Na boca do foli�o, s� elogios: muito agito, gente bonita, poucas ocorr�ncias policiais, diversidade de ritmos e samba no p�, ax� na cabe�a, funk para turbinar a folia e marchinhas relembrando outros tempos. Os organizadores e produtores dos blocos tamb�m atestam o sucesso do carnaval 2018 em Belo Horizonte, embora cientes de que a estrutura pode melhorar, principalmente para os pesos-pesados dos desfiles, que defendem a necessidade de cria��o de circuitos pr�-definidos a fim de diminuir impactos urbanos e fazer a cidade entender a festa sem desafinar.
Se os maiores blocos querem explorar mais as ruas, com apoio municipal, os de engajamento social, em especial no �mbito da ocupa��o do espa�o p�blico, defendem a liberdade de continuar colorindo a cidade de uma forma diversa e democr�tica. E sem problemas com as autoridades.
“Precisamos de uma seguran�a cidad�, comunit�ria e humanizada durante o carnaval. A Pol�cia Militar, por exemplo, precisa mudar a forma de perceber a alegria das pessoas no per�odo”, diz Rafael Barros, integrante do Filhos de Tcha Tcha, que normalmente sai em �reas de ocupa��o e este ano desfilou na Regi�o do Barreiro, com cerca de mil foli�es.
Na segunda-feira, a dispers�o numa �rea de ocupa��o foi alvo, segundo Barros, da “trucul�ncia e viol�ncia” de policiais no lugar do di�logo. A PM nega trucul�ncia e afirma que os integrantes desrespeitaram o hor�rio marcado para a conclus�o do desfile e pedras foram arremessadas nos PMs, al�m de uma mulher ter desacatado os militares.
Campe�o de audi�ncia no carnaval de 2018, o bloco Baianas Ozadas arrastou 650 mil pessoas pelas avenidas Amazonas e Afonso Pena segundo os organizadores. O aumento de cerca de 150 mil pessoas em rela��o a 2017 aumentou tamb�m os n�veis de anima��o e emo��o do desfile, mas trouxe junto as dificuldades, principalmente de deslocamento do trio, que saiu da Afonso Pena entre as ruas Bahia e Esp�rito Santo, entrou na Avenida Amazonas e terminou na Pra�a Rui Barbosa (da Esta��o).
Segundo a empres�ria do bloco, Pollyana Paix�o, o fechamento do sentido rodovi�ria da Afonso Pena por conta dos desfiles dos blocos caricatos fez com que a aglomera��o se iniciasse prioritariamente na frente o trio, o que dificultou a sa�da e exigiu paci�ncia dos foli�es e da organiza��o.
Outra quest�o que, na avalia��o da empres�ria, poderia ter sido majorada era o n�mero de seguran�as contratados – foram 50 este ano – para manter a corda no entorno do bloco, mas ela explica que � muito dif�cil planejar a quantidade de pessoas que vai seguir o cortejo. “Avaliando, agora, acho que este ano a gente deveria ter contratado 100 seguran�as.
Para o ano que vem, mesmo se acharmos que n�o vai crescer, mas acaba crescendo, teremos que come�ar a pensar em 150”, afirma. As interfer�ncias de �rvores, sem�foros e cabos apontam, segundo Pollyana, a necessidade de se pensar em circuitos pr�-estabelecidos da folia, em que seja poss�vel planejar menos interfer�ncia, algo semelhante ao que ocorre em Salvador.
Pollyana ainda destaca que estruturar o carnaval como um produto que precisa de mais investimento das empresas privadas � a principal necessidade, a partir do momento em que a festa tomou as propor��es vistas nas ruas e avenidas da cidade. Mas ela acredita que isso n�o � nenhum empecilho para o car�ter diverso da folia, que tamb�m tem todo o espa�o para as reuni�es espont�neas e blocos menores, cuja ocupa��o de �reas p�blicas � a principal reivindica��o, bandeira essa que foi a respons�vel pela retomada do carnaval de BH. “Tamb�m n�o estamos falando em momento nenhum de abad�, mas sim de um local onde possamos atrair um n�mero de p�blico com estrutura melhor”, afirma.
