
De repente, no picadeiro, um est�dio fotogr�fico. Uma sala de hospital tamb�m se transforma para a sess�o de fotos. Nos desafios pela vida, duas iniciativas em Belo Horizonte, inspiradas na mesma fonte, mudaram a rotina de tratamentos de crian�as e adolescentes acometidos por paralisias, c�ncer e outras doen�as graves. Os atendidos no Centro de Equoterapia do Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes (Cercat), da Pol�cia Militar, no Bairro Prado, Regi�o Oeste de BH, e pacientes oncol�gicos do Hospital das Cl�nicas (HC), na Regi�o Hospitalar, deram uma tr�gua no cotidiano de reabilita��o e medicamentos para se tornarem super-her�is de verdade. No Cercat, campanha na internet est� arrecadando recursos para ampliar os retratos. Hoje, exposi��o � aberta ao p�blico na capital com o trabalho feito no HC.
A iniciativa da Associa��o Feminina de Assist�ncia Social e Cultura (Afas), entidade ligada � Pol�cia Militar, foi inspirada em projeto do fot�grafo italiano Josh Rossi, nos Estados Unidos. Ele transformou, num ensaio fotogr�fico, cinco crian�as portadoras de doen�as graves ou deficientes em super-her�is da Liga da Justi�a. Mas a surpresa ainda estava por vir: cada uma delas ganhou um quadro com seu retrato estilizado. A ideia em BH � fazer o mesmo. Os praticantes da equoterapia j� come�aram a ser fotografados. E, na festa de Natal, em dezembro, ganhar�o os quadros com uma bela montagem em 3D.
O projeto precisa arrecadar R$ 6 mil. Por aqui, volunt�rios est�o ajudando o sonho a se tornar realidade, do fot�grafo � casa de festas que emprestou as fantasias. Cada um p�de escolher qual e que tipo de her�i queria ser. E tem de tudo, dos cl�ssicos dos quadrinhos a policial e jogador de futebol. As meninas preferiram as princesas do momento e as de antigamente, como Ana e Elza, Cinderela e Branca de Neve. A presidente da Afas, major F�tima Rufino, conta que quando viu o v�deo de Josh Rossi pensou imediatamente nos meninos da equoterapia. “Do grupo, 99% s�o muito carentes e, por isso, estamos sempre pensando em algo para amenizar essa luta. O mais caro seria um fot�grafo. Liguei para um amigo e ele topou”, relata.
O dinheiro arrecadado ser� usado para amplia��o de fotos e molduras e para pagar a lavagem das fantasias, cedidas pela Casa do Sol. Alguns dos praticantes ficar�o nas pr�prias cadeiras, outros est�o sendo fotografados sentados num banquinho. A log�stica � toda coordenada no momento das fotos e observadas as caracter�sticas e necessidades de cada her�i. “Essas crian�as j� lidam com perda. J� nasceram com a perda de um movimento, t�m alguma parte do corpo que n�o funciona. Ent�o, qualquer a��o que fazemos pra amenizar um pouco, uma manh� diferente, arrumar o cabelo, uma maquiagem, � uma forma de abrandar o cora��o deles. S�o s� problemas para eles e os familiares, uma situa��o dessa permite perceberem que h� algu�m pensando neles e que tem carinho por eles”, afirma major F�tima.

COWBOY Atualmente, 102 crian�as, adolescentes e adultos s�o atendidos. O Cercat � o �nico lugar na Grande BH a oferecer a equoterapia gratuitamente. Ele atende pacientes com 37 patologias, como paralisias, autismo, s�ndrome de down, hiperatividade e problemas de equil�brio. Uma delas � Emmily Almeida Corr�a, de 12 anos. A m�e dela, a dona de casa Marlene de Almeida Queiroz Corr�a, de 47, viu a filha se transformar em um cowboy. A escolha foi em raz�o de sua paix�o pelos cavalos. Diagnosticada com paralisia cerebral na idade de 1 ano, come�ou a fazer equoterapia em outra institui��o quando tinha 3. Na fila do Cercat, foram quatro anos e, h� um e meio, conseguiu atendimento. “A Emmily n�o sentava, pois n�o tinha o equil�brio do tronco. Assim que come�ou a praticar o esporte, sentou”, lembra.
