
Duplamente vulner�veis: se a juventude j� � uma �poca da vida considerada mais suscet�vel a mortes violentas em pa�ses como o Brasil, jovens negros est�o ainda mais expostos ao risco. � o que mostra relat�rio feito pela primeira vez em Belo Horizonte, indicando que 70% das pessoas assassinadas na capital na faixa dos 15 aos 29 anos s�o negras. As regi�es de maior incid�ncia de crimes do tipo s�o a Granja de Freitas e o Bairro Taquaril, no Leste da capital, �reas da Regi�o do Barreiro e o Aglomerado da Serra, na Centro-Sul. “S�o mortes evit�veis, um potencial de vida desperdi�ado pela neglig�ncia do poder p�blico e indiferen�a da sociedade”, ressaltou, ontem, a presidente da Comiss�o Especial de Estudo do Genoc�dio da Juventude Negra e Pobre da C�mara Municipal, vereadora �urea Carolina (Psol), ao citar dados do trabalho que teve a participa��o do professor doutor Rodrigo Ednilson de Jesus, da Faculdade de Educa��o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na tarde de ontem, o trabalho foi aprovado pelos integrantes da Comiss�o Especial de Estudo do Genoc�dio da Juventude Negra e Pobre, que tem o vereador Arnaldo Godoy como relator – no ano passado, �urea Carolina estava nessa fun��o. Agora ser� encaminhada uma c�pia do trabalho � Prefeitura de BH. “Os territ�rios com mais vulnerabilidade juvenil tendem a ter maior taxa de homic�dios na faixa et�ria de 15 a 29 anos. E s�o exatamente aqueles com maior popula��o negra. O �ndice de mortes de jovens negros � tr�s vezes maior do que entre os brancos”, afirmou a vereadora. Portanto, “pertencimento racial, armas de fogo e territ�rio de vulnerabilidade” s�o os componentes dessa situa��o.
O professor Rodrigo Ednilson ressalta que fazer o recorte racial dos dados possibilita avaliar se as mortes est�o ligadas a essa quest�o. As circunst�ncias dos assassinatos n�o est�o contempladas no levantamento, que revela ainda que, em 2010, em BH, um jovem negro tinha tr�s vezes mais chances de ser morto por causas externas que um jovem branco. “� preciso que as pol�ticas p�blicas observem essa dimens�o. Ela revela que, � medida que o �ndice de homic�dios de jovens brancos se reduz, aumenta o de jovens negros”, destaca. “Quando se fala em genoc�dio, muito se pensa na intencionalidade, o mesmo ocorre quando se pensa em racismo. Essa distribui��o existe e, mesmo que n�o seja intencional, distribui privil�gios, mostrando que a segrega��o � estrutural e n�o subjetiva ou intencional.”
OPORTUNIDADE No m�s em que s�o lembrados os 130 anos Aboli��o da escravatura – o ponto alto foi dia 13 –, �urea Carolina diz que � mais do que oportuno falar da viol�ncia homicida contra os negros e pobres, que inclui os brancos, da estrutura racial e da falta de oportunidades. “Os negros est�o no territ�rio da vulnerabilidade, e s�o pobres porque s�o negros. N�o sabemos quem s�o os agentes dessas mortes, mas podemos dizer que, se tem rela��o com o tr�fico de drogas, esta decorre de uma pol�tica de repress�o, que tem sua matriz nas escolhas.”
A falta de bases comparativas e dados mais aprofundados e completos, ao longo dos anos, impediu uma compreens�o maior da situa��o em Belo Horizonte e a possibilidade se fazerem cruzamentos de informa��es. “Isso nunca foi prioridade, da� a falta de planos municipais espec�ficos.” Dizendo-se otimista e esperan�osa de que o quadro mude, a parlamentar afirma que se trata de uma luta de toda a sociedade. “� um conjunto, que envolve sa�de, assist�ncia social, moradia, saneamento b�sico, oportunidade de emprego, trabalho e renda, enfim, de oportunidades e perspectivas para os jovens negros e pobres. Precisamos de pol�ticas p�blicas e diretrizes sociais”.
Os dados foram apresentados na tarde de ontem, na C�mara, e tamb�m no Semin�rio Juventude Negra Presente, que ser� realizado na sexta-feira, na sede do Legislativo municipal, com a participa��o de vereadores, gestores p�blicos, pesquisadores e outros integrantes da sociedade civil. Na ocasi�o, ser�o discutidas pol�ticas e experi�ncias em defesa da vida de jovens em BH.
