
No Barro Preto, o local escolhido pela maioria dos ambulantes � o trecho da Avenida Augusto de Lima entre ruas Araguari e Paracatu. O camel� Neles Almeida Rezende, de 38 anos, que � pedreiro e artes�o, conta que trabalha na rua todas as vezes que est� sem emprego. Ele v� com desconfian�a a pol�tica da prefeitura para o setor, que envolve dois shoppings populares – um no Centro e outro em Venda Nova. Eles est�o acolhendo temporariamente os camel�s, que ficar�o por quatro meses trabalhando em bancas, ao custo mensal de R$ 30, at� a aprova��o de projeto de lei enviado pelo Executivo � C�mara Municipal para ordenar a atua��o dos ambulantes em car�ter definitivo.
“O aluguel pode n�o ser caro, mas puseram v�rias pessoas em um lugar em que n�o entra gente para comprar. No Centro, o shopping � ao lado das lojas dos chineses, que s�o nossos fornecedores. Minha irm� vende bijuterias e foi sorteada. Ela est� passando fome”, afirma. Vendedor de um artefato que promete “acabar com o estresse”, ele defende outro local para os ambulantes. “Um lugar adequado, onde pelo menos passe gente para ver nossa mercadoria”, diz.

Pedestre sem vez

Vendedor de roupas no Uai, Erick Maia, de 24, conta que vendeu a moto para investir no neg�cio. “A seguran�a � a melhor coisa do mundo. Ningu�m vem aqui nem para roubar nem para comprar”, diz, em tom de bom humor. Segundo ele, a m�nima visibilidade s� ocorre por causa da feira de roupas que tamb�m ocupa o piso inferior. “Vende roupa, porque o resto tem na rua. Ningu�m est� vendendo nada. A concorr�ncia l� fora � desleal. Tirando os camel�s da rua, acredito que esse problema ser� resolvido”, diz, mostrando o livro-caixa com ganho de R$ 0 em v�rios dias. Mas ele n�o desanima. “Os camel�s que est�o aqui querem uma oportunidade. Acredito que vai dar certo, mas acredito tamb�m que a prefeitura vai tirar os ambulantes. Muitos estavam aqui dentro e j� foram para a rua”, denuncia.


Jobson dos Santos, de 39, tamb�m torce pela ordena��o do espa�o em Venda Nova. “Se n�o houver provid�ncia, n�o teremos o dinheiro nem do almo�o. Muita gente est� fazendo o shopping de dep�sito de mercadoria e trabalhando na rua, e ningu�m est� fazendo nada”, relata. Camel� h� 12 anos em Venda Nova, Poliana Santos, de 29, que tem banca em frente ao Uai, est� ansiosa pelo in�cio do cadastramento da prefeitura. “Falaram que seria feito no dia 27, mas de qual m�s?”, questiona. Ela � a favor de se instalar num shopping, desde que todos saiam da rua, pois, caso contr�rio, “o cliente n�o compra”. “� complicado ficar na rua. Embora a gente venda bem, atrapalhamos a via p�blica. Se tirar todos, acredito que os clientes ir�o at� onde estivermos.”

CONVOCA��O Em entrevista coletiva anteontem, a secret�ria municipal de Servi�os Urbanos, Maria Caldas, confirmou que uma opera��o ser� feita em Venda Nova, a exemplo do que ocorreu no Centro, mas n�o informou data ou prazos. Sobre o Barro Preto, a assessoria de imprensa afirmou que nada est� previsto para a regi�o. No caso do Hipercentro, a prefeitura deu um ultimato aos 576 dos 1.134 camel�s cadastrados que ainda n�o se manifestaram sobre o interesse em ocupar vagas nos shoppings populares. Eles t�m at� o dia 21 para faz�-lo ou perder�o o direito aos postos de trabalho.
Ontem, foi publicada no Di�rio Oficial do Munic�pio (DOM) portaria convocando as pessoas que se disseram camel�s do Centro, mas que n�o foram identificadas inicialmente pelas equipes de cadastramento, para comprovar atua��o como ambulantes na �rea. De acordo com a Secretaria de Servi�os Urbanos, durante atendimento individual feito no fim de junho no Parque Municipal para esclarecimento das novas oportunidades, cerca de 900 pessoas estiveram no local alegando ser ambulantes, que, por algum motivo, n�o participaram do cadastro.
Os interessados que se encaixam nessa condi��o devem comparecer entre os dias 7 e 11 ao Shopping Uai (Rua Saturnino de Brito, 17, Centro), das 9h �s 17h, com documentos de identidade e CPF, comprovante de resid�ncia e declara��o de atua��o como camel� no Hipercentro de BH, conforme modelo fornecido pelo munic�pio, acompanhado de material que prove a condi��o.
Entenda o caso
» A Prefeitura de BH est� fazendo valer o C�digo de Posturas e iniciou fiscaliza��o coibindo a presen�a de camel�s nas ruas e avenidas da �rea central da cidade. Anunciado em mar�o e institu�do por meio de decreto no fim de junho, o Plano de A��o do Hipercentro traz propostas para acabar com a prolifera��o e atua��o dos camel�s nessa regi�o da cidade.
» Em troca, a administra��o municipal promete subsidiar, durante cinco anos, os custos de vendedores ambulantes em shoppings populares privados, por meio de um projeto de lei enviado � C�mara Municipal. O modelo come�a com os ambulantes pagando apenas R$ 30 mensalmente e ocupando espa�os com a configura��o de feiras livres dentro dos centros de com�rcio popular.
» Se aprovado o projeto de lei, o Legislativo vai autorizar a prefeitura a subsidiar o aluguel dos ambulantes em shoppings populares durante cinco anos. Eles come�ar�o pagando R$ 30 e, ao fim do quinto ano, estar�o pagando 100% do valor de R$ 600 relativo ao aluguel. Hoje, o pre�o m�dio de um box gira em torno de R$ 1,2 mil.
» A diferen�a, segundo a PBH, � que eles j� ter�o passado por cursos profissionalizantes que permitir�o a eles uma organiza��o melhor para dar conta de tocar seus neg�cios. As primeiras vagas em cursos dessa natureza estar�o dispon�veis para in�cio das capacita��es em setembro.
» Enquanto o projeto de lei n�o � aprovado, a PBH prop�e que os ambulantes trabalhem em bancas de shoppings populares parceiros ao custo de R$ 1 por dia, pelo per�odo de quatro meses. Estavam dispon�veis 1.547 vagas para os 1.134 comerciantes informais cadastrados pela prefeitura. Em meio a protestos e confrontos com a pol�cia que fecharam a Pra�a Sete, foram sorteadas, no in�cio de julho, 871 para o shopping Uai, na Avenida Padre Pedro Pinto, em Venda Nova, e 676 para o Uai, no Centro, ao lado da rodovi�ria.
» Outros postos de trabalho ser�o abertos em feiras livres e feiras regionais, principalmente para a venda de comida e artesanato.
» A opera��o que mirou o Hipercentro se repetir� em Venda Nova, anunciou a prefeitura.