
Elas pareciam estar, se n�o erradicadas, bem controladas. Nomes como sarampo, rub�ola, difteria e poliomielite j� n�o faziam mais parte da rotina dos brasileiros. Mas a boa not�cia virou do avesso e eles foram esquecidos no pior dos sentidos. Pacientes, certos da aus�ncia do perigo, sumiram das salas de vacina��o. Em todas essas doen�as, as taxas de imuniza��o est�o bem abaixo do desejado – 95% pelo menos. O problema criou uma gera��o de pessoas suscet�veis a v�rus e bact�rias que, encontrando a porta aberta e terreno f�rtil, voltam a dar as caras no pa�s. Em Minas Gerais, mais da metade dos munic�pios t�m risco muito alto ou alto para essas enfermidades. Entre os exemplos est�o as cidades da Regional de Sa�de Belo Horizonte, onde o combate � poliomielite, eternizado com o personagem Z� Gotinha em todo o Brasil num passado recente, est� perdendo a for�a. A doen�a, cujo �ltimo caso foi registrado no pa�s h� quase 30 anos, tem hoje na Regi�o Metropolitana de BH e mais cinco munic�pios sua grande porta de entrada em Minas Gerais, pois pouco mais de um ter�o das crian�as menores de 1 ano est�o vacinadas.
A SES est� refazendo a classifica��o de risco para reemerg�ncia de doen�as que podem ser prevenidas pela vacina��o. Dos 853 munic�pios mineiros, 56% est�o na corda bamba. S�o considerados de risco muito alto 29 deles; outros 448, alto; e o restante, m�dio, baixo e muito baixo. Uma das regi�es que mais preocupa o estado � a Regional de Sa�de Belo Horizonte, classifica��o da SES que engloba 39 cidades da Grande BH e outras cinco da Regi�o Central. Nela, a cobertura vacinal acumulada de 1997 a 2018 � de apenas 36,22%. A estimativa � de 22.391 crian�as n�o vacinadas na Grande BH. “�s vezes, os pais n�o t�m condi��o de levar a crian�a para vacinar, pois os postos de sa�de funcionam em hor�rio comercial. Outros, s�o negligentes. E h� tamb�m quem n�o quer se vacinar porque n�o acredita nessa prote��o e a� temos de lidar ainda com as fake news, que ajudam a piorar esse cen�rio”, diz Eva.
O Brasil tem certificado de erradica��o da poliomielite. A doen�a n�o � registrada no pa�s desde 1990. As vacinas s�o aplicadas em tr�s doses, em crian�as de 2, 4 e 6 meses de vida. Aos 15 meses e 4 anos, h� o refor�o, via oral. De acordo com a SES, em Minas, no acumulado de 1997 a 2018, pouco mais da metade das crian�as menores de 1 ano tomaram as tr�s doses (65,66%). A estimativa � de 45.806 n�o vacinados com a terceira dose. A faixa et�ria de 4 anos � mais cr�tica: a cobertura vacinal desses pequenos, com as tr�s doses, � de apenas 38,55%. Considerando todas as crian�as menores de 4 anos, a cobertura chega a 71,31%, mas a estimativa � de que 354.282 n�o tomaram a terceira dose.
O �ltimo caso aut�ctone de p�lio notificado em Minas data de 1989. A diretora de Promo��o � Sa�de e Vigil�ncia Epidemiol�gica da Secretaria Municipal de Sa�de, L�cia Paix�o, ressalta a necessidade de manter o esquema vacinal para ter prote��o e que as crian�as s�o o p�blico de maior risco. O medo do retorno da poliomielite aumentou com a divulga��o pela Organiza��o Pan-Americana de Sa�de de um caso na Venezuela, que foi descartado em seguida. “Temos que ficar atentos. A Venezuela est� vivendo um momento social, econ�mico e pol�tico grave, com uma popula��o enorme entrando no Brasil. A cobertura vacinal deles com certeza est� baixa e h� casos de difteria e sarampo. Se a nossa popula��o n�o estiver protegida, � um risco enorme”, afirma. “Temos que manter o alerta. Apesar de descartado o caso suspeito na Venezuela, a p�lio ocorre de forma end�mica em alguns pa�ses da �frica, como o Congo, e hoje o Brasil tem um grande tr�nsito com esse continente.”
