Se voc� tem o costume de usar algum aplicativo de mensagens pela internet no celular ou est� ligado �s redes sociais j� deve ter recebido alguma mensagem condenando a vacina. Seja em nome de uma m�dica do Instituto Butantan, de S�o Paulo, ou uma conversa entre pessoas ligadas ao Hospital Fel�cio Rocho, em Belo Horizonte, ou at� mesmo um link com uma mat�ria publicada no site da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), organiza��o que � a respons�vel pela produ��o da vacina, com uma mensagem que n�o condiz com o teor da publica��o. No texto, de 17 de maio do ano passado, a Fiocruz revela que estudos identificaram muta��es no v�rus da febre amarela ao fazer o sequenciamento gen�tico, mas deixa claro que “sobre um poss�vel impacto para a vacina dispon�vel, os pesquisadores explicam que o imunizante adotado atualmente protege contra gen�tipos diferentes do v�rus, incluindo o sul-americano e o africano. Al�m disso, as altera��es detectadas no estudo n�o afetam as prote�nas do envelope do v�rus, que s�o centrais para o funcionamento da vacina”, informa o texto, ratificando que n�o h� problema com o imunizante que � aplicado atualmente.
Refor�ando o comunicado da Fiocruz, a m�dica infectologista Virg�nia Zambelli, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, destaca que os n�meros de Minas Gerais mostram inclusive uma efic�cia ainda maior do que � esperado, j� que os 11 vacinados que contra�ram febre amarela em Minas representam um percentual perto de zero em rela��o aos 16 milh�es de imunizados. “As pessoas que ainda n�o se vacinaram e n�o t�m contraindica��es precisam se vacinar, pois ficar sem essa prote��o � a maior forma de se expor ao risco da doen�a”, acrescenta a m�dica, destacando que nenhuma vacina � 100% eficaz.
Na onda virtual contra a vacina se destaca tamb�m um �udio atribu�do a uma pessoa que seria m�dica do Instituto Butantan, organiza��o paulista respons�vel por pesquisas na �rea biol�gica e produ��o de outros produtos usados no Programa Nacional de Imuniza��o (PNI).
Na mensagem, a mulher desaconselha uma amiga a vacinar o filho, destacando que a vacina s� � recomendada porque o risco de suas complica��es � melhor do que morrer de febre amarela. Especialistas e o Minist�rio da Sa�de apontam que o risco de uma rea��o adversa � vacina � de 1 caso para cada 400 mil aplica��es e, conforme Virg�nia Zambelli, n�o h� nenhum relato desse tipo de complica��o em Minas Gerais desde o surto do ano passado. Al�m disso, a mesma mulher aparece nos boatos como m�dica, pesquisadora, enfermeira e nunca tem seu nome revelado, motivos suficientes para gerar descren�a.
O m�dico infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco lembra que, apenas em Minas Gerais, a m�dia de imuniza��o da popula��o antes do primeiro surto, no ano passado, girava em torno de 45% – hoje � de 89%, ainda aqu�m dos 95% preconizados pelo governo de Minas e pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para �reas de risco da doen�a. “Isso � uma explica��o para os casos, pois o �ndice de vacina era baixo”, afirma Greco. A vacina produzida pela Fiocruz que protege contra a febre amarela � o v�rus atenuado da doen�a, que motiva o organismo a produzir os anticorpos que v�o proteger as pessoas para o resto da vida. Mas isso tamb�m foi suficiente para gerar boatos de que o v�rus atenuado estava desenvolvendo a doen�a nas pessoas. “A vantagem da vacina atenuada � justamente o fato de que a resposta imunol�gica � mais intensa”, acrescenta Dirceu Greco.
INVESTIGA��ES A expectativa do subsecret�rio de Vigil�ncia e Prote��o � Sa�de da SES/MG, Rodrigo Said, � de que os cerca de 2 milh�es mineiros que ainda n�o foram imunizados no estado sejam vacinados o mais r�pido poss�vel, pois est� mais do que provado que a vacina � a principal prote��o contra a transmiss�o do v�rus. “Estatisticamente, 11 casos s�o abaixo do que � visto pela literatura cient�fica e isso nos aponta que a vacina tem sua efic�cia. Agora, n�s precisamos aprofundar a investiga��o dos 11 casos. Nas investiga��es que j� fizemos e com os registros at� o momento n�o encontramos situa��es espec�ficas”, afirma. Por fim, Said faz um alerta para quem tem o costume de divulgar informa��es falsas na internet. “As pessoas devem checar as fontes das informa��es. Aqui na secretaria, todos os trabalhos seguem a medicina baseada em evid�ncias e com o respaldo da OMS”, finaliza o subsecret�rio.

INFORMA��O NA DOSE CERTA
Saiba o que � verdade e o que � boato sobre a febre amarela
FALSO
A vacina contra a febre amarela n�o � segura devido � muta��o do v�rus.
