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Estado de Minas

Resgate de pinturas originais reconstr�i mem�ria art�stica de Minas

Mais um cap�tulo da tradi��o de pinturas art�sticas feitas sobre paredes se revela em restauro no Col�gio Sagrado Cora��o de Jesus, em BH. Trabalho evidencia o resgate de uma preciosidade, mas tamb�m um problema: as reformas desastrosas que sepultam tesouros sob v�rias dem�os


postado em 01/08/2017 06:00 / atualizado em 01/08/2017 07:50

Com experiência em outros projetos, Valessa Costa Soares se dedica a revelar parte da história do colégio (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Com experi�ncia em outros projetos, Valessa Costa Soares se dedica a revelar parte da hist�ria do col�gio (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

Uma parte centen�ria da hist�ria de Belo Horizonte, embora invis�vel para a maioria da popula��o, ganha uma interven��o esmerada, que combina t�cnica, trabalho art�stico e muita dedica��o. Trata-se do restauro da pintura parietal – feita diretamente nas paredes, sobre o reboco fresco – do Col�gio Sagrado Cora��o de Jesus, no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul, que traz de volta as formas originais, entre elas uma pintura em 3D, na qual sombra, relevo e profundidade agu�am a curiosidade e encantam os olhos, em um clima de terceira dimens�o. Encarregado do servi�o, iniciado no ano passado, o restaurador uruguaio Andr�s Tasende Sfeir explica que o mural, “com uma interpreta��o art�stica do m�rmore”, ocupa uma �rea de cerca de 300 metros quadrados e n�o tem autoria conhecida. “Tudo indica que foi feito por um italiano e seus aprendizes, no in�cio do s�culo passado”, afirma. Em Minas, outros tesouros escondidos sob camadas de tinta (veja quadro), em capelas e igrejas, est�o sendo redescobertos para valorizar ainda mais o patrim�nio cultural.

As pinturas acompanham os corredores do col�gio, fundado em 1911 pelas Mission�rias Servas do Esp�rito Santo e tombado pelo munic�pio. Ao longo dos murais, Andr�s vai mostrando os trechos j� conclu�dos, alguns cobertos como forma de prote��o – pois a escola se encontra em obras – e outros ainda necessitados de restauro. A a��o do tempo, repinturas, umidade e uso constante em uma unidade de ensino com 800 alunos, al�m de a��es inadequadas, deixaram marcas no mural, como desprendimento da pintura, perdas e deforma��es.

Para Andr�s, respons�vel tamb�m pelo restauro dos quadros da via-cr�cis e imagens da capela do Sagrado Cora��o de Jesus, h� dois anos, o fundamental em uma restaura��o est� no resgate das caracter�sticas originais. “N�o temos aqui s� uma quest�o est�tica, para ficar bonitinho”, afirma, explicando que, antes de come�ar o trabalho, observou toda a extens�o das pinturas, verificou os pontos de umidade para, ent�o, decidir o caminho a seguir. “Deu para ver que o mural do andar t�rreo foi obra de um pintor e, mais adiante, dos aprendizes. Al�m disso, o material empregado, na �poca, era uma p�tina, um pigmento ralo, diferente de tinta.”

SENSIBILIDADE Em alguns pontos houve perda total da pintura, o que desafiou Andr�s e a assistente de restaura��o Valessa Costa Soares, estudante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com participa��o em projetos de relev�ncia, como o teatro de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e a Igreja S�o Jos�, em BH. Na tarde de ontem, diante de um ponto no mural que precisou ser reconstitu�do, ele esclareceu: “Ao contr�rio do que todos pensam, restaura��o n�o � trabalho art�stico, mas puramente t�cnico. Assim, precisamos desenvolver a sensibilidade. Mesmo sendo desenhista e pintor, tive que unir t�cnica e arte para fazer as reconstitui��es, sem comprometer a leitura total”.

O restaurador uruguaio Andrés Tasende Sfei mostra os traços descobertos: 'Interpretação artística do mármore'(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O restaurador uruguaio Andr�s Tasende Sfei mostra os tra�os descobertos: 'Interpreta��o art�stica do m�rmore' (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Acostumado a trabalhar em sil�ncio, ouvindo m�sica, o uruguaio custou a se acostumar com o burburinho do col�gio, agora no per�odo de f�rias. “Fico muito concentrado. � a primeira vez que trabalho em uma escola. Na hora em que toca a campainha para o recreio, eu sinto ainda mais a diferen�a”, revela o restaurador, que mora h� oito anos na capital e tem uma hist�ria bem particular com as Gerais. “Vim para Minas a fim de conhecer a obra de Aleijadinho (Antonio Francisco Lisboa – 1737/1814). Minha tia, a escultora Adela Neffa, esteve aqui em 1957, participando de um congresso de belas-artes e visitou Ouro Preto para ver de perto a obra do artista.”

A conclus�o do servi�o n�o tem data prevista e Andr�s adianta que a etapa final inclui aplica��o de duas ou tr�s camadas de verniz com filtro solar, iniciativa eficaz para proteger da incid�ncia da luz do dia. Para garantir a preserva��o, durante o per�odo letivo o trabalho de restauro � acompanhado de palestras em sala de aula para que as turmas conhe�am os m�todos e a import�ncia de conservar obras de arte.

