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Estado de Minas

Homem que perdeu a filha no Natal se veste de Papai Noel para alegrar crian�as carentes

H� 24 anos, Jos� Na�de � o bom velhinho e deixa as festas natalinas para percorrer v�rias cidades distribuindo brinquedos, roupas e cestas b�sicas


postado em 24/12/2017 06:00 / atualizado em 24/12/2017 07:31

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)

Eram 9h30 do dia de Natal de 31 anos atr�s. A fam�lia toda viajava pela Rodovia Fern�o Dias em dire��o ao Sul de Minas, quando o carro rodou na lama e bateu num caminh�o. No acidente, morreu Vera L�cia, filha que seis dias depois completaria 15 anos. E nascia ali um homem que transformou tristeza no sorriso e na alegria de milhares de crian�as. Sete anos depois da trag�dia, o hoje aposentado Jos� Na�de de Carvalho, o Jacar�, de 75, come�ou uma tradi��o cujo cen�rio s�o as zonas carentes e estradas de terra ao longo de 120 quil�metros de Belo Horizonte at� Crucil�ndia, na Regi�o Central do estado. H� mais de duas d�cadas, ele deixa as festas natalinas para percorrer v�rias cidades distribuindo brinquedos, roupas e cestas b�sicas a cerca de 1 mil crian�as. Amanh�, o Papai Noel vai para a estrada �s 7h, com a dor das lembran�as, mas pleno de esperan�a e com a certeza de quem far� a data ficar marcada na mem�ria de meninos e meninas.

S�o mais de 1,6 mil brinquedos, 70 cestas b�sicas, 100 quilos de balas, 80 fardos de pipoca. No meio da montanha de presentes guardados na casa de Jacar�, tudo est� separado pelo nome das cidades. Algumas sacolas t�m nomes de fam�lias que precisam de itens espec�ficos. Quatro bicicletas ser�o distribu�das tamb�m para pessoas que no �ltimo Natal deixaram um bilhete para o Papai Noel. A �ltima delas, novinha em folha, chegou ontem no fim da manh�. Motivo para Jacar� comemorar com uma felicidade genu�na, de impressionar quem testemunhava a cena.

Do Barreiro, onde est� o bar do Jacar�, sair�o um caminh�o-ba� e quatro carros. A primeira parada � o cemit�rio de Ibirit�, na Regi�o Metropolitana de BH, onde ele para e faz as ora��es perante o t�mulo da filha. Em seguida, o cortejo segue parando em Sarzedo, M�rio Campos, Brumadinho e Estrada Velha de Bonfim para distribuir presentes. O destino final � Crucil�ndia, onde a distribui��o � feita no parque de exposi��es da cidade e congrega crian�as n�o s� do munic�pio, mas de todo o entorno. Dez pessoas integram o grupo, incluindo os tr�s filhos de Jacar�.

A a��o come�ou em 1993. Jacar� passou os sete anos seguidos da morte da filha em profunda depress�o. O Natal era no cemit�rio. A fam�lia se desintegrou. Em 1993, sua companheira � �poca prop�s uma mudan�a radical e o incentivou a canalizar a tristeza fazendo o bem. Ele mesmo comprava os brinquedos, roupas e guloseimas. “O acidente ocorreu h� 31 anos, mas, para mim, parece que foi ontem”, diz. O percurso foi escolhido por estar na rota do cemit�rio e por ter estrada de terra. “Outro caminho seria a rodovia. Mas, esse � onde tem pessoas simples, gente que nem sabe que tem Papai Noel. Eu via dois meninos ou um pai com filho e oferecia um par de sapato se n�o tinha, uma bala, um brinquedo. J� dei punhado de bala na m�o de um menino que saiu pulando de alegria”, relata, com olhos marejados.

No segundo ano, a companheira lhe fez uma roupa de Papai Noel. “Eram 15h, est�vamos em Crucil�ndia e como sempre eu n�o havia comido nada, pois n�o como nada no Natal. Pedi um refrigerante num bar, quando chegou um rapaz que d� sandu�che e brinquedo de Natal l� na cidade, dizendo que Deus havia me mandado, porque estava cheio de crian�as no parque, mas n�o tinha Papai Noel. Expliquei que n�o tinha mais presentes, mas aceitei ir diante da insist�ncia. L�, prometi voltar no ano seguinte com presentes. A partir da�, comecei a pedir a colabora��o das pessoas”, conta.

Da caminhonete, os presentes passaram para um caminh�o-ba� pequeno e, da�, para um caminh�o e quatro carros. “Tudo na vida tem um porqu� e, n�o fosse isso (a perda da filha), eu n�o seria Papai Noel. Em todos esses anos, falhou apenas duas vezes, por ocasi�o de cirurgias. “Enquanto eu choro por dentro, muitas crian�as sorriem. Os olhos de um velho que pega uma cesta brilham, porque voc� mata a fome de uma pessoa.”

Jacar� sabe do que fala. Ele fez um raio-x de todos os beneficiados. Depois do Natal, ele costumava voltar para tra�ar o perfil de quem recebeu os presentes, para saber a quais fam�lias estava presenteando e quem realmente precisava. Segundo ele, todas as pessoas est�o cadastradas “na mente”. Em Crucil�ndia, ele continua a amizade e a parceria com o rapaz que o recrutou para ser o Papai Noel da cidade. Seguindo os passos do pai, Quim, apelido do amigo, continua distribuindo sandu�ches durante o evento, que tem direito a guerra de guloseimas. Os volunt�rios, da ca�amba de caminhonete, jogam balas e pipocas para as crian�as se esbaldarem. “Vejo a alegria das pessoas, o agradecimento, e como apenas uma palavra dita por algu�m te engrandece e enche de esperan�a.”

SOLIDARIEDADE A distribui��o de presentes e alimentos no Natal � tradi��o entre algumas pessoas. Papai Noel do Restaurante Popular de Belo Horizonte h� mais de 20 anos, M�rio de Assis se veste do personagem que alegra crian�as e adultos para uma comemora��o especial. O almo�o de Natal ocorre amanh�, no Restaurante Popular II (Rua Cear�, no Bairro Santa Efig�nia, Regi�o Leste de BH). Brinquedos, materiais de higiene pessoal e guloseimas, como pipoca, pirulitos e balas, fazem a alegria de quem vai ao local. No Bairro Lagoinha, na Regi�o Noroeste, volunt�rios da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte oferecem tamb�m amanh� um lanche, �s 15h, para moradores em situa��o de rua.


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