Explica��o: As altera��es detectadas no sequenciamento gen�tico que comprovam a muta��o n�o afetam as prote�nas do envelope do v�rus, que s�o centrais para o funcionamento da vacina
FALSO
A dose fracionada da vacina da febre amarela, que cont�m 0,1ml, � mais fraca e por isso n�o protege.
Explica��o: Estudo conduzido pela Fiocruz identificou a presen�a do mesmo n�vel de anticorpos da dose-padr�o na dose fracionada at� oito anos depois da imuniza��o
FALSO
Os macacos transmitem febre amarela
Explica��o: Os macacos s�o picados pelos mosquitos infectados e se tornam v�timas da doen�a da mesma forma que os seres humanos. Outros mosquitos que n�o est�o infectados picam os macacos ou os homens, e, assim, criam-se as condi��es para espalhar a doen�a. N�o h� transmiss�o direta entre o macaco e o homem
FALSO
M�dico de Sorocaba diz que a vacina contra febre amarela paralisa o f�gado.
Explica��o: Especialistas e autoridades de sa�de apontam que h� risco de efeitos colaterais na vacina da febre amarela em um a cada 400 mil casos. Entre os efeitos est� a possibilidade de desenvolver a doen�a, j� que a vacina � o v�rus atenuado. Nesse caso, a forma grave da febre amarela pode apresentar complica��es no f�gado
FALSO
Ningu�m deve tomar vacina, segundo uma enfermeira de Minas Gerais
Explica��o: A vacina s� n�o � recomendada para crian�as de at� 9 meses de idade, mulheres amamentando crian�as com menos de seis meses, pessoas com alergia grave a ovo, pessoas que vivem com HIV e que t�m contagem de c�lulas CD4 inferior a 350, pacientes em tratamento com quimioterapia e radioterapia, portadores de doen�as autoimunes e pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores
VERDADEIRO
Algumas pessoas mesmo vacinadas podem desenvolver a doen�a.
Explica��o: A literatura aponta at� 98% de efic�cia da vacina, sendo poss�vel que algumas pessoas, consideradas rar�ssimas exce��es, desenvolvam a doen�a mesmo sendo imunizadas
VERDADEIRO
Uma pessoa com febre amarela silvestre pode ser fonte para um surto de febre amarela urbana
Explica��o: No ambiente urbano, o Aedes aegypti pode transmitir a febre amarela, situa��o erradicada no Brasil desde 1942. Por�m, se o Aedes aegypti picar uma pessoa que pegou a doen�a no ambiente silvestre, podem-se desencadear transmiss�es urbanas
VERDADEIRO
Existem casos em que somente um m�dico pode avaliar a necessidade da vacina.
Explica��o: Idosos acima de 65 anos, pessoas que terminaram tratamento de quimioterapia/radioterapia, gr�vidas e pessoas que usam corticoide precisam consultar um m�dico para avaliar os riscos da imuniza��o
VERDADEIRO
N�o � poss�vel eliminar o v�rus da febre amarela silvestre
Explica��o: Como � uma doen�a transmitida por animais, sua transmiss�o n�o � pass�vel de elimina��o, exigindo vigil�ncia e a��es de controle, como a vacina��o
VERDADEIRO
A febra amarela n�o tem um tratamento espec�fico
Explica��o: Os cuidados focam nos sintomas, com aten��o especial na reposi��o de l�quidos e das perdas sangu�neas, quando indicado. Nas formas graves, a indica��o � por uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para reduzir complica��es e risco de morte
EM ESTUDO
Quais s�o as consequ�ncias da muta��o do v�rus da febre amarela?
Explica��o: Pesquisadores da Fiocruz fizeram o sequenciamento gen�tico do v�rus e descobriram muta��es, mas ainda estudam os efeitos disso na pr�tica
EM ESTUDO
Como fica a prote��o contra a doen�a para quem recebeu a vacina fracionada ap�s oito anos?
Explica��o: Os estudos da Fiocruz indicam prote��o semelhante � dose-padr�o em at� oito anos. O que deve acontecer depois desse per�odo ainda � alvo de pesquisas

Estudos sustentam esquemas vacinais
Antes dos dois �ltimos surtos de febre amarela no Brasil, o pa�s adotava o esquema com duas doses da vacina ao longo da vida (com intervalo m�nimo de 10 anos). Depois passou a recomendar uma �nica dose e atualmente h� uma decis�o de oferecer a vacina fracionada para 15 milh�es de pessoas no Rio de Janeiro, S�o Paulo e na Bahia. No caso da fracionada, sai a dose-padr�o, que tem 0,5 ml, e entra uma quantidade cinco vezes menor, de 0,1 ml. Esse � um dos cen�rios por onde rondam parte dos boatos que circulam em velocidade m�xima pela internet, principalmente em aplicativos de mensagens pelo celular.