 

Riqueza (des)coberta

 

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 10/5/17)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 10/5/17)
1) Museu Mineiro, em Belo Horizonte
Achado no Museu Mineiro, no Circuito Pra�a da Liberdade, em Belo Horizonte, entusiasma a dire��o da institui��o, encanta restauradores e se torna mais um atrativo para os visitantes que chegam ao casar�o, erguido na �poca de constru��o da capital. Em maio de 2017, bem na entrada do equipamento cultural da Avenida Jo�o Pinheiro, no Circuito Cultural Pra�a da Liberdade, foi encontrado sob sete camadas de tinta, a �ltima delas na cor preta, um conjunto de pinturais parietais – feitas diretamente nas paredes, sobre o reboco –, que podem ser de autoria do mesmo artista que trabalhou no Pal�cio da Liberdade, o alem�o Frederico Steckel (1834-1921).

(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 30/5/17)
(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 30/5/17)
2) Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Ouro Preto
O restauro da Igreja Nossa Senhora das Dores, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Regi�o Central, traz de volta pinturas escondidas por d�cadas sob v�rias camadas de tinta no forro e nas paredes – em alguns pontos, at� 10 dem�os. A maior descoberta est� logo na entrada, no forro do �trio, onde a equipe encarregada do servi�o encontrou guirlandas em policromia tampadas pelo branco, que deixava � mostra apenas a cena do calv�rio, correspondente a 10% do trabalho original. Reivindicada pela comunidade e custeada integralmente com recursos do Fundo Municipal do Patrim�nio (Funpatri) no valor de R$ 970 mil, a obra dever� ser conclu�da e entregue em outubro.

(foto: Samuel Consentino/Prefeitura de Mariana/Divulgação - 19/5/17)
(foto: Samuel Consentino/Prefeitura de Mariana/Divulga��o - 19/5/17)
3) Igreja Matriz Nossa Senhora da Concei��o, em Mariana
Em restauro desde 2015, a Matriz Nossa Senhora da Concei��o, no distrito de Cachoeira do Brumado, em Mariana, na Regi�o Central, tamb�m tem a beleza revelada. Durante a obra, foram descobertas v�rias riquezas da policromia original da igreja, como os elementos florais nos altares, al�m de pinturas em estilo chin�s encontradas no forro do ret�bulo. Com a remo��o das camadas de tinta, foi poss�vel contemplar tamb�m no ret�bulo, dedicado a Nossa Senhora do Ros�rio, um ros�rio entalhado na mesa e a imagem de um sagrado cora��o de Jesus. E mais: ao ser feita a limpeza sob o ret�bulo-mor, foram encontrados fragmentos de elementos de uma imagem de Nossa Senhora da Concei��o.

(foto: Túlio Santos/EM/DA Press - 21/7/14)
(foto: T�lio Santos/EM/DA Press - 21/7/14)
4) Capela do Orat�rio da Igreja S�o Jos�, em Belo Horizonte
Constru�da antes mesmo da centen�ria Igreja S�o Jos�, � qual est� ligada, a Capela do Orat�rio, no Centro de BH, teve escondidas em suas paredes, durante d�cadas, pinturas que ressurgiram em cores, formas e palavras em latim. Entre os achados, em 2014, foram destaque a l�mpada do Sant�ssimo Sacramento, que ficou esquecida no por�o da igreja durante muito tempo e recebeu um banho de n�quel. A Igreja S�o Jos� � destaque importante nessa hist�ria de pinturas reveladas, pois, depois das obras no seu interior, perdeu a cor bege e ganhou as cores da �poca da constru��o, a partir dos projetos originais.

Pinceladas que escondem joias


Camadas e camadas de tinta, pe�as sacras desfiguradas, pinturas desaparecidas e interven��es desastrosas em igrejas e pr�dios p�blicos. Ao longo dos tempos, o patrim�nio cultural de Minas sofreu maus-tratos, e a redescoberta de trabalhos art�sticos, na capital e no interior, evidencia esse tesouro que ficou escondido. Com mais de 30 anos no setor de restaura��o de bens culturais e atualmente � frente da Igreja S�o Jos�, no Centro de Belo Horizonte, a especialista Maria Regina Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, tem algumas explica��es para o caso.

“Muitas vezes, as pessoas queriam dar um car�ter de ‘novo, limpinho’ ao ambiente ou �s pe�as sacras, e ent�o mandavam passar tinta. Em alguns casos, a camada p�de ser removida, como est� ocorrendo em v�rias igrejas de Minas, mas h� outras situa��es. Em Belo Horizonte, por exemplo, paredes com pinturas de pr�dios p�blicos foram raspadas, impedindo completamente a preserva��o”, diz Maria Regina.

Como recado para religiosos, zeladores, administradores paroquiais e outras pessoas que cuidam do patrim�nio, a restauradora recomenda jamais usar �gua para limpar altares, imagens e outros objetos de relev�ncia hist�rica. “J� houve casos em que as pessoas lavavam altares de ouro com mangueira. Isso n�o pode de jeito nenhum. Em caso de preservar um bem cultural, o melhor mesmo � chamar um especialista. Mas a conscientiza��o sobre a conserva��o mudou nos �ltimos anos, o que � saud�vel”, ressalta.


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