Ano novo, vida renovada e muitas esperan�as no ar, f� no futuro e desejo de menos intoler�ncia religiosa, mais respeito com as diferen�as e uni�o entre os povos. Para resumir todas ideias e sentimentos, � fundamental uma regra de ouro: “Amar o pr�ximo como a si mesmo, em qualquer tempo e n�o apenas no Natal e r�veillon”. Nisso acreditam piamente oito estudantes, de v�rias cren�as, residentes em Belo Horizonte. Para eles, a paz no mundo � poss�vel, mesmo com as diverg�ncias entre cat�licos, evang�licos, judeus, mu�ulmanos, candomblecistas, umbandistas, budistas, esp�ritas, ateus, agn�sticos ou de outra f�. Embora nem todos os jovens ouvidos pelo Estado de Minas na semana passada creiam na figura de Jesus e nos s�mbolos crist�os, fica evidente que a �poca natalina toca o cora��o, re�ne as fam�lias e fortalece a��es de solidariedade, fraternidade e vontade de melhorar o planeta.
O nascimento de Jesus � uma das datas mais comemoradas no Brasil, pa�s com maioria cat�lica. Em Minas, 70% da popula��o se declara seguidora da Igreja chefiada pelo papa Francisco, conforme �ltimo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE-2010). Tamb�m em Minas, 25% dos entrevistados se declaram protestantes – a religi�o cont�m 22 segmenta��es, de acordo com a pesquisa, variando entre evang�licas de miss�o e evang�licas de origem pentecostal. Os esp�ritas, no territ�rio mineiro, correspondem a 2% dos residentes, enquanto os candomblecistas, budistas, judeus, ateus e agn�sticos, juntos, somam menos de 1%.
Para Jacqueline Alves Silva, 18, evang�lica pentecostal, pertencente a Assembleia de Deus, este � um momento para lembrar "o presente que Deus deu". "O dia 25 n�o � o dia em que Jesus nasceu, mas o dia de relembrar o presente que nos foi dado. � muito mais lembrar do amor que teve por n�s, compartilhar o amor na fam�lia e no natal”, pontua a jovem que foi � igreja e fez um culto dentro da pr�pria casa com uma confraterniza��o colaborativa.
INTERA��O Durante o encontro – parte dos jovens estiveram no mesmo dia na reda��o do EM – com os jovens, houve um momento surpreendente e emocionante, quando cada um tirou um s�mbolo importante para sua religi�o. Da bolsa, sa�ram o alcor�o fundamental para os mu�ulmanos; o ter�o cat�lico, fio de contas do candombl�, o ros�rio budista, livros de espiritismo, uma b�blia evang�lica, como tamb�m um viol�o com palavras e s�mbolos em hebraico do jovem judeu. Os jovens tamb�m repudiaram depreda��es de templos e lugares sagrados para todas religi�es, como ocorreu em 2017, incluindo terreiros em Minas.
O encontro gerou um interesse no grupo de debater cada vez mais o tema. Em nenhum momento houve atrito, desrespeito ou intoler�ncia e todos se empenharam em aprender mais sobre os caminhos da f�, independentemente da religi�o. E a reuni�o gerou frutos, j� que o grupo pretende marcar um pr�ximo encontro interagir mais e trabalhar na promo��o da paz.
Para a mu�ulmana Imane El Khal, de 19, vinda de uma fam�lia marroquina e moradora do Bairro Mangabeiras, na Regi�o Centro-Sul, o Natal vai muito al�m de uma data. “Ao contr�rio do que muita gente pensa, n�s, mu�ulmanos, cremos em Jesus. Mas n�o temos certeza da veracidade da data. Ent�o, n�o focamos nela, mas sim em manter o esp�rito vivo no nosso dia a dia. Tudo o que Jesus ensinou, n�s seguimos”, conta Imane.
