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Estado de Minas

Sufocadas pela dor e pobreza, fam�lias das v�timas do massacre em Jana�ba tentam reconstruir a vida

Fam�lias das v�timas do inc�ndio em creche encaram a tarefa de retomar a rotina sofrendo n�o s� com a aus�ncia, mas com uma combina��o de desemprego, seca e falta de estrutura


postado em 15/10/2017 06:00 / atualizado em 15/10/2017 07:51

Cássia de Jesus, que perdeu o caçula, cria sozinha Matheu (E), de 7, João Paulo, de 9, além da mais velha, de 13: muitas contas para pouco dinheiro(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
C�ssia de Jesus, que perdeu o ca�ula, cria sozinha Matheu (E), de 7, Jo�o Paulo, de 9, al�m da mais velha, de 13: muitas contas para pouco dinheiro (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)

Amanh�, quando o Sol ardente abrir seus olhos sobre Jana�ba, ainda coberta de luto pela morte de nove crian�as, pela professora que n�o vai voltar para a escola, pelo ato inexplic�vel do vigia que tocou fogo na creche lotada, encontrar� na cidade do Norte de Minas dezenas de fam�lias com a dif�cil tarefa de recome�ar. Umas sem seus pequenos, outras com a preocupa��o dos que ainda lutam pela vida em um hospital, todas elas com o desafio de iniciar a semana tentando retomar a rotina ao mesmo tempo em que lidam com a dor da aus�ncia, somada � dura realidade de um munic�pio castigado pela seca, pela pobreza, pela viol�ncia, pela falta de infraestrutura e de emprego.


Mesmo com toda a dificuldade, resta �s fam�lias das v�timas do inc�ndio provocado pelo vigia Dami�o Soares dos Santos, em 5 de outubro, na Creche Gente Inocente, a miss�o de reconstruir a vida depois da trag�dia que despertou rea��o at� do papa Francisco. Mas, para elas, o “come�ar de novo”, cantado na letra de Ivan Lins, e provar que valer� a pena ter amanhecido, como diz a can��o, n�o significa apenas superar a dor e o luto do momento. A maioria dos pais das pequenas v�timas do massacre vivem em extrema pobreza e sofrem com o desemprego e a pior seca da hist�ria na regi�o. Moradores dos bairros Rio Novo e Barbosa, �reas carentes de Jana�ba, vivem em um lugar onde n�o h� rede de esgoto e a quase totalidade das ruas sem asfalto tem pontos de ac�mulo de lixo.

Durante quatro dias, a reportagem do Estado de Minas conviveu de perto com fam�lias que tiveram filhos mortos ou feridos na trag�dia. Descobriu que, nas condi��es adversas, a dor do massacre � multiplicada. Se “valeu a pena ter sobrevivido”, mesmo aquelas m�es que agradecem a Deus pela salva��o dos que escaparam do massacre passaram a sofrer ainda mais depois da trag�dia. H� casos de mulheres que tiveram que largar o servi�o, j� que, sem a creche, interditada, n�o t�m onde deixar os pequenos. Outras, traumatizadas, t�m medo de confiar a seguran�a dos filhos a outra institui��o.

"Come�ar de novo E contar comigo Vai valer a pena Ter amanhecido Ter me rebelado Ter me debatido Ter me machucado Ter sobrevivido"

Trecho da m�sica Come�ar de novo, de Ivan Lins

C�ssia Medeiros de Jesus, de 32 anos, � uma das faces dessa soma de dificuldades. “N�o estou conseguindo dormir. A casa ficou muito ruim sem a minha Lindinha”, diz a m�e de Yasmin Medeiros Salvino, de 4 anos, uma das v�timas do ataque � creche, que morreu na Santa Casa de Montes Claros no dia seguinte ao inc�ndio. Sofrimento j� n�o � novidade na vida dela, mas a ang�stia aumentou mais ainda com a perda da ca�ula – irm� de Thais, de 13, Jo�o Paulo, de 9, e Mateus, de 7.

As crian�as s�o filhas de pais diferentes, mas a m�e as cria sozinha. Mora com as tr�s em barrac�o cedido pela m�e dela, de quatro c�modos, em um beco sem asfalto do Bairro Rio Novo. � l�, debaixo do calor potencializado pelo telhado de amianto sem forro, que C�ssia busca se conformar com inesperada partida da sua Lindinha, como chama a ca�ula, e ainda sem saber o que ser� do futuro, diante de tanta dificuldade.

Desempregada h� dois anos, C�ssia aponta um calhama�o de contas de luz e �gua que se acumulam h� meses, somando cerca de R$ 400 em uma d�vida que ela nem sonha como vai pagar. “N�o sei nem porque n�o cortaram a luz e a �gua ainda”, disse, salientando que tamb�m deve a duas farm�cias um total de R$ 370, dinheiro referente a rem�dios comprados para tratar das infec��es de garganta da pequena.

Al�m da dor de m�e, ela sabe que a morte tr�gica da filha vai pesar em sua vida tamb�m do ponto de vista financeiro. “Eu recebia R$ 360 de pens�o da Yasmin”, conta ela – apesar de acrescentar que o pai da menina, que vive em Pedro Leopoldo com outra fam�lia, at� a semana passada n�o tinha enviado o dinheiro referente a setembro.


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