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Estado de Minas

Imagens e objetos sacros resistem �s chamas de inc�ndio provocado por ataque a bancos

Imagens e outros objetos sacros, a maioria do s�culo 18, resistem �s chamas de inc�ndio que consumiu pr�dio de Pitangui depois de ataque a banco nos dois primeiros andares


postado em 22/09/2017 06:00 / atualizado em 22/09/2017 08:21

Trancadas numa sala e envolvidas em plástico depois de terem sido restauradas, as peças não sofreram danos, o que os devotos classificaram como 'milagre'(foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.APRESS )
Trancadas numa sala e envolvidas em pl�stico depois de terem sido restauradas, as pe�as n�o sofreram danos, o que os devotos classificaram como 'milagre' (foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.APRESS )

Pitangui – “Foi milagre.” A frase foi repetida � exaust�o por moradores da cidade colonial de Pitangui, no Centro-Oeste mineiro, onde 45 imagens sacras – a maioria do in�cio do s�culo 18 e tombada pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) – resistiram a um inc�ndio na semana passada. As chamas se alimentaram de boa parte do pr�dio de tr�s andares onde o acervo estava depositado.


Para refor�ar a teoria dos fi�is, ap�s os bombeiros controlarem as labaredas, as pe�as foram trancadas numa sala at� serem transferidas para um lugar seguro, longe da cobi�a de quadrilhas especializadas no furto de obras sacras. Eis que novo mist�rio s� fez aumentar a f� dos devotos.

Quem explica � Vandeir Santos, do Instituto Hist�rico de Pitangui (IHP): “Duas diretoras trancaram a sala. Quando foram abri-la, procuraram a penca de chaves e n�o a encontraram. Acionaram, ent�o, um chaveiro, pois n�o havia c�pia. Assim que a porta foi aberta, encontraram a penca dentro da sala. Como foi parar l� ningu�m sabe explicar”.

Os moradores est�o aliviados com a preserva��o das pe�as, mas indignados com a destrui��o do pr�dio. O im�vel fica no Centro hist�rico e era ocupado por uma ag�ncia do Banco do Brasil (primeiro e segundo andares) e pelo Instituto Hist�rico de Pitangui (terceiro pavimento). Por volta das 2h de 11 de setembro, mais de 20 criminosos invadiram a cidade com armamentos pesados, trocaram tiros com a pol�cia e usaram dinamites para explodir o cofre da ag�ncia.

Ningu�m se feriu. Mas em poucos segundos os explosivos incendiaram o primeiro piso. Uma cortina de fuma�a, acompanhada de fuligens e calor, se alastrou para o segundo e o terceiro pavimentos. O desespero tomou conta dos moradores, pois o acervo do museu conta a hist�ria da s�tima cidade mais antiga do estado, fundada em 1715 por bandeirantes paulistas que perderam a Guerra dos Emboabas (1707-1709).

Bombeiros de Nova Serrana, a 50 quil�metros de Pitangui, foram acionados. O calor no interior do pr�dio gerou ang�stia e preocupa��o do lado de fora, pois as imagens, muitas com integra��o crom�tica e assentadas com folhas de ouro, foram restauradas em 2015 por t�cnicos da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg). Por isso, at� hoje, est�o embaladas em pl�stico para evitar contato com a poeira.

Houve receio de que o calor danificasse as pe�as de madeira ou at� mesmo derretesse o pl�stico, o que tamb�m poderia prejudicar o acervo. Mas como propagaram os fi�is: “Foi milagre”. Resta saber a qual santo a prote��o deve ser atribu�da. Ao negro Benedito? Uma imagem do servo de Deus faz parte do acervo. O santo � popular em cidades como Pitangui, onde a escravid�o deu origem a comunidades quilombolas.

Ou talvez o milagre tenha sido obra de Nossa Senhora das Dores? A imagem da santa, esculpida em madeira no s�culo 18, pesa 60 quilos. � a segunda vez que a pe�a resiste a inc�ndio. Em 1914, as labaredas destru�ram por completo a antiga matriz. Na cidade, contam que um senhor franzino desafiou as chamas, entrou no templo que n�o existe mais e, sozinho, retirou a imagem de l�.

O acervo tamb�m tem um exemplar de Nossa Senhora da Penha, levada pelos primeiros brancos que desbravaram o ent�o in�spito sert�o do que viria a ser, em 1720, a capitania das Gerais. Tem 80 cent�metros de altura e 40 cent�metros de largura. Ainda h� imagens do flecheiro S�o Sebasti�o, tema de m�sica O milagre da flecha, sucesso na voz de Moacyr Franco.

“Veja o santo de passagem/ N�o me toque nas imagens/ Me avisou o sacrist�o/ Pois l� ningu�m explicava, uma flecha que faltava/ Na imagem de S�o Sebasti�o”, diz a can��o. Coincidentemente, falta uma flecha no Sebasti�o de Pitangui. Todo 20 de janeiro, data dedicada ao santo, uma multid�o de cat�licos vai � igreja erguida em homenagem ao servo de Deus. Umbandistas tamb�m participam da celebra��o, pois o sincretismo de Sebasti�o, na religi�o afro-brasileira, � com Oxossi, o orix� das matas.

No acervo ainda h� casti�ais, c�lices, crucifixos e quadros. No �ltimo fim de semana, todas as pe�as foram retiradas, numa opera��o sigilosa, do que sobrou do pr�dio. Foram levadas para um local seguro e fora das fronteiras de Pitangui.

As pe�as poderiam estar em local apropriado, no Museu Sacro do munic�pio. Contudo, a restaura��o do sobrado, financiada principalmente com recurso do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) das cidades hist�ricas, foi paralisada em 2015. O pr�dio est� fechado ao p�blico h� mais de 20 anos. Reabri-lo n�o depende de milagre.


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