
A intensifica��o da abordagem pela Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) a �nibus que circulam em BRs de Minas Gerais revela que o tr�fico de drogas tem usado os coletivos como frequente ferramenta para escoar e distribuir a produ��o de drogas pelo estado. Enquanto em todo o ano passado os agentes se depararam com apenas dois casos de drogas levadas por passageiros em Minas, de janeiro at� ontem j� s�o 25 casos – aumento de 1.150% – tr�s deles s� na �ltima semana. Ainda n�o h� a contabiliza��o final do material recolhido em todas as ocorr�ncias, mas em apenas 15 dos 25 casos j� foi poss�vel tirar de circula��o 291 quilos de maconha, 45 quilos de coca�na e 1,1 quilo de crack. Nas outras 10 ocorr�ncias h� somente o n�mero de unidades apreendidas, que somam mais 114 tabletes de maconha, 18 de coca�na e 533 pinos e por��es da mesma droga. Para a PRF, quem se arrisca nesse tipo de situa��o normalmente leva uma quantidade menor de entorpecente, com o objetivo de chamar menos a aten��o e minimizar perdas caso seja descoberto. A Pol�cia Civil acredita que o flagrante, que tem ocorrido na m�dia de uma vez a cada nove dias, revela um perfil de traficante que est� se aventurando e normalmente � novato no crime.
No primeiro deles, um passageiro de um �nibus que saiu de Foz do Igua�u (PR) com destino a Salvador (BA) foi preso na BR-262, em Arax�, com 12 quilos de maconha. Ele informou ter comprado a droga no Paran�, e que revenderia o material em Belo Horizonte. No mesmo dia, um �nibus que seguia de Campinas (SP) para Salvador foi parado na BR-116, em Te�filo Otoni, e cinco sacolas com subst�ncia an�loga a coca�na, totalizando cinco quilos, foram apreendidas. A passageira, de 36 anos, disse ser moradora de Itapetinga (BA).
Segundo a inspetora Fl�via Cristina, chefe do N�cleo de Comunica��o da PRF em Minas, em 2016 houve uma concentra��o de atividades da PRF no Rio de Janeiro, devido aos Jogos Ol�mpicos e Paral�mpicos, o que contribuiu diretamente para o baixo n�mero de flagrantes nos coletivos. Neste ano, todo o trabalho de fiscaliza��o foi intensificado pela corpora��o, o que se refletiu no aumento das apreens�es de drogas em �nibus.
Ainda segundo Fl�via Cristina, a estrat�gia da PRF � continuar capacitando seus servidores com treinamentos t�cnicos espec�ficos de fiscaliza��o de drogas em ve�culos. A inspetora acrescenta que seria muito importante que nas rodovi�rias houvesse fiscaliza��o mais rigorosa de bagagens. “Se pudesse ser como o controle dos aeroportos, seria excelente. A simples identifica��o de a quem pertence a bagagem j� ajuda”, afirma.
O pesquisador da Funda��o Jo�o Pinheiro Marcus Vinicius Cruz, integrante do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, destaca que, apesar do aumento de apreens�es em 2017 em rela��o a 2016, o n�mero ainda � muito pequeno se considerada a quantidade de viagens de �nibus nas BRs de Minas. “A melhor forma de combater esse problema, al�m de controle da bagagem dos passageiros, seria o uso de c�es farejadores com frequ�ncia, seja no embarque, desembarque ou nas paradas de �nibus”, destaca o especialista em seguran�a p�blica. Para ele, outra estrat�gia deveria ser o investimento em intelig�ncia, no sentido de mapear as principais rotas. “Com isso, seria poss�vel lan�ar opera��es conjuntas entre todas as organiza��es voltadas para esse fim. N�o apenas o tr�fico, mas outros delitos que tamb�m podem ser cometidos, como roubo de carga e roubo dentro dos �nibus”, afirma.
Passageiros do risco
Para o delegado que comanda o Departamento Estadual de Combate ao Narcotr�fico (Denarc) da Pol�cia Civil, Wagner Pinto, o trabalho de intelig�ncia e a coleta de informa��es sobre essas ocorr�ncias mostra um perfil de quem leva drogas em �nibus. “S�o pessoas mais aventureiras, menos organizadas no padr�o do tr�fico de drogas, com um certo amadorismo. S�o praticamente iniciantes, pessoas descapitalizadas, com menos quantidade de recursos para investir”, afirma. Ele ressalta que uma caracter�stica comum a esses “passageiros do crime” � que, como t�m menor poder aquisitivo, est�o buscando se estruturar como traficantes. “Eles pegam o �nibus e se aventuram. Colocam na mochila ou na mala e firmam um contrato de risco”, disse.
O delegado informa que n�o h� uma regra sobre a �rea de atua��o dessas pessoas. “Na rodovi�ria de BH, volta e meia h� informa��es de pessoas trazendo drogas. Quando fazemos a abordagem, verificamos que a den�ncia procede”, conta. Wagner Pinto defende maior fiscaliza��o nas rodovi�rias por meio de aparelhos de raios x, a exemplo do que ocorre nos aeroportos, e do cadastramento de passageiros, n�o apenas em n�vel interestadual, como ocorre atualmente. “� importante associar a bagagem ao passageiro. A gente encontra quantidade de drogas, mas quem � o dono? A pessoa joga fora o bilhete e a fiscaliza��o n�o encontra quem est� de posse do material”, afirma, acrescentando que o procedimento ajudaria tamb�m em outras situa��es, como o porte ilegal de arma.
O titular do Denarc ressalta ainda que a falta de procedimento para identifica��o de passageiros e bagagem dificulta o trabalho de fiscaliza��o, pois a malha rodovi�ria � muito grande e o quantitativo de transporte intermunicipal e interestadual � gigantesco. “Sendo assim, a abordagem da PRF, por exemplo, � aleat�ria ou embasada em informa��es preliminares. � dif�cil esse controle”, afirma. O policial destaca que Ribeir�o Preto, no interior de S�o Paulo, � um grande centro de aquisi��o de maconha. Mas v�rios outros pontos atraem traficantes, como Mato Grosso (refer�ncia em maconha e coca�na) e Paran�. “S�o v�rias as rotas para as drogas chegarem at� a capital e o interior de Minas”, completa.
Procurada, a Ag�ncia Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) informou que sua Resolu��o 1.432, de 2006, estabelece que, havendo ind�cios que justifiquem a verifica��o, agentes de fiscaliza��o poder�o pedir a abertura das bagagens por passageiros, nos pontos de embarque, e das encomendas, nos locais de recebimento. Al�m disso, “as transportadoras s�o obrigadas a manter controle de identifica��o das bagagens despachadas nos bagageiros e de sua vincula��o a seus propriet�rios”, afirma, acrescentando: “Em uma abordagem de fiscaliza��o, o motorista deve, quando solicitado, mostrar as vias dos t�quetes de identifica��o de bagagem devidamente vinculadas aos passageiros”. A ag�ncia informa que a n�o vincula��o de malas com seus donos � pass�vel de puni��o.
300kg de maconha em fundo falso de carreta
Uma fiscaliza��o de rotina da Pol�cia Rodovi�ria Federal erminou na apreens�o de mais de 300 quilos de maconha na tarde de ontem na BR-262, em Florestal, na Regi�o Metropolitana de BH. A droga estava escondida no fundo falso de uma carreta. O motorista foi preso, mas n�o deu detalhes do destino do material ou quanto recebeu para fazer o transporte.