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Estado de Minas

Bento Rodrigues � hoje um cemit�rio de casas abandonadas

Na �poca da trag�dia morreram cinco pessoas no local, que teve parte de seu territ�rio engolido por mais uma barragem de conten��o


postado em 29/10/2017 11:00 / atualizado em 01/11/2017 08:19

O primeiro povoado a receber a onda de lama hoje se resume a amontoado de esqueletos de moradias e abriga apenas ameaças a visitantes(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O primeiro povoado a receber a onda de lama hoje se resume a amontoado de esqueletos de moradias e abriga apenas amea�as a visitantes (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Barra Longa e Mariana –
A lama e os rejeitos de min�rio de ferro que inundaram cerca de 80% do territ�rio de Bento Rodrigues, o subdistrito de Mariana mais devastado pelo rompimento da Barragem do Fund�o, em 5 de novembro de 2015, aos poucos v�o sendo encobertos por mato. Mamonas e arbustos de folhas verdes, alguns com espinhos, gradualmente se alastram entre as edifica��es demolidas pela for�a do tsunami de rejeitos que desalojou 225 fam�lias e matou, somente ali, cinco pessoas: Emanuely Vit�ria, de 5 anos, Thiago Damasceno, de 7, Ant�nio Prisco, de 73, Maria das Gra�as Celestino da Silva, de 64, e Maria Elisa Lucas, de 60.


Somente a lama que endureceu nas ruas n�o sustentou ra�zes de mato, deteriorando-se das placas grossas de material granulado com cheiro de ferrugem para um p� fino, roxo, que se desprende em nuvens � mais leve brisa ou rodopia como redemoinhos, atravessando os quarteir�es devastados.

O �nico ru�do que se escuta nas ru�nas de Bento Rodrigues � o do vento e de eventuais ve�culos que cruzam a estrada de terra do outro lado do vale. Acima de Bento, as m�quinas da Samarco rolaram pedras e compactaram solo numa altura de 11 metros sobre o C�rrego Santar�m para formar a barragem do dique S3.

Essa estrutura se ergue sobre as casas como uma muralha capaz de reter 2,9 milh�es de metros c�bicos de rejeitos miner�rios. O lago que se formou tem a fun��o de receber a lama e os restos de min�rio de ferro e cont�-los dentro do reservat�rio.

A estrutura se tornou um atrativo para muitos pescadores que invadem a �rea interditada pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Mariana para lan�ar suas iscas com varas de bambu ou jogar tarrafas e redes.

Abaixo, o vale do C�rrego Santar�m se tornou um outro lago, o chamado Dique S4, que chega at� o encontro com o Rio Gualaxo do Norte. Foi esse reservat�rio que cercou Bento Rodrigues, engolindo as pequenas fazendas que existiam abaixo da Capela de S�o Bento, assim como parte de um antigo curral de pedras e do muro do s�culo 18 do auge do Ciclo do Ouro.

Seguindo o Rio Gualaxo do Norte por mais seis quil�metros, entre os esqueletos da mata ciliar que morreu seca e �reas desbastadas pela for�a da lama, chega-se a Paracatu de Baixo, o segundo povoamento mais devastado pelo rompimento. Cerca de 120 fam�lias tiveram de deixar suas casas e atualmente se encontram em moradias alugadas pela Funda��o Renova.

O cen�rio de Paracatu � silencioso como Bento Rodrigues, lembrando de certa forma um cemit�rio formado pelas ru�nas das casas destru�das. A escola do povoado e a Igreja Santo Ant�nio s�o as edifica��es de maior destaque, e ainda exibem as marcas de seis metros de altura, testemunhas da passagem da onda de lama por suas paredes.

O templo foi fechado e cercado por tapumes de zinco. O col�gio fica aberto e em cada sala de aula o momento do desastre foi congelado, petrificado pela lama que endureceu solidificando carteiras, arm�rios, mesas, livros e cadernos dos estudantes.

Contudo, aqui e ali aparecem esporadicamente alguns dos ex-habitantes de Paracatu que n�o se conformam com o que ocorreu e – a cada folga que t�m de suas atividades na sede do munic�pio de Mariana –, aproveitam para passar o dia na sua terra. Um deles, o caseiro Roberto Carlos de Paula, de 60, diz regressar ao povoado pelo menos tr�s vezes por semana.

“N�o aguento ficar em Mariana. L� n�o posso nem plantar uma horta. Sempre que posso pego um �nibus e volto para Paracatu. Aqui � a minha casa, o lugar onde tinha minha fam�lia, meus vizinhos, cuidava do time de futebol. � triste ver tudo destru�do, mas d�i ainda mais ter de ficar longe”, conta.

Mais adiante, cerca de 20 quil�metros seguindo o rio, as marcas da destrui��o se instalaram na parte baixa do povoado de Gesteira, em Barra Longa. A Igreja Nossa Senhora da Concei��o ainda exibe nas suas paredes as marcas do soterramento.


Ao lado, as estruturas da casa paroquial, da escola e de duas habita��es ainda com m�veis petrificados ficaram imersas em um matagal que cresce atr�s de cercas de arame farpado erguidas para impedir o acesso de curiosos e ladr�es. Foram 20 fam�lias atingidas em oito resid�ncias. A parte alta da comunidade n�o foi impactada e recebeu uma escola nova com quadra poliesportiva.

O munic�pio afetado com mais avan�os em termos de reparos e reconstru��o � Barra Longa. A lama que chegou � cidade carreada pelo Rio do Carmo, do qual o Rio Gualaxo do Norte � afluente, soterrou a pra�a principal da cidade e inundou v�rias casas, lojas e terrenos. Segundo a Funda��o Renova, foram 113 casas e 38 pontos de com�rcio afetados por 157 mil metros c�bicos de rejeitos – algo como 26 mil caminh�es. Parte desse material foi removido e estocado na �rea onde funcionava o Parque de Exposi��es e um dos campos de futebol da cidade.

Essa remo��o e as reformas apagaram muitos dos vest�gios da passagem da lama. Mas h� im�veis que n�o foram demolidos ainda com lama e tamb�m casas antigas com vidros quebrados, interditadas. Vinte e tr�s quintais est�o sendo recuperados, todos pertencentes a im�veis que tinham fundos para o Rio do Carmo e foram devastados, perdendo hortas e pomares. Nesses locais, a Funda��o Renova ainda trabalha na recupera��o dos terrenos.


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