
Congonhas – No prazo de nove meses desde que a Companhia Sider�rgica Nacional (CSN) informou que treinaria formas de evacua��o com as 4,8 mil pessoas que vivem em zonas amea�adas em caso de rompimento da barragem Casa de Pedra, a empresa teoricamente j� exportou 21,5 milh�es toneladas de min�rio de ferro. A quantia corresponde a 72% dos 30 milh�es que a mina situada em Congonhas produzir� neste ano, segundo a pr�pria empresa. Se todo esse min�rio fosse colocado em vag�es de trem com 15 metros de comprimento e 25 toneladas de capacidade, em linha reta, formaria uma fileira de 12.900 quil�metros, capaz de se estender de Congonhas at� Juneau, a capital do Alasca, no extremo da Am�rica do Norte. Os primeiros treinamentos foram acordados com a Prefeitura de Congonhas para o dia 29, mas, faltando duas semanas, nada ainda foi mobilizado e nem sequer material alertando para a popula��o sobre um treino de evacua��o chegou a circular na comunidade.
Pior do que isso, o �ltimo exerc�cio realizado pela empresa, em 16 de junho, foi o segundo acionamento de suas cinco sirenes, que na avalia��o da prefeitura, ainda n�o conseguiram desempenho suficiente para alertar todas as pessoas vulner�veis nas zonas de autossalvamento (onde cada um deve se salvar sozinho ou morrer) que um rompimento ocorreu. No primeiro teste, o equipamento n�o atingiu um volume satisfat�rio. “As sirenes ainda n�o tiveram um desempenho suficiente em toda a �rea necess�ria. Desta �ltima vez, foi usada tamb�m uma sirene m�vel, num carro. Vamos sugerir que se amplie esse m�todo de acionamento, usando tamb�m motocicletas para acessar �reas mais afastadas dos bairros”, disse o secret�rio de Meio Ambiente e representante da Coordenadoria Municipal de Prote��o e Defesa Civil de Congonhas (Compdec), Neylor Aar�o.
O soar da sirene que pode salvar as vidas de 4,8 mil pessoas que vivem praticamente debaixo da Barragem de Casa de Pedra atualmente � um ru�do que traz medo e confus�o. “Ouvimos o som do teste, mas na mesma hora ficamos apavorados, sem saber o que fazer. Ningu�m nos disse nada, se ter�amos de ficar dentro de casa, se � para correr. Se tivermos de correr, para onde vamos? Fiquei imaginando essa sirene tocando numa necessidade e a gente aqui, perdida”, questionou a aposentada Luiza Severina Vale, de 79 anos, moradora do bairro Residencial Gualter Monteiro, que tem moradias a apenas 250 metros do maci�o da barragem. O empreendimento preocupa por j� ter apresentado �ndices de estabilidade perigosamente baixos em 2013 e no ano passado, epis�dios que geraram compromissos da empresa em realizar obras de refor�o das estruturas, em acordos mediados pelo Minist�rio P�blico e �rg�os ambientais do poder p�blico. A Prefeitura de Congonhas avalia que as sirenes precisam ainda de mais intensidade e alcance, sugerindo tamb�m a implementa��o de aparelhos m�veis.

D�VIDAS
A falta de a��es mais sistem�ticas junto � popula��o faz com que in�meras d�vidas pairem sobre a efetividade do plano de evacua��o. As sirenes que podem dar o alarme acabaram distribu�das em �reas pouco povoadas, segundo lideran�as comunit�rias. Apenas uma estrutura fica dentro de uma das comunidades, no bairro Lucas Monteiro, e serviria para alertar tamb�m moradores do mais exposto dos bairros, o Residencial Gualter Monteiro. Foi justamente esse equipamento que falhou no primeiro teste p�blico, em 26 de novembro. “Muito question�vel essa instala��o de sirenes em parques industriais e tamb�m em �reas de pastos, no meio do mato. A falta de clareza sobre o plano traz essa desconfian�a. At� agora, n�o ocorreu nenhum simulado e as informa��es s�o divulgadas de forma pouco eficiente, com carros de som e nas redes sociais”, critica o diretor da Uni�o das Associa��es Comunit�rias de Congonhas (Unaccon), Sandoval de Souza.
Quanto � falta de informa��es, o secret�rio informou que dentro de 10 ou 15 dias ser� divulgado o Plano Municipal de Seguran�a de Barragens. “Muito se fala sobre Casa de Pedra, mas temos outras 26 estruturas que precisam de um plano de resposta em caso de emerg�ncia e isso precisa ser integrado. Em caso de emerg�ncia, as a��es devem ser �nicas. Esse plano vai orientar o planejamento dos empreendimentos”, afirma o representante da Compdec.

“A gente sabe que essa barragem j� teve problemas antes e n�o confia que n�o v� voltar a ter. N�o d� para confiar 100% porque � a nossa vida e nossa seguran�a que est�o em jogo”, disse o motorista Gl�ucio S�rgio Mol Gon�alves, de 36, morador do bairro Lucas Monteiro, que fica pr�ximo � sirene. “A gente s� quer viver em paz aqui, mas ficamos nessa agonia, sem saber se um dia vai descer essa lama toda e se algu�m vai nos acudir, tirar a gente de casa e levar para outro lugar”, pondera a aposentada Efig�nia Marques, de 84, que mora no Residencial Gualter Monteiro.
A CSN foi procurada pelo Estado de Minas por tr�s oportunidades, nos �ltimos 30 dias, mas at� o fechamento desta reportagem a empresa n�o respondeu aos questionamentos feitos sobre os planos de seguran�a que envolvem a opera��o de sua barragem e a seguran�a das pessoas amea�adas por essa atividade.
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