
Congonhas – O medo de que a Barragem Casa de Pedra se rompa, em Congonhas, na Regi�o Central de Minas, criou um estado de apreens�o t�o grande nos bairros suscet�veis a soterramento, que pais de crian�as que estudam nessas quatro comunidades declararam que v�o tirar os filhos das unidades. Desde 2016, quando a barragem apresentou infiltra��es, sua propriet�ria, a Companhia Sider�rgica Nacional (CSN), tenta combater esses indicativos de problemas estruturais. Mas a percep��o de que ante os riscos que a estrutura da barragem apresentava a comunidade deveria ser treinada emergencialmente fez com que o governo de Minas Gerais tomasse a��es paralelas, com um grupo de a��o formado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), o Corpo de Bombeiros, a Pol�cia Militar e outras secretarias, como mostrou a reportagem do Estado de Minas da �ltima quinta-feira.
Os problemas identificados na Barragem Casa de Pedra foram localizados no Dique de Sela, um pared�o de 80 metros de altura, que auxilia na conten��o de 9,2 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro. As ombreiras da constru��o, que s�o o seu apoio sobre morros naturais, apresentaram, de acordo com parecer t�cnico da Central de Apoio T�cnico (Ceat) do Minist�rio P�blico (MP), fator de estabilidade de 1,3 – o m�nimo exigido pela legisla��o do Departamento Nacional de Produ��o Mineral (DNPM) � 1,5. De acordo com a CSN, as obras no dique elevaram o fator de estabilidade para 1,6 e 1,7 nos dois lados do barramento, mas as interven��es continuam. Sob os maci�os de terra e rejeitos, na �rea identificada como suscet�vel � devasta��o de um rompimento, foram identificadas 1.367 casas e uma popula��o de 4.800 pessoas nos bairros Cristo Rei, Gran Park, Eldorado e Residencial, alguns com resid�ncias a menos de 250 metros da estrutura em obras.
Entre as estruturas na zona sujeita a soterramento est�o, a pouco mais de 1 quil�metro de dist�ncia do Dique de Sela, a Escola Municipal Concei��o Lima Guimar�es, que tem 125 alunos do ensino fundamental, e a Creche Municipal Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, onde 130 crian�as de 6 meses a 3 anos e 6 meses de idade s�o diariamente deixadas pelos seus pais que v�o trabalhar. A base do Dique de Sela � cerca de 21 metros mais alta que esses dois edif�cios vizinhos, do Bairro Residencial, o que mostra uma alta propens�o para essa parte ser completamente encoberta por uma onda de rejeitos, a exemplo do que ocorreu em Bento Rodrigues, em Mariana, h� dois anos.
Uma das funcion�rias da creche, a faxineira Rosilene Martins, de 44 anos, conta que muitos pais est�o assustados com a falta de informa��es e temerosos pela seguran�a de seus filhos enquanto est�o fora trabalhando e por isso pensam em procurar outras creches em locais mais seguros. “Todo mundo est� muito assustado. E j� conversei com muitos pais que avisaram que est�o procurando outros lugares para transferir os filhos e que j� no ano que vem v�o tirar os meninos daqui”, conta. Ainda de acordo com a funcion�ria, as pessoas que trabalham na escola e na creche tamb�m ficam preocupados com a estabilidade da barragem. “Sempre tem reuni�es e j� fizeram (a CSN) o recadastramento das pessoas que s�o suscet�veis a um rompimento. Acho que as provid�ncias da CSN est�o muito devagar. Falaram que ia ter sirenes, que ia ter placas, mas at� agora n�o vi nada. Nossas vidas n�o podem esperar por lei nem por nada. Deviam ser uma prioridade”, disse.
A cozinheira Maria Auxiliadora Marciano de Oliveira, de 50, conta que quando chove o p�nico toma conta das crian�as. “J� ouvi os pequenininhos falando que todo mundo fica com medo aqui no bairro. De tanto ouvir a preocupa��o dos pais, eles acabam ficando com medo mesmo. J� os ouvi dizendo: 'Nossa Senhora, a chuva vai estourar e a barragem vai entupir a gente aqui em baixo na escola'”, conta.
Exerc�cio e sinaliza��o
Est� marcado para o dia 26 um exerc�cio de evacua��o organizado pela Prefeitura Municipal de Congonhas e a CSN. At� l�, a empresa afirma j� ter parte das cinco sirenes de alerta em funcionamento para serem acionadas aos primeiros sinais de problemas na Barragem Casa de Pedra. Na segunda-feira, a CSN instalou uma das primeiras sinaliza��es de Ponto de Encontro nas comunidades amea�adas e, � noite, houve reuni�o com a comunidade num galp�o para falar sobre a evacua��o de emerg�ncia. Em discurso numa r�dio local, o prefeito Jos� de Freitas Cordeiro, o Zelinho, (PSDB), informou que o munic�pio est� contratando profissionais para auxiliar no monitoramento e que mant�m conversas com a mineradora. “H� seis meses estamos em conversas para que a CSN mude a forma de disposi��o de rejeitos para uma forma s�lida, sem �gua. Estamos monitorando essa situa��o por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e estamos contratando ge�logos e especialistas para nos ajudar a fiscalizar”, disse. Ele cobrou a publicidade das a��es para a empresa.