
Concei��o do Mato Dentro – Alegria, m�sica e emo��o para celebrar um patrim�nio barroco de Minas ainda desconhecido de muitos brasileiros e dos estrangeiros em visita ao pa�s. Na tarde de ontem, depois de 12 anos de muita expectativa, moradores de Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central, conheceram parte do restauro da Matriz de Nossa Senhora da Concei��o, do s�culo 18, tombada pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan). Agora livre dos andaimes, a Capela do Bonfim, no interior do templo, foi reinaugurada depois de obras que deram mais beleza �s pinturas parietais originais (feitas diretamente sobre o reboco) recriando a Paix�o de Cristo. No forro, podem ser contempladas a figura de Ver�nica e as representa��es das tr�s virtudes (f�, esperan�a e caridade) e dos cinco sentidos emoldurando a Sagrada Fam�lia.

Presente � cerim�nia, a superintendente do Iphan em Minas, C�lia Corsino, disse que a Matriz de Nossa Senhora da Concei��o abre as portas para o turismo cultural e ecol�gico na regi�o, destacando belezas e tesouros de Minas, que v�o da Serra do Cip� at� Diamantina, passando pelo distrito de Itapanhoacanga, em Alvorada de Minas, e a cidade do Serro. J� o secret�rio de Estado da Cultura, Angelo Oswaldo de Ara�jo Santos, afirmou que h� muitas obras de igrejas sendo conduzidas em Minas e espera que o Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) das Cidades Hist�ricas n�o seja uma frustra��o em Minas. Admirado com o resultado da restaura��o, o bispo de Guanh�es, dom Jeremias Ant�nio de Jesus, ressaltou que a obra ficou, simplesmente, maravilhosa e valoriza o patrim�nio de Concei��o do Mato Dentro, de Minas e do Brasil. “Foi recuperada uma joia que estava perdida. Ver esta sacristia � como ir ao c�u e voltar.” A cerim�nia teve a participa��o de autoridades e houve uma apresenta��o da Orquestra Jovem da Funda��o Cl�vis Salgado/Pal�cio das Artes de Belo Horizonte.

DESCOBERTAS Quem esteve na festa de reinaugura��o da sacristia da Matriz de Nossa Senhora da Concei��o p�de admirar outras joias descobertas durante o restauro e mostradas pelo Estado de Minas no dia 25. A que causa maior encantamento, sem d�vida, est� na capela-mor, onde especialistas encontraram 10 pinturas contando a vida de Nossa Senhora e de Jesus. As cenas b�blicas estavam escondidas sob camadas de tinta e agora resplandecem nos tons avermelhados originais.
� frente da equipe de 38 pessoas, entre restauradores e auxiliares, alguns da cidade, e t�cnicos, Dulce Senra, da Cantaria Conserva��o e Restauro, com supervis�o do Iphan, se entusiasma com cada detalhe da empreitada, em especial da capela-mor, com a��es adiantadas no altar-mor e no ret�bulo colateral direito. As a��es, no momento, se voltam para as t�buas do arco-cruzeiro e, na sequ�ncia, para o ret�bulo do lado esquerdo. Dulce diz que o maior desafio da obra foi retirar as camadas de tinta sem perda das pinturas originais, que t�m ouro e prata. “Foi um trabalho de t�cnica e delicadeza”, afirmou.
Na capela-mor, causa um grande impacto ver as cenas da vida de Nossa Senhora e Cristo: As pinturas do in�cio do s�culo 18 trazem � luz A anuncia��o do Anjo Gabriel � Virgem Maria, Visita a Santa Isabel, Adora��o dos pastores, Visita dos reis magos, Apresenta��o de Jesus ao templo, A fuga para o Egito, O batismo de Cristo. O falso pastor, O verdadeiro pastor e A tenta��o de Cristo. No alto, no forro, est� a Assun��o de Nossa Senhora, original que foi repintado com a imagem de Nossa Senhora da Concei��o e depois com a do Divino Esp�rito Santo.
Conforme estudos, o artista que fez as pinturas retratadas nos azulejos copiou as gravuras do livro de Bartolomeo Ricci, de 1607. Muito usadas como modelo pelos artistas coloniais, “as gravuras de Ricci est�o nas parietais da matriz e reproduzidas com muita fidelidade ao original, com algumas modifica��es em que o autor coloca sua interpreta��o pessoal”. Os especialistas ficaram surpresos, pois n�o havia registros sobre os elementos art�sticos da igreja.
O coordenador da obra, o engenheiro civil Alexandre Leal, destaca a umidade como um fator de risco para as pinturas do s�culo 18 e adianta que foi feita a revis�o na cobertura e tomadas as provid�ncias de seguran�a, a exemplo de parte el�trica, sistema contra raios e inc�ndios – projeto luminot�cnico est� previsto.

Os servi�os em andamento est�o a cargo da Cantaria Conserva��o e Restauro, com supervis�o do Iphan. O projeto total est� or�ado em R$ 8,5 milh�es, mas, segundo o administrador paroquial e reitor do Santu�rio do Senhor Bom Jesus de Matosinho, padre Jo�o Evangelista dos Santos, dever�o ser gastos cerca de R$ 10 milh�es. A interven��o, a maior parte bancada pela Anglo American, j� teve tamb�m recursos da Par�quia Nossa Senhora da Concei��o, vinculada � diocese de Guanh�es, e um aporte de R$ 350 mil da prefeitura.
Bandeirante iniciou obra
Segundo pesquisas, a edifica��o da Matriz de Nossa Senhora da Concei��o come�ou por iniciativa do bandeirante paraguaio Gabriel Ponce de Leon, que chegou � regi�o em 1702. “No ano seguinte, a mulher dele mandou vir de Itu (SP) a imagem da padroeira”, conta Ros�ngela Domingues, integrante da Cantaria, destacando que, em sinal de agradecimento por ter encontrado ouro, o desbravador pediu para ser enterrado na frente do altar-mor da igreja. Em 1722, o templo j� realizava cultos, mas as obras se estenderam por todo o s�culo 18, devido � falta de recursos para termin�-la. S� em 1722 o aux�lio real permitiu que fosse dado prosseguimento �s interven��es, conclu�das h� 210 anos. O valor hist�rico e cultural � ressaltado pela comunidade, e as pinturas internas, representando cenas da Paix�o de Cristo, foram consideradas “das mais encantadoras e delicadas do patrim�nio de arte religiosa do pa�s” pelo primeiro presidente do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), o advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969).