URG�NCIA O sumi�o das salas de vacina��o est� levando ao extremo. No Centro de Sa�de Pompeia, no bairro hom�nimo, na Regi�o Leste de BH, a ger�ncia determinou a ca�a a quem deveria estar protegido contra a p�lio e o sarampo mas ainda n�o se vacinou. “Vamos atr�s de todos os pacientes faltosos abaixo de 5 anos”, conta a gerente Solange Cicarelli.
Ela lembra das campanhas contra a p�lio, iniciada nos anos 1980, que usavam o personagem Z� Gotinha como chamariz das crian�as. Antes, as doses da vacina eram via oral. “O Z� Gotinha tinha uma fama linda e atingia todos os meninos. Depois que passou a ser injet�vel, piorou a busca pela imuniza��o. Al�m disso, sem casos, as pessoas v�o se desligando. E h� ainda uma onda de pais que adotam uma linha mais natural e n�o aceitam a vacina”, revela. Os t�cnicos em enfermagem M�riam da Silva e Stefenson Manass�s contam que, diariamente, enfrentam a resist�ncia de pais que n�o permitem que os filhos sejam vacinados.

Perigo � vista
Confira a situa��o da vacina��o em Minas Gerais e caracter�sticas da difteria, sarampo e poliomielite
DIFTERIA Doen�a transmiss�vel aguda. Frequentemente se aloja nas am�gdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A presen�a de placas pseudomembranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas am�gdalas e invadem estruturas vizinhas, � a manifesta��o cl�nica t�pica. A transmiss�o ocorre ao falar, tossir, espirrar, ou por les�es na pele. O per�odo de incuba��o � de um a seis dias, podendo ser mais longo. J� o per�odo de transmissibilidade dura, em m�dia, at� duas semanas depois do in�cio dos sintomas.
RUB�OLA Doen�a aguda, de alta contagiosidade, transmitida pelo v�rus do g�nero Rubivirus da fam�lia Togaviridae. A doen�a tamb�m � conhecida como “sarampo alem�o”. No campo das doen�as infectocontagiosas, a import�ncia epidemiol�gica da rub�ola est� representada pela ocorr�ncia da S�ndrome da Rub�ola Cong�nita (SRC), que atinge o feto ou o rec�m-nascido cujas m�es se infectaram durante a gesta��o. A infec��o na gravidez acarreta in�meras complica��es para a m�e, como aborto e natimorto (feto expulso morto) e para os rec�m-nascidos, como malforma��es cong�nitas (surdez, malforma��es card�acas, les�es oculares e outras).
SARAMPO Doen�a infecciosa viral e extremamente contagiosa. A transmiss�o se d� por meio de secre��es das vias respirat�rias, podendo ser passar diretamente de uma pessoa � outra por secre��es expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. Os principais sintomas s�o febre alta, manchas avermelhadas em todo o corpo, congest�o nasal, tosse e olhos irritados e pode causar complica��es graves como cegueira, encefalite, diarreia intensa, infec��es do ouvido e pneumonia, sobretudo em crian�as com problemas de nutri��o e pacientes imunodeprimidos.
POLIOMIELITE A poliomielite ou “paralisia infantil” � uma doen�a infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia fl�cida, de in�cio s�bito. O d�ficit motor instala-se subitamente e sua evolu��o, frequentemente, n�o ultrapassa tr�s dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assim�trica, tendo como principal caracter�stica a flacidez muscular, com sensibilidade conservada e aus�ncia de reflexos no segmento atingido. A transmiss�o ocorre por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral (mais frequentemente), por objetos, alimentos e �gua contaminados com fezes de doentes ou portadores, ou pela via oral-oral, por got�culas de secre��esao falar, tossir ou espirrar. A falta de saneamento, as m�s condi��es habitacionais e a higiene pessoal prec�ria constituem fatores que favorecem a transmiss�o do poliov�rus.