Um local que deveria servir para contempla��o de uma das vistas mais bonitas de Belo Horizonte virou s�mbolo do abandono, marcado pela depreda��o do patrim�nio p�blico, descarte de lixo, falta de manuten��o e viol�ncia. A den�ncia � dos moradores do Bairro Mangabeiras, uma das �reas mais nobres da cidade, na Regi�o Centro-Sul de BH, que relatam uma s�rie de problemas no fim da Rua Ministro Vilas Boas, na �rea conhecida como Mirante da Caixa D’�gua ou Mirante da Copasa. Os problemas, segundo a popula��o local, come�am com uso de drogas, sexo dentro de ve�culos, descarte de lixo em qualquer lugar, invas�o da caixa d’�gua de responsabilidade da Copasa, m�sica alta nos equipamentos de som dos ve�culos e chegam at� a den�ncia mais grave: v�rios assaltos s�o cometidos no local, conforme os vizinhos.

A Associa��o de Moradores do Bairro Mangabeiras aponta como a melhor op��o para resolver o problema uma interven��o urbana que transforme o local p�blico em um mirante oficial, com controle de acesso das pessoas e hor�rio de funcionamento. A inten��o � ter um mirante nos mesmos moldes do Mirante das Mangabeiras, que j� funciona ao lado do Pal�cio das Mangabeiras. Segundo o presidente da associa��o, Rodrigo Bedran, em 2016 o assunto chegou a ser debatido e esteve em vias de ser adotado, mas a mudan�a na gest�o municipal teria esfriado o assunto. A Pol�cia Militar garante que vai at� 20 vezes por dia ao local e que foca na preven��o de crimes no mirante, mas a corpora��o tamb�m admite que tem dificuldades de agir de forma repressiva, pois muitas vezes os criminosos que conseguem ver a aproxima��o das viaturas dispensam materiais il�citos antes de serem abordados.

Esse � apenas um dos problemas, conforme Rodrigo. A grande concentra��o de pessoas praticamente todos os dias, que chegam em carros e motos, � um atrativo para bandidos que cometem roubos na regi�o. Em 4 de mar�o, um domingo, a Pol�cia Militar foi chamada depois que tr�s homens sa�ram do matagal e roubaram oito celulares e um carro de sete v�timas que estavam no mirante. Os bandidos estavam com duas armas, segundo relato das pessoas roubadas, e fugiram no ve�culo tomado de assalto. O rastreamento de um dos telefones roubados permitiu � PM deslocar uma unidade at� o Bairro Maria Goretti, Nordeste de BH, onde os tr�s foram presos, os celulares e o carro recuperados.

