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Estado de Minas

Exposi��o exibe recibos raros em comemora��o aos 280 anos do nascimento de Aleijadinho

Na comemora��o do maior artista do barroco brasileiro, exposi��o exibe recibos raros assinados por ele relativos � produ��o dos profetas, mas mist�rios ainda exigem estudos


postado em 15/11/2017 06:00 / atualizado em 16/11/2017 00:16

Vitor Gomes examina uma fatura, original, de 1801, referente ao pagamento de parte do conjunto dos profetas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Vitor Gomes examina uma fatura, original, de 1801, referente ao pagamento de parte do conjunto dos profetas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Ouro Preto – Dif�cil conter a emo��o diante da letra firme sobre o papel feito de trapos. Vale mais o sil�ncio e, minutos depois, a vontade de mostrar ao mundo a assinatura ou “caligrafia escult�rica” de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, mineiro de Ouro Preto e patrono das artes no Brasil. Na semana do in�cio das comemora��es (veja o quadro) dos 280 anos de nascimento do escultor, entalhador, arquiteto e louvado (perito), com programa��o at� novembro de 2018, brasileiros e estrangeiros poder�o participar em Ouro Preto, na Regi�o Central, de uma s�rie de eventos culturais, entre eles uma exposi��o, Sobre riscos e pautas, juntando documentos firmados pelo mestre do barroco e a m�sica do seu tempo.


O jubileu, que coincide com os 50 anos do Museu Aleijadinho de Ouro Preto, ser� tamb�m �tima oportunidade para especialistas se unirem e estudarem, a fundo, a vida e a obra de Aleijadinho, pois, nos �ltimos anos, muitas descobertas ganharam corpo sem a necess�ria oficializa��o pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan). “A hist�ria de Aleijadinho continua uma obra aberta. Nem tudo foi revelado, h� muito por ser desvendado”, afirma o escultor, pesquisador de arte colonial e diretor de Patrim�nio da Prefeitura de Congonhas, na Regi�o Central, Luciomar Sebasti�o Jesus. Ano correto de nascimento (1737 ou 1738?), doen�a que o acometeu (foi lepra mesmo?), retrato oficial (verdadeiro?) e atribui��o de obras sacras s�o enigmas que intrigam especialistas e confundem a cabe�a do cidad�o comum. (Clique na imagem abaixo para ampliar e ver o especial sobre os 280 anos de nascimento de Aleijadinho)



Apaixonado pela obra de Aleijadinho, e a vida inteira convivendo com obras-primas do mestre, a exemplo dos 12 profetas do Santu�rio de Bom Jesus de Matosinhos e as 64 figuras esculpidas em cedro, nas capelas dos Passos da Paix�o de Cristo, em Congonhas, Luciomar resume na palavra “genial” o legado do artista. “Muita gente p�e em d�vida a exist�ncia dele e o volume do seu trabalho. Bem, se n�o acreditam em tudo, pelo menos devem saber, conforme os seis recibos do acervo de Mariana, que houve um g�nio chamado Antonio Francisco Lisboa, que fez esse patrim�nio e herdou a oficina de seu pai, o portugu�s Manuel Francisco Lisboa. Esse ateli� era itinerante, tinha funcion�rios e servi�os em v�rios lugares. Em muitas imagens e ret�bulos, Aleijadinho dava uma lapidada, garantindo a sua identidade.”

Em 2014, durante as homenagens pelo bicenten�rio de morte de Aleijadinho – a data 18 de novembro de 1814 consta do atestado de �bito – a dire��o do Iphan anunciou a forma��o de uma comiss�o para fazer estudos detalhados sobre ele. “Nada evoluiu”, critica o secret�rio de Estado da Cultura, �ngelo Oswaldo de Ara�jo Santos, lembrando que 1738 se mant�m como o ano aceito pelo Iphan, pois, na certid�o de �bito h� a informa��o de que o homem sepultado teria 76 anos. Integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais e autor do livro Aleijadinho revelado – Estudo hist�rico sobre Antonio Francisco Lisboa, o promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda indica 1737 como o ano de nascimento. Em homenagem ao mestre, 18 de novembro foi institu�do como Dia do Barroco Mineiro.

REGISTRO Em Ouro Preto, Souza Miranda localizou o registro de batismo de Antonio Francisco Lisboa, filho da negra forra Isabel. “Os estudiosos certamente procuravam o registro apenas pelo nome do pai. A quest�o � que, naquela �poca, pelo direito can�nico, era proibido que constassem do registro os nomes dos pais quando o casal n�o fosse formalmente casado. Da� s� haver o nome da m�e no documento. Al�m disso, o costume era levar a crian�a � pia batismal logo ap�s o nascimento.” A �nica data que se conhecia era a da morte, 18 de novembro, conforme consta do atestado de �bito. � curioso notar, no t�mulo, que uma placa traz o sinal de interroga��o ao lado do ano de 1738, que seria o do nascimento.

Souza Miranda acha fundamental o trabalho de um comit�, com equipe t�cnica e pesquisadores de universidades e uso de equipamentos modernos para solucionar inc�gnitas que cercam a vida do artista. “N�o sabemos, por exemplo, se o quadro oficial, hoje no Museu de Congonhas, retrata a face do artista”, observa. Na avalia��o dele, “h� obras atribu�das de forma equivocada, deliberadamente ou n�o, a Aleijadinho, assim como outras que demandam investiga��o apurada. E mais: “A maioria das pe�as que ele fez, na verdade, 95%, foi para igrejas. E s� trabalhou em Minas. Ent�o, nada justifica que haja pe�as sacras atribu�das a Aleijadinho, no Pal�cio Bandeirantes, em S�o Paulo (SP)”.

