
O casal tem outros dois filhos: Ana Maria, de 11, e Juliana, de 20. Valdemar est� desempregado desde janeiro de 2016, quando foi dispensado de uma firma de Jana�ba onde trabalhava como eletricista. Desde ent�o, tenta se manter fazendo trabalhos tempor�rios. Valdirene trabalha meio expediente como atendente em uma padaria. Ganha R$ 585, renda que tenta completar como diarista, tr�s vezes por semana, o que lhe garante mais R$ 280 – por m�s. Tenta receber o benef�cio do Programa Bolsa Fam�lia. Ainda n�o conseguiu.
FALTA UM PEDA�O Valdirene lamenta os apertos, mas lembra que nenhum passa nem perto do sofrimento de perder o ca�ula. Mateus sonhava ser soldado. Foi sepultamento na tarde de quarta-feira, com uma homenagem da Pol�cia Militar, no Cemit�rio S�o Lucas. “A falta de um filho dentro de casa � muito dolorida. Ela continuar� para sempre. A gente poderia ser milion�rio que o vazio nunca ia ser preenchido”, constata a m�e. “Vamos ficar para sempre sem um peda�o da gente”, completa Valdemar.
Valdirene reclama da falta de alvar� do Corpo de Bombeiros e de equipamentos de preven��o contra inc�ndio na creche que foi incendiada. “As escolas e locais que t�m crian�as precisam ser seguros. As pessoas para trabalhar nesses locais tamb�m precisam de acompanhamento. Nesse caso, se o vigia tivesse passado por um acompanhamento psicol�gico, teriam notado que ele tinha dist�rbios e ele seria afastado, proibido de entrar na creche”, avalia.
Al�m da car�ncia, a criminalidade
A pobreza e a falta de emprego em Jana�ba s�o agravados por outro flagelo social: a viol�ncia. C�ssia Medeiros de Jesus, de 32, que perdeu a ca�ula Yasmin, de 4, no inc�ndio da creche e tem outros tr�s filhos para criar ficou sabendo do assassinato do pai de um deles, Mateus, de 7, h� quase dois anos. Foi morto durante assalto � sua oficina de bicicletas, perto do Bairro Rio Novo. O avan�o da criminalidade fez a cidade registrar em 2017, at� 14 de julho (�ltimo dado dispon�vel), 31 homic�dios, alcan�ando 77% dos 40 assassinatos de 2016.
Sem a ajuda do ex-companheiro morto, sem a pens�o que recebia do pai da menina Yasmin, agora C�ssia conta apenas com a renda de R$ 200 do Programa Bolsa Fam�lia e mais R$ 100 pagos como pens�o pelo pai de Jo�o Paulo, que � oper�rio de um frigor�fico na cidade. Com o dinheiro, ela se vira para cuidar dos filhos Thais, de 13, Jo�o Paulo, de 9, e Mateus, de 7. O pai da mais velha ajuda com R$ 190 por m�s. “Mas, o dinheiro serve s� mesmo para comprar coisas para ela, que j� est� mocinha. Nem pego nele”, relata a m�e.
Trabalhar para completar a renda � uma necessidade. Mas n�o � f�cil. “Queria arrumar um servi�o, pelo menos para n�o ficar o tempo todo pensando na minha filha, que era alegria da casa. Mas aqui n�o tem servi�o”, reclama C�ssia, que j� trabalhou como auxiliar de restaurante em Belo Horizonte, onde, aos 17 anos, se casou com o pai da filha mais velha, em um relacionamento que durou quatro anos antes de sua volta a Jana�ba.
Perguntada sobre o futuro dos filhos, C�ssia resume: “S� Deus sabe”. Diante de tanta dificuldade, resta esperar pela provid�ncia divina para realizar o sonho de conseguir uma moradia melhor e prestar uma homenagem para a filha morta. “Se Deus me der for�a de permanecer aqui na terra depois de ficar sem minha menina, que Ele levou, meu sonho � ter uma casa e montar um quarto de princesa para minha filha, para que – mesmo n�o estando mais aqui – ela possa me visitar toda noite, como um anjo.”