SURPREENDIDO O jovem Walef Stenio, de 20 anos, que � conferente em uma distribuidora de Contagem, na Grande BH, tinha ido pela primeira vez ao mirante nesse dia. Morador de Contagem, ele tinha ouvido falar da beleza da vista por amigos e resolveu ir com um colega de moto. “Tinha outras pessoas que a gente n�o conhecia. Cheguei, desci da moto e tirei uma foto da vista. Logo que terminei, tr�s caras sa�ram do mato j� gritando que a gente tinha perdido. Eles levaram carteiras e celulares, mas quando percebi que era assalto joguei a chave da moto no mato”, afirma o jovem.
Apesar de essa atitude ter garantido que a motocicleta n�o fosse levada, ele conta que os bandidos perceberam a tentativa de esconder a chave e agrediram Walef e o amigo. “N�s ficamos muito nervosos porque eles deram v�rios chutes na gente. N�s fomos os �nicos que apanhamos e eles sa�ram levando um carro de outra pessoa. Fui l� apenas para ver a vista, que realmente � muito bonita, e acabou acontecendo isso”, afirma.
Segundo um morador da regi�o, que prefere n�o se identificar por quest�es de seguran�a, muitas pessoas se aproveitam da possibilidade de entrar no meio do mato e sair na Vila Acaba Mundo para surpreender quem est� no mirante para cometer assaltos. “Muitas vezes, a pol�cia e Guarda Municipal aparecem e d�o um suporte, mas quando terminam de revistar as pessoas v�o embora e chegam at� a encontrar outros que j� est�o subindo de novo. O movimento � o tempo todo”, diz o morador.
Essas raz�es motivam, desde 2016, segundo Rodrigo Bedran, discuss�es com a Prefeitura de BH, Copasa, Pol�cia Militar e Minist�rio P�blico para que a �rea se torne um mirante com controle de acesso e hor�rio de funcionamento. “A Copasa inclusive agradeceu, pois seria uma solu��o para a empresa, j� que ela n�o consegue manter o port�o fechado por conta dos arrombamentos”, diz Rodrigo. Mas desde o ano passado o assunto n�o vingou mais, ap�s a troca de comando na PBH. Recentemente, Rodrigo diz que recebeu um retorno da administra��o municipal de que tanto a BHTrans quanto a Secretaria Municipal de Pol�ticas Urbanas tinham reprovado a ideia, por�m, sem informar os motivos. “Se realmente nada for feito, a associa��o pretende acionar o Judici�rio para transformar o local em um mirante. A prefeitura precisa intervir porque esses problemas acontecem todos os dias”, afirma.
Trilha f�cil para bandidos
O tenente Jerferson Costa, que � o respons�vel pelo policiamento no Bairro Mangabeiras, diz que no momento a principal demanda de seguran�a da PM relacionada ao bairro � o Mirante da Caixa D’�gua. Segundo ele, o m�ximo poss�vel de recursos da corpora��o est� empenhado no local, o que significa que 10 equipes passam duas vezes por dia cada uma no mirante, totalizando 20 visitas a cada 24 horas. Por�m, ele admite que as condi��es do local facilitam a vida dos bandidos. Como o mirante tem um �nico acesso de carro, quem est� em cima consegue ver todo mundo que sobe, inclusive as viaturas mesmo que apagadas. Com essa possibilidade, muitos bandidos dispensam e escondem materiais de crimes, como armas e drogas, antes de serem abordados. Al�m disso, h� trilhas por meio da mata que levam � Vila Acaba Mundo.
“Dentro do que � poss�vel o servi�o de seguran�a tem sido feito. A gente fica com a dificuldade de confirma��o dos delinquentes em virtudes dessas vantagens. O trabalho preventivo � garantido e muitas vezes evitamos os crimes ao abordar pessoas que est�o na imin�ncia de cometer algum ato, mas encontramos algumas dificuldades na repress�o”, afirma. Ainda segundo o militar, a demanda de seguran�a da PM independe do fechamento do local para se transformar ou n�o em mirante, mas ele acredita que o trabalho seria mais facilitado caso haja uma interven��o que crie controle de acessos e hor�rio de funcionamento. “Existe uma demanda da comunidade pela cria��o de um mirante. Nesse caso, o servi�o de preven��o seria facilitado”, afirma.
A Copasa informou que desconhece qualquer projeto de melhoria para o mirante, j� que n�o � a respons�vel pelo local. A caixa d’�gua tem capacidade para 76 mil litros de �gua e abastece a popula��o do bairro. “Quanto � seguran�a do reservat�rio, recentemente foram reformadas todas as cercas laterais. O port�o de acesso � trancado por correntes e cadeados, que, no entanto, s�o violados frequentemente pela a��o de v�ndalos”, informou, em nota, a empresa. A BHTrans se manifestou via assessoria de imprensa dizendo que recebeu um processo, encaminhado por moradores � Prefeitura de BH, que previa o fechamento da Rua Ministro Vilas Boas. “A negativa da empresa se deve a esse fechamento”, informou a BHTrans.
A reportagem do EM procurou a Secretaria Municipal de Pol�ticas Urbanas na �ltima quarta-feira, mas a pasta n�o retornou os contatos.
PERSONAGEM DA NOT�CIA
Falta de seguran�a
A reportagem esteve no Mirante da Caixa D'�gua tanto de dia quanto de noite e encontrou o supervisor Davi Granato, de 22 anos, que j� foi assaltado duas vezes no local. A �ltima delas no fim do ano passado. "Eu estava com meu irm�o, a namorada dele e um primo. Subiu uma moto e um carro e desceram duas pessoas, sendo uma mulher armada muito nervosa. Eles levaram a moto do meu irm�o, al�m dos celulares", afirma Davi, que reclama da falta de seguran�a. "A gente vem pra c� com o objetivo de pensar na vida e refletir, por ser um lugar muito bonito principalmente no in�cio da noite por conta das luzes, e encontra essas condi��es."
