que serviu para abastecer os cantis e tamb�m para o banho. Para dormir, cada um encontrou um espa�o na outra margem do riacho, dependurando redes entre as �rvores ou limpando a �rea de mata fechada para armar barracas.