As ruas de Belo Horizonte se tornaram ontem palco do protagonismo da luta feminina contra a reforma trabalhista, contra a viol�ncia de g�nero, a exclus�o no mercado de trabalho, a viol�ncia dom�stica e diversos outros tipos de opress�o que as mulheres enfrentam at� hoje. Entre tantas revindica��es a sa�de ganhou destaque, com alertas sobre os impactos do aborto clandestino e a viol�ncia obst�trica vivida por gr�vidas nos consult�rios.
A bandeira pela legaliza��o do aborto estava por todas as partes – tanto em cartazes e faixas quanto em mensagens estampadas nos corpos das mulheres. “Ser mulher � sin�nimo de resist�ncia. Temos uma hist�ria marcada por opress�o e priva��o de direitos. A mulher tem direito de escolher uma gravidez, que traz outras consequ�ncias em sua vida. N�o cabe � Igreja ou ao Estado fazer essa escolha,” disse a militante Graziele Gon�alves da Silva, de 26 anos.
Em uma das mesas de debates, a Rede Feminista Nacional de Sa�de, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos tratou tanto da dificuldade das mulheres ao acesso legal do aborto quanto das consequ�ncias do procedimento clandestino. “A quest�o central abordada foi: por que o capitalismo explora o corpo das mulheres? Esse sistema explora nossos corpos, nossa sexualidade e a nossa reprodu��o”, afirmou Ermelinda de Melo, representante da Rede.
Para Celinha Gon�alves, coordenadora do Centro Nacional Africanidade e Resist�ncia Afro-Brasileira, a interrup��o da gravidez de forma ilegal ocorre independentemente da opini�o p�blica. “Mas quem passa por constrangimento ao fazer um aborto, quem passa pelo aborto malfeito, quem morre na mesa de cirurgia ao fazer um aborto hoje em dia � a mulher negra, a mulher pobre. A mulher ‘do asfalto’ vai pagar uma cl�nica particular. Essa � a grande diferen�a,” afirmou.
Mulher na pol�tica
A participa��o feminina na pol�tica brasileira e a luta pela inclus�o nos espa�os de poder tamb�m foram alguns dos temas fortes abordados. “As mulheres representam menos de 10% do Parlamento mineiro, o que significa que as pautas femininas acabam sendo decididas por homens. Foi o caso da vota��o sobre a legaliza��o do aborto, que reuniu uma comiss�o em que havia apenas uma mulher. Isso mostra a exclus�o das mulheres no campo pol�tico”, argumentou a professora Marlise Matos, do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da UFMG.
Ela coordenou a roda de conversa “Mulheres na Pol�tica: reinventar a democracia”. No ano passado, 18 homens aprovaram, em comiss�o especial, a chamada PEC “Cavalo de Troia” – que determina que “a vida come�a desde a concep��o” e pode barrar a descriminaliza��o do aborto, inclusive, nos casos em j� a pr�tica j� � permitida: gravidez em consequ�ncia de estupro, anencefalia do feto ou gravidez com risco de morte para a m�e. (LR e Silvia Pires*)
*Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia