
“� fila para todo lado, n�o sabemos qual � o destino da gasolina e nem se vai dar para abastecer. Muita gente acaba ficando sem, o que torna essa situa��o muito complicada.” O desabafo do pesquisador Wilton Tadeu Cardoso, de 56 anos, resume a situa��o enfrentada por milhares de pessoas em Belo Horizonte nos �ltimos dois dias, desde que a Pol�cia Militar come�ou a requisitar e escoltar caminh�es de combust�vel para retomar o abastecimento de postos na capital e regi�o metropolitana. A a��o foi a senha para que rapidamente a cidade fosse tomada por filas em todas as regi�es, quadro que se repete em v�rios pontos da Grande BH. Seja em volta dos postos com chegada de combust�vel anunciada ou at� em locais que n�o receberam nenhuma gota, motoristas enfrentam longos per�odos de espera.
Se os decretos de ponto facultativo no estado e na prefeitura – al�m do cancelamento das aulas nas redes p�blica estadual e municipal e em v�rias escolas particulares – diminu�ram o movimento nas ruas de Belo Horizonte, as filas no entorno dos postos criaram grandes pontos de concentra��o e espalharam a incerteza pela cidade. Ontem, a PM informou que ampliou escoltas al�m dos 50 estabelecimentos que receberam combust�vel inicialmente, mas os nomes e n�meros n�o ser�o mais divulgados, em uma aposta na normaliza��o dos servi�os.
No caso do pesquisador Wilton Tadeu, a falta de gasolina custou tr�s dias de trabalho. Com o an�ncio da chegada de gasolina a um posto da Avenida Cristiano Machado, no Bairro da Gra�a, Nordeste de BH, ele decidiu levar sua moto ao local. J� o carro vai continuar parado. “Eu s� trabalho viajando e colocar R$ 100 n�o adianta muita coisa, j� que n�o conseguiria ir muito longe”, disse. “Espero tirar da moto para o carro e depois conseguir chegar at� o posto para completar quando for poss�vel”, planejava.


A situa��o que Wilton observou no caminho foi de filas espalhadas pelo Bairro da Gra�a. E bastava ter combust�vel suficiente para rodar um pouco por outras ruas da capital para encontrar aglomera��es de carros em v�rias regi�es. A situa��o chamou a aten��o da BHTrans para quatro endere�os priorit�rios, em torno de quatro postos: esquina das avenidas do Contorno e Barbacena (Barro Preto, Regi�o Centro-Sul), das ruas da Bahia e Tupinamb�s (Hipercentro), e dois locais na Cristiano Machado, um no Dona Clara (Regi�o da Pampulha) e outro no Floramar (Norte de BH).
No posto do Dona Clara, pr�ximo � esquina da Cristiano Machado com a Avenida Sebasti�o de Brito, a fila entrou para as vias internas do bairro e deixou motoristas esperando por horas. Teve caso at� de condutor que ficou sem gasolina no meio da fila e teve que terminar o percurso empurrando o ve�culo. Foi o que ocorreu com o servidor p�blico Victor Nascimento de Paula Ramos, de 40 anos, que j� estava na rua havia mais de 15 horas quando o combust�vel zerou.
Ele j� havia tentado combust�vel em outro posto, sem sucesso, e foi direto tentar a op��o da Cristiano Machado, no Dona Clara. “� uma situa��o de apreens�o e incerteza, porque os boatos circulam muito r�pido, e a gente n�o sabe o que � verdade. Se as informa��es fossem mais certas, pelo menos amenizaria nosso sofrimento. S�o essas situa��es que geram rea��es em cadeia na popula��o”, disse. O motorista Edmundo Sena encarou quase quatro horas de fila para conseguir abastecer no mesmo posto. “Consegui 30 litros e tenho que fazer malabarismo para atender � demanda de trabalho, j� que sou condutor de aplicativo, e tamb�m da fam�lia”, afirma.

Segundo o superintendente de Opera��es da BHTrans, Fernando Pessoa, apesar das filas generalizadas, na maioria dos casos os consumidores conseguiram se organizar em rela��o ao fluxo de tr�nsito, principalmente para evitar fechamentos de cruzamentos e de garagens. “Chegamos a atuar em um caso de obstru��o do transporte coletivo nas imedia��es da Esta��o S�o Gabriel do Move, que foi o mais significativo. A orienta��o para as pessoas � que elas evitem de fazer fila onde n�o houver previs�o de chegar combust�vel”, afirmou.
Por�m, essa informa��o n�o ser� mais divulgada da forma como ocorreu na segunda-feira. De acordo com o major Fl�vio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da Pol�cia Militar, n�o haver� mais divulga��o de nomes de postos que v�o receber combust�vel com escoltas. Mas, segundo ele, a quantidade de pontos de venda abastecidos deve aumentar. “N�s fizemos uma divulga��o pr�via, at� para evitar que outros postos fossem buscados pelas pessoas”, afirmou o militar. Ele acredita que, de agora em diante, as rela��es normais de consumo tendem a prevalecer.
Em nota, o Sindicato do Com�rcio Varejista de Derivados de Petr�leo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) informou que os postos foram escolhidos por quest�es estrat�gicas de localiza��o, para que fosse atendido o maior n�mero poss�vel de pessoas, e que a decis�o coube ao gabinete gestor da crise criado no �mbito do governo de Minas. “N�o � responsabilidade do Minaspetro elaborar essa listagem”, informou a entidade. O valor m�ximo de R$ 100 por ve�culo foi definido tamb�m levando em considera��o uma quantidade maior de motoristas a serem atendidos.
Um jeitinho para o gal�o
Apesar de decis�o proibindo a venda de etanol, diesel ou gasolina em gal�es, tomada pelo gabinete montado pelo governo de Minas para gerir a crise dos combust�veis, equipes do EM flagraram esse com�rcio acontecendo normalmente em postos como o da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Dona Clara, ontem pela manh�. Quando a venda foi anunciada, 100 senhas foram distribu�das, mas uma fila bem maior de pessoas com expectativa de conseguir qualquer quantidade se formou atr�s dos que foram contemplados com os n�meros. Segundo a Pol�cia Militar, “com a compreens�o da PMMG de contemplar pessoas que j� estavam nas filas, os donos de postos e frentistas distribu�ram senhas e as pessoas que estavam com gal�o foram atendidas, mas desta ter�a-feira (ontem) em diante, e ap�s novas remessas de combust�vel, os gal�es n�o poder�o ser usados, por quest�o de seguran�a e para evitar tumulto nos postos”, informou a PM, lembrando que a estocagem de combust�vel � crime.
