
Eram 14h20 quando a diretora do Cecor/UFMG, professora Beth�nia Reis Veloso, reuniu a equipe formada por 10 especialistas e 20 alunos do cursos de conserva��o-restaura��o da institui��o para come�ar o trabalho, que foi precedido de um laudo detalhado sobre a situa��o das telas integrantes do conjunto reconhecido como patrim�nio da humanidade pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco) e tombado pelo munic�pio, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG). “H� descolamento da policromia, manchas generalizadas devido � umidade, sujeira e outros problemas nas obras”, disse a diretora. Trata-se da segunda vez que os quadros saem do seu lugar – a primeira tamb�m foi para restaura��o, h� 25 anos.
Acompanhando toda a movimenta��o de ontem ao lado do capel�o da chamada Igrejinha da Pampulha, padre Ot�vio Juliano de Almeida, a coordenadora-geral do Memorial da Arquidiocese, Maria Goretti Gabrich Freire Ramos, explicou que a medida faz parte do termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado em 2016 com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais, representado pela promotora de Justi�a de Defesa do Meio Ambiente e do Patrim�nio Hist�rico e Cultural de BH, Lilian Marotta Moreira. “Estamos aproveitando o per�odo antes das chuvas para fazer o servi�o. Os quadros s� retornar�o quando a igreja estiver totalmente restaurada. A partir de 19 de novembro, ela ser� fechada”, afirmou Goretti. A remo��o foi acompanhada ainda por t�cnicos do Iphan, Iepha e Funda��o Municipal de Cultura, da Prefeitura de Belo Horizonte.

ARTE NO CORA��O No interior do templo, considerado cart�o-postal de BH e visitado por turistas do mundo inteiro, os quadros com molduras se dividem em dois grupos: oito do lado direito e seis do esquerdo de quem est� de frente para o altar. O primeiro a ser retirado foi “Jesus � condenado � morte”, conforme assinalou o padre Ot�vio. “Este conjunto � muito importante e necess�rio. H� problemas de infiltra��o causadores de umidade, o que p�e em risco o acervo. Agora, vamos esperar a obra da igreja”, afirmou o sacerdote, adiantando que a �ltima missa ser� celebrada em 18 de novembro. Com emo��o, a conservadora-restauradora Alessandra Rosado, do Cecor, lembrou que “os quadros n�o existiriam sem a igreja, e a igreja n�o existiria sem os quadros. Tudo isso est� no nosso cora��o, faz parte do imagin�rio dos mineiros”.
Em nota, a PBH, via Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), informou que executar� as obras de restaura��o da igreja. Ser�o feitos servi�os de recupera��o das juntas de dilata��o e das pastilhas externas, impermeabiliza��o, substitui��o dos pain�is de madeira, pintura, polimento do piso de m�rmore e limpeza das fachadas. O or�amento previsto � de R$ 1,8 milh�o, com recursos federais do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) das Cidades Hist�ricas. Mas, face � suspens�o do contrato com a empresa que realizaria as obras, a Sudecap informou que “aguarda autoriza��o do Iphan para fazer novo processo licitat�rio, a fim de contratar a execu��o dos servi�os”. A nota diz ainda que “uma vez finalizado o processo licitat�rio, o prazo para a execu��o da obra � de um ano ap�s a emiss�o da primeira ordem de servi�o”.

EMBALAGEM A retirada de cada quadro durou em torno de 15 minutos. Depois de desparafusado o suporte, cada tela foi colocada sobre uma mesa forrada com material apropriado, depois embalada em papel e acondicionada em caixa de madeira fornecida pela empresa Mudan�as Damasceno, especializada em obras de arte, com caminh�o climatizado, que n�o cobrou pelo servi�o. Antes de ir para as caixas, as pe�as passavam por um laudo, que teve a participa��o da estudante do �ltimo ano de conserva��o-restaura��o Sarah Bernardo. O �ltimo a ser embalado foi “Jesus � depositado no sepulcro”. A equipe do Cecor teve a presen�a tamb�m do professor Willi de Barros, da �rea de conserva��o preventiva, que fez medi��es do microclima e umidade. O servi�o de restauro est� estimado em R$ 26 mil, com cobran�a apenas do material.

Antes do trabalho de restaura��o no Cecor, que dever� come�ar em fevereiro, a equipe da professora Beth�nia far� uma s�rie de estudos, envolvendo um grupo multidisciplinar de qu�micos, f�sicos, bi�logos, especialistas em raios x e outros equipamentos. Os conservadores-restauradores far�o an�lises sobre o avan�o da degrada��o, da estabiliza��o da estrutura e outros aspectos.
Enquanto a equipe trabalhava, turistas olhavam pela porta de vidro. Entre eles, um grupo europeu de estudantes de dan�a, formado por jovens alem�es, franceses e suecos. � frente, a mineira Ana Cl�udia Moura e Jo�o Oliveira, que morou oito anos em BH e est� h� dois no pa�s escandinavo. “A igreja � muito azul”, elogiou, na tarde quente e com c�u da mesma cor, a sorridente alem� Fiona Everding, de 28 anos.
Um tesouro derretendo
Em 27 de dezembro, o Estado de Minas mostrou a situa��o de perigo � qual estavam expostos os quadros da igreja da Pampulha, que pertence � Arquidiocese de Belo Horizonte. Na �poca, a superintendente do Iphan em Minas, C�lia Corsino, sugeriu a remo��o de pelo menos tr�s deles, que estavam danificados. A equipe de reportagem flagrou, depois de forte chuva, at� mesmo baldes no interior da constru��o �cone da cidade, enquanto funcion�rios colocavam capas nas telas e secavam o ch�o com panos. As infiltra��es tamb�m apodrecem as placas curvas de madeira do forro original da nave.
Mem�ria
A revolta das noivas
O processo de restaura��o se tornou um ponto pol�mico na hist�ria da Igreja S�o Francisco de Assis. A obra deveria ter come�ado em novembro de 2016, mas esbarrou em mais de 200 casamentos que estavam marcados para este ano. O problema chegou a tal ponto que, em 30 de outubro de 2016, inconformados com um poss�vel fechamento do templo, casais de noivos fizeram uma manifesta��o na porta do templo. Depois do acordo com o Minist�rio P�blico de Minas Gerais, ficou decidido que a interven��o s� come�aria em 2018. A igreja abriga tamb�m obras de Paulo Werneck (1903-1962) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989), al�m de ser rodeada pelos jardins do paisagista Burle Marx (1909-1994).