A jovem mu�ulmana passou o domingo com seus parentes e foi at� a mesquita, no bairro onde mora, fazer suas preces e ler o alcor�o. “Fui l�, como se fosse um dia qualquer”, informou a jovem. Para os isl�micos, Jesus � um dos principais profetas e mensageiros enviados � humanidade � uma esp�cie de profeta. Mas mesmo dando relativa import�ncia a sua figura, os fi�is n�o reservam uma data especial para comemorar seu nascimento. Os mu�ulmanos acreditam em Al�, se baseiam no alcor�o, o seu livro sagrado, e possuem o Ramad� – per�odo em que praticam jejum – como uma das principais �pocas do ano. Vista por muitos, de forma err�nea, como uma religi�o intolerante, o islamismo prega virtudes, como a paz, que � o principal ensinamento.
Outro que tamb�m tem ra�zes espalhadas pelo mundo � o jovem Vitor Zucher, de 20. Com a fam�lia paterna judaica, o jovem integrou um movimento juvenil judaico na capital mineira, Habonim Dror, quando p�de participar de discuss�es sobre intoler�ncia. "Juda�smo n�o � s� uma religi�o, e, sim, um povo. A democracia adv�m da cultura judaica, com fundamentos nos dez mandamentos que Mois�s recebeu no Monte Sinai. Portanto, muito tem a ver os direitos humanos com o princ�pio do juda�smo", disse Zucher, que passou um ano em Israel conhecendo melhor o pa�s. "Todas as religi�es s�o de paz. O que muda � a maneira como o homem a interpreta".
�TICA J� a candomblecista Luciana Gon�alves de Souza, de 18 anos, divide a v�spera e o dia do Natal entre comemora��es de sua religi�o e as crist�s. “Ele n�o tem o mesmo significado no candombl� como em outras religi�es. Nossos deuses s�o os orix�s. Contudo, a celebra��o � um momento em que a gente tem uma reuni�o de fam�lias em todos os n�veis – seja de sangue ou de afinidade”, contou.
Na cultura candomblecista, Oxal� � uma das mais antigas das divindades geradas por Ol�d�mar�. A partir de lendas sobre os orix�s, certos valores s�o passados aos que seguem a religi�o, assim como Xang� representa a justi�a. Assim como os crist�os, a fam�lia � um dos mais importantes elementos no candombl�. Ela conta que, quando come�ou a frequentar uma casa, passou a fazer parte de uma fam�lia: “N�s os chamamos de irm�os, pais, m�es. Esse esp�rito natalino est� dentro da religi�o. Celebramos com nossas fam�lias”, contou.
Budista de linhagem soka gakkai, Victor Mendon�a, 20, v� o Natal como uma simbologia para algo que o budismo tenta aplicar durante todo o ano. “Por isso, respeito o cristianismo, afinal, Jesus foi um grande l�der assim como Buda.” O Natal, para os budistas, em geral, � o que mais se assemelha ao cristianismo e se chama Hana Matsuri. Em vez inv�s de comemorar o nascimento de Jesus, o budismo festeja Sidarta Gautama, nome real de Buda. Nessa data, ele � colocada em um altar enfeitado.
H� tamb�m quem considere os fen�menos sobrenaturais inacess�veis � compreens�o humana. A palavra que deriva do grego agnostos significa “desconhecido”, conta Eduarda Gon�alves, 18. A defini��o � diferente do ateu, que n�o cr� em Deus ou em qualquer “ser superior”. “Minha fam�lia � de origem cat�lica, mas preferi n�o seguir todas as teorias, porque sentia que era mais obriga��o do que amor. N�o tinha muito uma escolha e acabei ficando no meio do caminho. Tenho f�, entretanto n�o acredito na exist�ncia de um deus, mas tamb�m n�o duvido dela. Vai de pessoa para pessoa. Felicidade est� acima de qualquer coisa, o bem maior que a gente pode ter � a paz”, observou a jovem.