Tanto no caso da dose �nica quanto da dose fracionada h� estudos que comprovam a manuten��o dos anticorpos. No primeiro, estudos apontam a manuten��o das c�lulas de defesa contra a doen�a 30 anos depois da dose �nica. Por outro lado, o m�dico epidemiologista e professor em�rito da Faculdade de Medicina da Universidade de Bras�lia (UNB) Pedro Tauil destaca que ainda n�o h� um consenso sobre a efic�cia garantida para o resto da vida com uma �nica dose, que � preconizada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). J� no segundo caso, a Fiocruz desenvolveu uma pesquisa ratificando que a dose de 0,1 ml � suficiente para proteger as pessoas pelo menos nos oito primeiros anos. “As a��es depois desse per�odo ainda ser�o estudadas, mas neste momento � eficaz e � uma medida de sa�de coletiva, para frear a transmiss�o do v�rus de forma mais r�pida”, diz a m�dica infectologista e vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Virg�nia Zambelli.
A situa��o dos boatos tomou uma propor��o t�o grande que a pr�pria Fiocruz, produtora da vacina contra a doen�a, publicou em seu site uma entrevista com o pesquisador do Laborat�rio de Comunica��o e Sa�de (Laces) do Instituto de Comunica��o e Informa��o Cient�fica e Tecnol�gica em Sa�de (Icict/Fiocruz), Igor Sacramento, em que ele se mostra preocupado com o impacto das chamadas fake news na campanha de vacina��o. Ele diz que ainda n�o � poss�vel mensurar o tamanho do impacto, mas acredita existir uma rea��o popular complexa. “Ao mesmo tempo que vemos as filas aumentando, h� uma crescente desconfian�a em rela��o ao fracionamento (o termo leva as pessoas a crerem que se trata de algo menor, fragmentado, ineficiente, ruim) e � pr�pria vacina, que poderia fazer mal e at� levar � morte. Essas not�cias se espalham com muita for�a nas redes sociais online, mas tamb�m em aplicativos de troca de mensagens como o WhatsApp”, disse o pesquisador.
MACACOS Na onda dos boatos sobra at� para os macacos, que em muitas mensagens divulgadas pelas redes sociais s�o apontados como os respons�veis pela transmiss�o da febre amarela para os seres humanos. Informa��o completamente equivocada, segundo o m�dico epidemiologista e professor da UFMG, Dirceu Greco. Os primatas tamb�m s�o picados pelos mosquitos contaminados pelo v�rus e tamb�m podem desenvolver a doen�a. O especialista aponta que, inclusive, o macaco � muito importante pois serve de sentinela. “A morte de um macaco em �rea de circula��o do v�rus � um sinal para a vigil�ncia epidemiol�gica ficar atenta � possibilidade de transmiss�o para seres humanos”, afirma. Por�m, v�rias mensagens se espalharam principalmente por grupos de WhatsApp apontando a necessidade de eliminar os macacos para que eles n�o passassem a doen�a para os humanos. “Se voc� mata um macaco pode at� piorar a situa��o, diminuem as possibilidades de alimenta��o dos mosquitos”, afirma.
Falhas t�m causas m�ltiplas
Produtor da vacina contra a febre amarela, o Instituto de Tecnologia em Imunobiol�gicos da Funda��o Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) informou, por meio de nota, que tomou ci�ncia, por meio de publica��es na imprensa e em redes sociais, da hip�tese de ter havido infec��o pelo v�rus da febre amarela em indiv�duos previamente vacinados. Foi o que ocorreu, segundo dados da Secretaria de Estado da Sa�de de Minas Gerais, com 11 pacientes que tiveram a doen�a em Minas (SES-MG). O instituto esclareceu que, segundo o “Manual de Vigil�ncia Epidemiol�gica de Eventos Adversos P�s-Vacina��o”, editado pela Secretaria de Vigil�ncia em Sa�de (SVS) do Minist�rio da Sa�de, a “falha vacinal” pode ocorrer devido a fatores relacionados ao hospedeiro, �s vacinas, � utiliza��o ou administra��o destas e aos programas de imuniza��o.
No primeiro caso est�o situa��es como imunodefici�ncia, idade (imaturidade ou senesc�ncia da resposta imune); insuficiente resposta imune para um ou mais componentes antig�nicos, tipos ou sorotipos de vacinas; interfer�ncia por outros agentes infecciosos, entre outros.
Entre os fatores relacionados � vacina est�o o fato de elas n�o serem 100% eficazes; cobertura inadequada de tipos, sorotipos, gen�tipos, variantes antig�nicas ou muta��es; interfer�ncia antig�nica ou intera��es entre vacinas coadministradas; ou varia��o de lotes e falhas na qualidade do produto. Podem ainda ocorrer erros na administra��o e no armazenamento e conserva��o ou at� mesmo prazos de validade expirados.
Sem o levantamento preciso de informa��es acerca de todas essas condicionantes, o Bio-Manguinhos/Fiocruz n�o pode precisar o que levou � falha vacinal nos casos descritos, diz a nota, que a reafirma que “a vacina��o � a melhor forma de preven��o para a febre amarela e as demais doen�as infectocontagiosas para as quais existe imunizante. De acordo com a SES-MG, uma equipe multidisciplinar est� fazendo uma investiga��o cl�nica e epidemiol�gica dos casos no estado.