Bloc�o
“Os shows foram sensacionais e j� nos apontam a necessidade de avaliar algum outro local mais aberto no Castelo. No Buritis ainda n�o enxergo tanta alternativa, mas � certo que o trio el�trico tem que andar. Quando fica parado, a probabilidade de a multid�o ser ainda maior � muito grande”, diz Lelo.
Tanto no Buritis quanto no Castelo, o grupo enfrentou muita interfer�ncia de ve�culos estacionados nas ruas, o que para Lelo indica que faltou maior ostensividade de faixas e avisos das proibi��es de estacionamento. Ao defender a possibilidade de se estudar circuitos da folia, ele tamb�m acredita que a medida dar� mais seguran�a aos blocos gigantes. “A gente s� fica pensando em procurar formas de encaixar cada bloco dentro de sua caracter�stica”, afirma.
Festa para todo mundo
Produtora do Tchanzinho Zona Norte, que arrastou 50 mil pessoas no desfile deste ano – 20 mil a mais do que em 2017 – no Bairro Dona Clara, na Regi�o da Pampulha, Laila Heringer diz que o crescimento mostra um ponto altamente salutar: os blocos “tocaram” todo mundo, situa��o bem diferente do in�cio da d�cada, quando estavam restritos “� classe m�dia e estudantes da Centro-Sul”.
Lembrando que o Tchanzinho j� nasceu descentralizado em 2013, a produtora lembra ser fundamental pensar em quem brinca o carnaval ou est� circulando pela cidade, trabalhando ou com outras atividades.
Por isso mesmo, as aten��es do bloco se voltam para a BHTrans, que precisa, no entender de Laila, se preocupar com o espa�o para o desfile dos blocos e tamb�m com os pedestres. “Este � um ponto crucial para n�o causar problemas”, disse Laila, que destaca maior comunica��o existente com a Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte, organizadora do carnaval. Para ela, merecem elogios a Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU), pela capina da Avenida Sebasti�o de Brito, no Dona Clara, e a Sudecap, pelo tapa-buracos nessa via p�blica.
J� Rodrigo Zavagli, organizador do Bei�o do Wando, que este ano se apresentou na Pra�a da Pampulha, tamb�m bate palmas para a descentraliza��o. No ano passado, o bloco saiu no Bairro Funcion�rios, na Centro-Sul, com 40 mil pessoas. “N�o sabemos ainda se em 2019 ser� no mesmo lugar, mas posso dizer que foi mais confort�vel. Sem aperto e mais amplo”, disse.
Um dos problemas no local, criticado por muitos foli�es, esteve no n�mero limitado de banheiros qu�micos. Zavagli n�o culpa a Belotur, j� que essa presta��o de servi�o � terceirizada. Ele diz que seriam colocados 87 na pra�a, mas quando chegaram havia apenas 20. Devido � situa��o, foram providenciados mais 45. “Acho que fizemos um carnaval mais equilibrado, com um som melhor, e distribu�mos cerca de mil sacos de lixo para o p�blico”, ressaltou.
Toque de recolher
Rafael Barros, integrante do Filhos de Tcha Tcha, que est� na ativa desde 2010, afirma que o local de desfile � sempre trabalhado durante o ano – desta vez, por exemplo, foi numa �rea de ocupa��o no Barreiro. Sobre a atitude da Pol�cia Militar, ele acha que precisa haver mudan�a em rela��o aos foli�es. No caso da dispers�o, Rafael est� certo de que ocorreu um “toque de recolher”, pois tudo estava dentro do estipulado e tinha muito pouca gente no local, �s 21h.
“Em vez de di�logo, houve viol�ncia”, resume. A PM respondeu que os integrantes tentaram negociar a amplia��o do hor�rio do desfile do bloco, marcado para se encerrar �s 20h, mas que uma integrante do bloco desacatou os militares ap�s se exaltar muito e por isso acabou sendo detida. Um homem tamb�m foi preso por atirar pedras e machucar policiais que estavam na seguran�a do evento, conforme o tenente-coronel S�lvio Mendes, comandante do 41º Batalh�o da PM.