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Estado de Minas

Parentes de crian�as mortas em creche de Jana�ba vivem na extrema pobreza

Ainda tentando se recuperar da trag�dia na creche de Jana�ba, fam�lias de v�timas enfrentam a urg�ncia de conseguir emprego e renda para tocar a vida e manter os filhos que sobreviveram


postado em 15/10/2017 06:00 / atualizado em 15/10/2017 12:44

Valdirene, Valdemar e a recordação do filho Mateus, de 5 anos, que sonhava ser policial: 'A gente podia ser milionário que o vazio nunca ia ser preenchido'(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Valdirene, Valdemar e a recorda��o do filho Mateus, de 5 anos, que sonhava ser policial: 'A gente podia ser milion�rio que o vazio nunca ia ser preenchido' (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Voltar a procurar emprego; n�o achando, tratar de encontrar “bicos”. Voltar para a rotina de sal�rio pequeno, completado como d� na lida em casas de fam�lia. Voltar a p�r a vida para andar, porque um filho se foi – e como isso d�i! – mas outros dois ainda dependem de Valdemar Rocha Pereira, de 37 anos, e Valdirene Santos, de 39, pais de Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos, a nona crian�a a falecer v�tima da trag�dia na Creche Gente Inocente. Com 90% do corpo queimado, o menino morreu na madrugada da �ltima ter�a-feira no Hospital Jo�o XXIII, em Belo Horizonte.

O casal tem outros dois filhos: Ana Maria, de 11, e Juliana, de 20. Valdemar est� desempregado desde janeiro de 2016, quando foi dispensado de uma firma de Jana�ba onde trabalhava como eletricista. Desde ent�o, tenta se manter fazendo trabalhos tempor�rios. Valdirene trabalha meio expediente como atendente em uma padaria. Ganha R$ 585, renda que tenta completar como diarista, tr�s vezes por semana, o que lhe garante mais R$ 280 – por m�s. Tenta receber o benef�cio do Programa Bolsa Fam�lia. Ainda n�o conseguiu.


H� sete anos, coincidentemente quase no mesmo dia do m�s em que perdeu o filho Mateus, a fam�lia passou por uma outra tormenta: o barrac�o em que eles moravam, em rua de terra do Bairro dos Barbosa, n�o resistiu a uma tempestade e caiu, em 9 de outubro de 2009. “S� o banheiro, que era separado da casa, ficou de p�”, recorda Valdemar, contando que a fam�lia teve que passar um per�odo morando com parentes enquanto, com muito sacrif�cio, ele conseguiu levantar a casa de novo – a moradia ainda est� sem reboco, como a maioria das constru��es do bairro.

FALTA UM PEDA�O
Valdirene lamenta os apertos, mas lembra que nenhum passa nem perto do sofrimento de perder o ca�ula. Mateus sonhava ser soldado. Foi sepultamento na tarde de quarta-feira, com uma homenagem da Pol�cia Militar, no Cemit�rio S�o Lucas. “A falta de um filho dentro de casa � muito dolorida. Ela continuar� para sempre. A gente poderia ser milion�rio que o vazio nunca ia ser preenchido”, constata a m�e. “Vamos ficar para sempre sem um peda�o da gente”, completa Valdemar.

Valdirene reclama da falta de alvar� do Corpo de Bombeiros e de equipamentos de preven��o contra inc�ndio na creche que foi incendiada. “As escolas e locais que t�m crian�as precisam ser seguros. As pessoas para trabalhar nesses locais tamb�m precisam de acompanhamento. Nesse caso, se o vigia tivesse passado por um acompanhamento psicol�gico, teriam notado que ele tinha dist�rbios e ele seria afastado, proibido de entrar na creche”, avalia.

Al�m da car�ncia, a criminalidade


A pobreza e a falta de emprego em Jana�ba s�o agravados por outro flagelo social: a viol�ncia. C�ssia Medeiros de Jesus, de 32, que perdeu a ca�ula Yasmin, de 4, no inc�ndio da creche e tem outros tr�s filhos para criar ficou sabendo do assassinato do pai de um deles, Mateus, de 7, h� quase dois anos. Foi morto durante assalto � sua oficina de bicicletas, perto do Bairro Rio Novo. O avan�o da criminalidade fez a cidade registrar em 2017, at� 14 de julho (�ltimo dado dispon�vel), 31 homic�dios, alcan�ando 77% dos 40 assassinatos de 2016.

Sem a ajuda do ex-companheiro morto, sem a pens�o que recebia do pai da menina Yasmin, agora C�ssia conta apenas com a renda de R$ 200 do Programa Bolsa Fam�lia e mais R$ 100 pagos como pens�o pelo pai de Jo�o Paulo, que � oper�rio de um frigor�fico na cidade. Com o dinheiro, ela se vira para cuidar dos filhos Thais, de 13, Jo�o Paulo, de 9, e Mateus, de 7. O pai da mais velha ajuda com R$ 190 por m�s. “Mas, o dinheiro serve s� mesmo para comprar coisas para ela, que j� est� mocinha. Nem pego nele”, relata a m�e.

Trabalhar para completar a renda � uma necessidade. Mas n�o � f�cil. “Queria arrumar um servi�o, pelo menos para n�o ficar o tempo todo pensando na minha filha, que era alegria da casa. Mas aqui n�o tem servi�o”, reclama C�ssia, que j� trabalhou como auxiliar de restaurante em Belo Horizonte, onde, aos 17 anos, se casou com o pai da filha mais velha, em um relacionamento que durou quatro anos antes de sua volta a Jana�ba.

Perguntada sobre o futuro dos filhos, C�ssia resume: “S� Deus sabe”. Diante de tanta dificuldade, resta esperar pela provid�ncia divina para realizar o sonho de conseguir uma moradia melhor e prestar uma homenagem para a filha morta. “Se Deus me der for�a de permanecer aqui na terra depois de ficar sem minha menina, que Ele levou, meu sonho � ter uma casa e montar um quarto de princesa para minha filha, para que – mesmo n�o estando mais aqui – ela possa me visitar toda noite, como um anjo.”


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