Execu��o na Serra ilustra viol�ncia


Na ocasi�o, uma troca de tiros foi forjada e armas e fardas colocadas ao lado dos corpos. Houve revolta na Serra, onde moradores atearam fogo a �nibus, exigindo justi�a. Testemunhas foram essenciais para virar o jogo e garantir a condena��o dos militares a 25 anos de pris�o. “Acabaram com a nossa fam�lia. N�o fosse o fato de meu tio ser policial e de outro militar ter visto o que ocorreu, seriam mais dois nas estat�sticas da favela. � triste pensar que quem deveria proteger a gente, chega e mata”, relata o rapaz.

A fam�lia de Jefferson usa a dor para tentar mudar a realidade de milhares de jovens negros da capital. O rosto do garoto estampa o material de divulga��o do relat�rio da Comiss�o Especial de Estudo do Genoc�dio da Juventude Negra e Pobre da C�mara Municipal.
EM MINAS A hist�ria em BH est� em sintonia com as estat�sticas sobre o �ndice de mortes violentas de adolescentes, em disparada nos �ltimos anos no pa�s. Conforme mostrou na segunda-feira o Estado de Minas, o quadro de desajuste atinge quase tr�s quartos das cidades mineiras com mais de 100 mil habitantes, segundo dados do Fundo das Na��es Unidas para a Inf�ncia (Unicef). Em Minas, Betim, na Grande BH, � onde mais se matam integrantes dessa parcela da popula��o. S�o 7,95 para cada grupo de 1 mil habitantes – mais que o dobro da taxa de BH. O levantamento mostra ainda que o problema deixou de ser exclusivo da capital e seu entorno para avan�ar pelo estado. Entre os cinco munic�pios com a maior taxa de v�timas de homic�dio entre 12 e 18 anos, tr�s est�o no interior. E estima-se que, se nada for feito, 43 mil adolescentes sejam assassinados nas maiores cidades do Brasil at� 2021.
� o que mostra o �ndice de Homic�dios na Adolesc�ncia 2014 (IHA), do Unicef, calculado para cada grupo de 1 mil pessoas entre 12 e 18 anos. Em Minas, Coronel Fabriciano, no Vale do A�o, aparece em segundo lugar no IHA, com 7,14 assassinatos por 1 mil habitantes, seguido por Governador Valadares (6,54), no Vale do Rio Doce; Ribeir�o das Neves (6,25), na Grande BH; e Muria� (5,81), na Zona da Mata. Em BH, o �ndice � de 3,10 – o que sugere, segundo o Unicef, a exist�ncia de munic�pios em Minas com �ndices muito mais altos, puxando a m�dia para cima. Os dados s�o alarmantes, pois o resultado aceit�vel dessa taxa numa sociedade pouco violenta seria um valor abaixo de 1. A pesquisa, com dados referentes ao ano de 2014 mas conclu�da recentemente, analisa os homic�dios nos 300 munic�pios brasileiros com mais de 100 mil habitantes – 31 deles em Minas Gerais.
A an�lise geral do IHA revela que, para cada 1 mil adolescentes no pa�s, 3,65 correm o risco de ser assassinados antes de completar o 19 anos. Minas � o 15º estado com pior IHA: aqui, 3,2 adolescentes s�o assassinados por grupo de 1 mil. O primeiro nesse ranking � o Cear� (8,71). O levantamento resulta de parceria entre o Unicef, o Minist�rio dos Direitos Humanos, o Observat�rio de Favelas e o Laborat�rio de An�lise da Viol�ncia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj).
Das 31 cidades mineiras analisadas pelo relat�rio, 23 t�m �ndice superior a 1. Betim, l�der no ranking mineiro, tem posi��o inc�moda tamb�m quando comparada a outras cidades do pa�s: � a 22ª na lista nacional e a s�tima da Regi�o Sudeste, atr�s de Serra (ES), com 12,71; Cabo Frio (RJ), com 10,35; Vila Velha (ES), com 10,28; e, tamb�m do interior do Rio de Janeiro, Itagua� (9,02), S�o Jo�o de Meriti (8,14) e Maca� (8,09).