Pelo visto, a hist�ria de Aleijadinho vai continuar como obra aberta. Segundo nota do Iphan, “a cria��o do grupo de trabalho se deu em fun��o da necessidade de sanar poss�veis d�vidas sobre a autenticidade de obras atribu�das ao mestre Aleijadinho. A comiss�o se re�ne apenas sob demanda da presid�ncia do Iphan. No momento n�o h� nenhuma solicita��o nesse sentido”.

PENACHO BARROCO Os documentos assinados por Aleijadinho, datados do fim do s�culo 18 e in�cio do 19, t�m uma caracter�stica peculiar, a que os especialistas chamam a aten��o. No final do sobrenome “Lisboa”, h� o chamado penacho barroco, arremate que d� um rebuscamento � letra “a”. Na sala do Museu da M�sica, vinculado � Funda��o Cultural da Arquidiocese de Mariana, o music�logo Vitor S�rgio Gomes examina uma fatura, original, de 1801, referente ao pagamento de parte do conjunto dos profetas. “Ter nas m�os um recibo assinado por Aleijadinho � outro tipo de rela��o com a mem�ria, � lidar com um personagem do qual ouvimos falar. Muito importante”, diz Vitor que, na sexta-feira, participou da abertura da mostra Sobre Riscos e Pautas, unindo o trabalho de Aleijadinho com o mestre de capela, organista e compositor Jo�o de Deus de Castro Lobo (1797-1832). A exposi��o vai at� o dia 20, no pr�dio da Fiemg, na Pra�a Tiradentes, no Centro Hist�rico de Ouro Preto.

Os documentos expostos fazem parte de um acervo de 154 mil itens, dos s�culos 18, 19 e 20, que est�o no Pal�cio Gets�mani, da Arquidiocese de Mariana, informa Jos� Eduardo de Castro Liboreiro, respons�vel pela parte de projetos da Funda��o Cultural da Arquidiocese de Mariana. Nesse pequeno tesouro, est�o processos, contratos, certid�es, escrituras e outros de alto interesse para pesquisadores.

OBRA ABERTA
Pol�micas, descobertas, perguntas sem respostas e enigmas na vida e obra de Aleijadinho

Ano de nascimento

A data oficial � 1738, mas, no livro Aleijadinho revelado – Estudo hist�rico sobre Antonio Francisco Lisboa, o promotor de Justi�a e integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais Marcos Paulo de Souza Miranda defende que � 1737. Em Ouro Preto, ele localizou o registro de batismo de Antonio Francisco Lisboa, filho da negra forra Isabel. E esclareceu que “os estudiosos certamente procuravam o registro apenas pelo nome do pai. A quest�o � que, naquela �poca, pelo direito can�nico, era proibido que constassem do registro os nomes dos pais quando o casal n�o fosse formalmente casado. Da� s� haver o nome da m�e no documento”.

Retrato oficial
Consagrado pelas imagens que brotaram de suas m�os, o g�nio do barroco tem na pr�pria fisionomia um mist�rio. O chamado retrato oficial est� no Museu de Congonhas. Trata-se de �leo sobre pergaminho feito no s�culo 19, por Eucl�sio Penna Ventura. Foi vendido em 1916 a um comerciante de Congonhas, identificado como Senhor Baerlein, propriet�rio da Relojoaria da Bolsa do Rio de Janeiro. A alega��o de que se tratava do rosto do mestre do barroco se baseou na imagem representada ao fundo da pintura, em segundo plano, que parecia id�ntica a uma obra de autoria do artista.

Rosto misterioso
Um fato curioso foi identificado pelo artista pl�stico, restaurador e pesquisador Jos� Efig�nio Pinto Coelho, residente em Ouro Preto. A repeito do quadro Jesus cai carregando a cruz, dos Passos da Paix�o de Cristo, em exposi��o no Museu da Inconfid�ncia, em Ouro Preto, ele sustenta que o pintor Manuel da Costa Ata�de (1762-1830) teria homenageado Aleijadinho retratando um soldado romano com seu rosto. Ele se baseou numa descri��o do livro, de 1858, Tra�os biogr�ficos relativos ao finado Ant�nio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho, de autoria de Rodrigo Jos� Ferreira Bretas.

Altar da padroeira
Professor em�rito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em arte sacra, Ivo Porto de Menezes, concluiu que o altar de Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade, em Caet�, na Grande BH, � de autoria de Aleijadinho. Segundo ele, o artista mudou a “organiza��o” na pe�a esculpida em cedro por volta de 1770. “Antes, os riscos dos ret�bulos n�o contemplavam a parte inferior. Era da mesa do altar para cima. O artista modificou isso e prolongou as colunas laterais at� o �ltimo degrau da escada que leva ao altar, denominada suped�neo”, explica um dos pioneiros do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG).

Tr�s imagens
Depois de estudos iniciados em 2011, o restaurador e professor Ant�nio Fernando Santos atribuiu tr�s pe�as, em Ouro Preto, ao artista: a imagem de Nossa Senhora da Guia, do acervo da Par�quia de Santa Efig�nia, e duas tamb�m em madeira da Capela de Nossa Senhora das Merc�s e Miseric�rdia, mais conhecida como Merc�s de Cima: S�o Pedro Nolasco e S�o Raimundo Nonato. Segundo Ant�nio Fernando, as esculturas da primeira fase de Aleijadinho, que vai de 1760 a 1774, representam a �poca em que a obra dele ainda exibia forte influ�ncia europeia. Ao contr�rio das demais imagens conhecidas na atualidade, os tr�s objetos s�o na categoria “de vestir” e de “roca”, o que significa cabe�a e corpo sobre estrutura de madeira que recebe roupas de tecido.

 


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