(* Estagi�rio sob supervis�o do editor Roney Garcia)
Amor
“Esse per�odo de amor, nos faz lembrar o presente que Deus nos deu: o filho que veio para pagar por nossos pecados. O Natal nos faz lembrar o amor que Ele tem por n�s”
Jacqueline Alves Silva, de 18, evang�lica
Uni�o
“Quando nos iniciamos para os santos, come�amos a frequentar uma casa e fazemos parte de uma fam�lia, na qual nos chamamos de irm�os, pais, m�es. � muito importante a celebra��o do Natal, porque � um momento em que a gente re�ne a fam�lia, n�o s� a de sangue”
Luciana Gon�alves de Souza, de 18 anos, candomblecista
L�der
“Vejo, dentro da minha religi�o, o Natal como uma simbologia para algo que o budismo tenta aplicar durante todo o ano. Por isso, respeito � v�lido o cristianismo, afinal, Jesus foi um grande l�der, assim como Buda”
n Victor Mendon�a, 20 anos, budista
Esp�rito vivo
“Ao contr�rio de que muita gente pensa, acreditamos em Jesus. Mas, n�o focamos em data, e sim em manter o esp�rito vivo todos os dias em nosso car�ter, no nosso dia a dia”
Imane El Khal, de 19, mu�ulmana
Salva��o
“Comemoramos o nascimento de Cristo e o que Ele fez, nos salvando do pecado e nos trazendo amor”
Manuella de Oliveira, de 17, cat�lica
Reflex�o
“Este � um momento de reflex�o. � quando eu olho para o meu �ntimo e paro para cuidar da minha fam�lia, da minha ess�ncia. � quando eu penso em Cristo e penso se estou os fundamentos dele e amando o pr�ximo”
Priscila Resende, de 19, esp�rita
Legado
“O maior legado para n�s, povo judaico, � o Veahavtah Lerecha Kamocha, que quer dizer: ame o pr�ximo como a si mesmo”
Vitor Zucher, de 20, judeu
Bem maior
“Eu n�o me sinto representada por nenhuma religi�o, mas, acredito que devemos tratar o outro da melhor maneira poss�vel, durante todo o ano. Quanto mais voc� faz o bem, mais ele � reproduzido pelos outros. O bem maior que a gente pode ter � a paz”
Eduarda Gon�alves, 18, agn�stica
O QUE DIZ A LEI
Liberdade constitucional
De acordo com o artigo 5º da Constitui��o Federal do Brasil, a liberdade de cren�a � inviol�vel – e � assegurado a todos, por lei. “� inviol�vel a liberdade de consci�ncia e de cren�a, sendo assegurado o livre exerc�cio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote��o aos locais de culto e a suas liturgias”, diz o texto.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
TOLER�NCIA E CONHECIMENTO
“O ponto em comum em todas as religi�es � o amor. Apesar de credos t�o diferentes, os objetivos s�o os mesmos. A regra de ouro das religi�es � a base de todas. Em qualquer religi�o que voc� conhecer, a regra � e ser� a mesma: amar o outro como a si mesmo. Os caminhos s�o diferentes, mas todas dizem o mesmo: aceite a pessoa como gostaria que voc� fosse aceito. Amar o pr�ximo e n�o querer que ele seja como voc�. Antigamente, a maior parte das pessoas do meu conv�vio era cat�lica, at� mesmo por sempre haver uma igreja por perto. Hoje, estamos em um mundo globalizado e os alunos viajam para pa�ses de maioria mu�ulmana, protestante, entre outras. Este encontro de jovens conversando sobre religi�o � o retrato da toler�ncia. J� pensou pessoas de diferentes religi�es, que nunca se viram, em um lugar debatendo sobre o que acreditam? Podendo discordar, concordar, sem criar um bloqueio? Eles s�o muito pra frente, e est�o muito al�m”
Simone Fortunato,
coordenadora do Col�gio Sagrado Cora��o de Jesus