
Uma vacina com proposta revolucion�ria de combate ao Aedes aegypti, desenvolvida nos laborat�rios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), est� amea�ada por falta de financiamento, apesar de seu potencial para enfrentar as v�rias viroses transmitidas pelo mosquito, com aplica��o no Brasil e em v�rias partes do planeta. O imunizante � o �nico no mundo por meio do qual o ser humano, ao ser imunizado, se torna “t�xico” ao inseto, matando ou prejudicando a reprodu��o do transmissor de males como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Com verbas suficientes para continuidade dos estudos, em um prazo de cinco anos o pa�s poderia fazer uso da nova droga e incorpor�-la ao calend�rio nacional de vacina��o via Sistema �nico de Sa�de (SUS). “Temos a consci�ncia de desenvolver um produto que seja barato e tenha apelo para o SUS para combater epidemias. E certamente ele n�o ficar� restrito ao pa�s”, afirma o professor Rodolfo Giunchetti, coordenador da pesquisa que gerou tese de doutorado e cujo resultado foi patenteado.
Enquanto a pesquisa corre o risco de definhar por falta de dinheiro, as enfermidades que ela ajudaria a combater s�o preocupa��o constante para a popula��o e o poder p�blico. Em rela��o � febre amarela, cujo v�rus pode se urbanizar e passar a ser transmitido pelo Aedes aegypti, o estado j� confirmou, apenas este ano, 486 casos, com 155 mortes comprovadas. A dengue, outra virose disseminada pelo inseto, tem 14.781 registros suspeitos nos quatro primeiros meses de 2018, com tr�s casos fatais confirmados e nove sob investiga��o. A febre chikungunya tem 4.310 notifica��es – m�dia de 38,1 por dia –, conforme boletim divulgado no in�cio da semana pela Secretaria de Estado de Sa�de, enquanto a zika tem 170 diagn�sticos prov�veis.

“Se conseguirmos entregar algo que cause dist�rbio naquele inseto que tenta se alimentar de n�s, conseguiremos comprometer o desenvolvimento do mosquito”, diz. O trabalho � parte da tese de doutorado da pesquisadora Marina Luiza Rodrigues Alves. Ela desenvolveu a formula��o e a usou como prova de conceito. Observou que um ter�o dos insetos que picava animais imunizados morria imediatamente. Ao acompanhar o ciclo completo do inseto, a pesquisadora constatou redu��o significativa no n�mero de ovos e baixa viabilidade das pupas (forma entre a fase larval e a adulta), que se desenvolveram mal ou morreram. Percebeu-se redu��o de cerca de 60% no ciclo do Aedes.
"Temos biot�rio de macacos, hospital na UFMG e condi��es de fazer todos os estudos, mas falta o principal: dinheiro"
Professor Rodolfo Giunchetti, coordenador da pesquisa
Para o estudo inicial da prova de conceito foi usada uma vacina rudimentar, que serviu para verificar se o experimento funcionaria. Depois dos primeiros resultados, os pesquisadores partiram para a segunda etapa: achar uma formula��o que permita a produ��o em larga escala. “Encontramos quatro formula��es que podem ser produzidas em milh�es de doses pela ind�stria”, revela Rodolfo Giunchetti.
O alvo s�o as f�meas do Aedes, que picam em busca do sangue, necess�rio para o amadurecimento do ov�rio e a produ��o de ovos. Ela digere o sangue, p�e os ovos e volta para se alimentar. O ensaio pr�-cl�nico da vacina foi feito em camundongos, que, depois de receber a dose, produziram anticorpos capazes de induzir altera��es no inseto, resultando em desequil�brio fisiol�gico de alto impacto. Os pr�ximos passos s�o testes em macacos e em humanos. Para isso, a pesquisa depende de financiamento.
Pesquisador � espera de financiadores
O estudo desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que resultou em vacina que mata o mosquito Aedes aegypti � parcialmente financiado por parceria firmada entre Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico (CNPq), Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior (Capes) e Minist�rio da Sa�de. Na UFMG, conta com a participa��o de professores dos departamentos de Morfologia e de Parasitologia. Tamb�m participam pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto, do Centro de Pesquisas Ren� Rachou/Funda��o Oswaldo Cruz (CpqRR-Fiocruz) e do Instituto Butantan.
“Temos R$ 1,3 milh�o, o que n�o cobre o restante das etapas. O estudo para os testes humanos � caro. Temos biot�rio de macacos, hospital na UFMG e condi��es de fazer todos os estudos, mas falta o principal: dinheiro”, ressalta o professor Rodolfo Giunchetti, coordenador da pesquisa que gerou a subst�ncia patenteada de combate ao Aedes. As formula��es para produ��o em larga escala, por exemplo, s� foram obtidas gra�as a recursos de outros projetos.
Com dinheiro em caixa, a vacina poderia ter registro submetido � Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) em cinco anos. “A ind�stria, historicamente, n�o tem h�bito de financiar projetos da �rea de sa�de. Para termos um cen�rio parecido com o dos Estados Unidos, � preciso amadurecimento do empresariado. Esperamos que o setor privado se interesse e financie as etapas finais de desenvolvimento da vacina.”
APOSTA A parceria com o setor privado � expectativa da UFMG para equacionar um dos desafios da universidade, conforme mostrou o Estado de Minas na semana passada: transformar os mais de 800 dep�sitos de patentes da institui��o em produtos de mercado. Para isso, a institui��o pretende lan�ar m�o da flexibilidade criada pelo Marco Legal da Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o (Lei 13.243/16) para fazer parcerias com empresas, arrecadar royalties e, assim, se livrar da atual depend�ncia financeira das ag�ncias p�blicas, respons�veis por bancar a pesquisa no Brasil.
Para isso, a maior institui��o de ensino superior de Minas aprovou em dezembro do ano passado sua Pol�tica de Inova��o, com as diretrizes gerais para atender a v�rias demandas da nova legisla��o. Ela passou pelo crivo do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extens�o e, em seguida, do Conselho Universit�rio.
R$ 68 mi para hospitais
O Minist�rio da Educa��o anunciou ontem cerca de R$ 68 milh�es para hospitais universit�rios federais, como o Hospital das Cl�nicas da UFMG. A verba vem de programa gerido pela Empresa Brasileira de Servi�os Hospitalares (Ebserh), com libera��o por meio de portarias do Minist�rio da Sa�de. Do total, R$ 50,8 milh�es v�o para o custeio de materiais de uso di�rio nas unidades e R$ 17,8 milh�es para obras e equipamentos.