
“Em S�o Sebasti�o do Rio Preto (Regi�o Central), onde mor�vamos, tinha sempre pres�pio. Meu pai, Luiz, fazia as casinhas de madeira. Quando nos mudamos para c�, meu marido e eu fomos morar num lugar bem pequeno, de fundos, cham�vamos de caixinha de f�sforo, no Bairro Funcion�rios (Regi�o Centro-Sul). Mesmo naqueles tempos dif�ceis, mantivemos o costume, fazendo o pres�pio em cima da mesa. � muito bom preparar o lar e anunciar o nascimento de Jesus junto com a fam�lia”, destaca ela.
L�cia j� perdeu a conta de quantas pe�as tem, somadas, a gruta do nascimento de Jesus, a fazendinha, as pra�as e outros espa�os distribu�dos sobre um tablado. Tamb�m n�o sabe a quantidade de visitantes que batem � porta da resid�ncia, ao lado da Igreja Santa Luzia, para conhecer o pres�pio, famoso na regi�o. “Dom Serafim (cardeal e arcebispo em�rito de BH) vem todo ano”, orgulha-se. Na noite de ter�a-feira, ela recebeu um grupo de ora��es do Ter�o e a emo��o foi maior, j� que toda a ilumina��o se acendeu e a fonte jorrou �gua. “Gastei 16 dias, quatro a menos do que no ano passado, para deixar tudo pronto. Recebo ajuda de um sobrinho, que mora nos Estados Unidos e vem nesta �poca, de um funcion�rio da igreja e de um primo encarregado da parte el�trica”, detalha.

Os olhos n�o se cansam de descobrir os ambientes cuidadosamente elaborados, tendo ao fundo um c�u azul com estrelas prateadas, montanhas reluzentes pelos caquinhos de vidro pregados no tecido r�stico e a grama verde confeccionada com serragem tingida com anilina. “Os panos da montanha foram feitos por uma artes� de Santa Luzia, e o gramado, eu mesma fiz”, conta. “�... este pres�pio acompanha minha vida”, resume o esmero empregado na estrutura e figuras em torno da qual, na noite de 24 para 25 de dezembro, todos se re�nem para rezar e desejar votos de paz, sa�de e felicidade.

“Gosto muito de �gua, � nosso alimento, por isso dedico um lugar a ela. Fazemos uma representa��o da Sant�ssima Trindade, onde o Pai � a fonte, o Filho, o rio, e o Esp�rito Santo, a �gua que mata nossa sede”, observa. H� tamb�m pontes, que representam Maria, “que nos une a Jesus”. A cena � a deixa para L�cia falar do“pecado social”, que � ficar indiferente aos pobres nas ruas, aos drogados e outros. Ministra da eucaristia, L�cia recorda seu trabalho volunt�rio no Hospital M�rio Pena e no pres�dio de mulheres, onde montou um pres�pio vivo com as detentas.
120 ANOS LEMBRADOS NA CATEDRAL
Como na casa de dona L�cia Garcia, tamb�m nas igrejas, como o Santu�rio de Adora��o Perp�tua – Par�quia de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rua Sergipe, 175, no Bairro Funcion�rios, o pres�pio presta uma homenagem aos 120 anos de Belo Horizonte, diz o reitor, padre Marcelo Silva. Devido �s obras de restaura��o interna, o cen�rio do nascimento de Jesus est� mais perto da rua. Ele convida para a vig�lia de Natal, que ter� missa �s 19h30 do dia 24, celebrada pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, dom Geovane Lu�s da Silva.
“Quer�amos ter colocado v�rias refer�ncias a BH, mas fica a homenagem. A tradi��o cat�lica aqui se manteve forte ao longo tempo”, ressalta o reitor. Nesta temporada, padre Marcelo encabe�a a campanha, junto aos paroquianos, #forapapainoel, de forma a destacar Jesus como s�mbolo de amor, justi�a, paz e fam�lia. “Papai Noel � apenas consumo, com�rcio, vendas e presentes”, resume. Em visita ao pres�pio durante o almo�o, o banc�rio Rodrigo Roque, morador de Sete Lagoas, pai de uma jovem de 20 anos, concorda com a posi��o do padre. “Gosto de vir aqui rezar, acho que Papai Noel � consumo. Jesus traz a paz”, disse o banc�rio. A cena b�blica � ressaltada pelo anjo com a faixa Gloria in excelsis Deo (Gl�ria a Deus nas alturas). O pres�pio foi montado pelos volunt�rios Concei��o Schettini e Gl�ucio Junqueira.
CIRCUITO Cidade nascida nos tempos coloniais, Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de BH, inaugurou na quinta-feira o Circuito de Pres�pios. As visitas v�o at� 6 de janeiro. Moradores abrem as casas para a visita��o. Informa��es pelo telefone (31) 3641-4791.
O significado
A palavra pres�pio significa est�bulo, manjedoura. S�o Francisco de Assis iniciou a tradi��o em 1223, nas redondezas de Greccio, It�lia, com o objetivo de celebrar o Natal da maneira mais realista poss�vel. Com autoriza��o do papa, ele montou um pres�pio de palha usando uma imagem do Menino Jesus, um boi e um jumento vivos perto dela. A ideia rapidamente se estendeu por toda a It�lia, especialmente nas casas dos nobres e mais pobres. Na capital e interior de Minas, a tradi��o de fazer pres�pios continua cada vez mais viva. As fam�lias se unem para retirar as figuras das caixas, desdobrar os panos enfeitados com esmeril e caquinhos de vidro, que formam as montanhas, buscar areia e pedras para montar a estrutura e, claro, contar hist�rias e recordar os antepassados.