Para Marlene, o ensaio fotogr�fico foi um alento. “O sorriso dela conta tudo. Quando vestiu aquela roupa e passou a maquiagem ficou toda feliz. Enfrentamos uma luta muito grande, buscando apoio de todos os lados. A carinha feliz da minha filha significa diferen�a no tratamento, o que para n�s � tudo, ver que ela agora faz algo que n�o fazia. Porque cada dia para gente � uma vit�ria.”
Dia de estreia e supera��o
Quem v� o pequeno Davi Resende, de apenas 3 anos, correndo pelo sal�o nem imagina que ele acabava de receber alta. Do Hospital das Cl�nicas direto para o Museu Inim� de Paula, na Rua da Bahia, Centro de Belo Horizonte, o garotinho, diagnosticado com leucemia h� quatro meses, era s� anima��o, com sua fantasia de super-homem. Quis nem conversa, ao lado do irm�o Isaac, de 9. “Ele estava desde sexta-feira internado para media��o. Ficou muito feliz de ser o super-homem. A iniciativa traz alegria, porque no dia a dia as crian�as em tratamento ficam em casa ou no hospital”, afirma a m�e do menino, a t�cnica em contabilidade Aline Resende, de 38.
Davi � um dos 17 pacientes onco-hematol�gicos pedi�tricos do Hospital das Cl�nicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), na faixa et�ria de 2 a 17 anos, a participar de um ensaio fotogr�fico inspirado tamb�m na ideia do italiano Josh Rossi. O projeto SuperA��o veio da equipe do eixo Qualidade de vida e diagn�stico precoce do c�ncer na inf�ncia e na adolesc�ncia, do programa de extens�o ObservaPED, da Faculdade de Medicina da UFMG. “Desde o diagn�stico e durante o tratamento h� uma mudan�a na rotina dessas crian�as. Elas s�o afastadas da vida social, n�o conseguem ir � escola com a mesma frequ�ncia. Essa a��o permitiu um momento de brincadeira, o resgate do l�dico, para sentirem que s�o crian�as e terem um suspiro nessa rotina dura”, diz a idealizadora, oncologista pediatra do HC e professora da Faculdade de Medicina, Karla de S� Rodrigues.

As crian�as foram escolhidas por sorteio, dentre as que estavam em tratamento no HC. Cada uma delas escolheu o super-her�i favorito para o dia das fotos. Maquiadores e cabeleireiros tamb�m cuidaram das m�es, que participaram do ensaio. Todo o trabalho foi volunt�rio e contou com uma corrente do bem. O resultado foi conhecido ontem, durante a abertura da exposi��o, que ficar� durante um m�s no Museu Inim� de Paula e, a partir de hoje, est� aberta ao p�blico. Para a festa de ontem, uma van levou os modelos que estavam internados do hospital ao museu. Nem todos estiveram presentes ao evento, por causa das condi��es de sa�de. A celebra��o foi transmitida ao vivo para um restaurante nos Estados Unidos, que doou as fantasias.
Giulia Privitera, de 10 anos, escolheu ser a super-girl. Acometida por neuroblastoma h� quatro anos, ela deu um exemplo de vivacidade ao lado do pai, �ngelo Privitera, de 53, e da m�e, Luzia Amorim, de 43. “Foi um momento especial para as crian�as. �s vezes, por causa da doen�a, nos questionamos se somos bonitos ou feios. E as fotos trouxeram a certeza de que todos somos bonitos”, contou. “O tratamento � muito pesado e ela quer de volta a vida normal que tinha antes da doen�a”, diz Luzia.
SERVI�O
Projeto Super-her�is de verdade
Doa��o pelo site https://ajude.afas.org.br
Exposi��o Projeto SuperA��o
Museu Inim� de Paula
(Rua da Bahia, 1.201, Centro).
Ter�a, quarta, sexta e s�bado
(das 10h �s 18h30), quinta (das 12h �s 20h30)
e domingo (das 10h �s 16h30)
Informa��es: (31) 3213-4320