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Estado de Minas

Em 15 anos, Minas ter� mais pessoas acima dos 65 anos do que jovens

Estudo do IBGE revela caracter�sticas das popula��es do pa�s e de Minas dos pr�ximos anos. Com a menor taxa de fecundidade do pa�s, fam�lias diminuir�o. Popula��o total do estado come�ar� a encolher em duas d�cadas


postado em 26/07/2018 06:00 / atualizado em 26/07/2018 07:53

Pascoal Moura e Valnete Bonifácia: harmonia em casamento de 24 anos, sem filhos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Pascoal Moura e Valnete Bonif�cia: harmonia em casamento de 24 anos, sem filhos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)


O Brasil do futuro vai exibir cabelos grisalhos e as marcas do tempo no rosto, mas tamb�m viver� mais. Aquela pir�mide cl�ssica apresentada nas aulas de geografia mostrando a idade da popula��o – jovens na base e idosos no topo – ser� completamente invertida em poucas d�cadas. Casais optam cada vez mais por ter menos filhos ou t�-los tardiamente, fazendo a taxa de fecundidade no pa�s despencar. Minas Gerais sente os reflexos dessa decis�o. As mam�es do estado t�m hoje a menor m�dia de filhos do pa�s (1,62). De acordo com a proje��o da popula��o feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), em uma d�cada e meia, a quantidade de mineiros maiores de 65 anos vai ultrapassar o contingente de menores de 15 anos. O levantamento divulgado ontem aponta ainda que o n�mero de habitantes no pa�s, estimado em 208 milh�es, come�ar� a recuar em 30 anos. Em Minas, bastar�o pouco mais de duas d�cadas para que esse processo se concretize.


A publica��o revisou dados anteriores e fez proje��es at� 2060. No Brasil, a popula��o cresceu 7% em rela��o ao Censo de 2010, passando de 194,8 milh�es para 208,5 milh�es. Em rela��o ao ano passado, s�o quase 2 milh�es a mais de brasileiros. Em Minas, o n�mero de habitantes saiu de 19,9 milh�es para 21 milh�es em oito anos (aumento de 5,4%). Na compara��o com 2017, h� 132 mil pessoas a mais.

O envelhecimento � observado na expectativa de vida. Ela era de apenas 45,5 anos em 1940, de acordo com dados do IBGE, e quase dobrar� em 2060, passando para 81,04 anos. Em 2018, a m�dia de vida dos brasileiros alcan�a 76,25 anos. Em Minas, a popula��o vive mais que a maioria dos compatriotas: 77,73 anos. Em 2060, os idosos mineiros chegar�o a uma m�dia de idade de 82,32 anos, segundo o levantamento do instituto.

Enquanto o tempo de vida tem se prolongado, menos pessoas t�m nascido no pa�s, fator decisivo para a invers�o da pir�mide populacional. Minas Gerais tem hoje a menor taxa de fecundidade do Brasil, bem abaixo do n�vel nacional (1,77). At� 2060, o n�mero de filhos por mulher vai diminuir ainda mais: a estimativa � de que no Brasil chegue a 1,66 e, em Minas, despenque para 1,55. “Quando h� queda nos grupos et�rios de 20 a 24 anos, que � a faixa na qual a fecundidade se d� com mais intensidade, o impacto � geral. Esse fen�meno j� havia sido observado em 2012 e 2013. Em estados como Rio Grande do Sul e Paran�, as taxas est�o mais altas porque as mulheres deixaram de ter filhos dos 20 aos 24 anos para ter com 25 a 29 ou a partir dos 30”, relata a dem�grafa Leila Ervatti, do IBGE.

“Minas ainda n�o passou por isso (a tend�ncia � maternidade tardia), mas acreditamos que ainda passar�. A queda observada hoje se deve � redu��o na taxa de fecundidade de mulheres mais jovens. Provavelmente, elas est�o adiando o momento de ter filhos e pode ser que no futuro recuperem essa fecundidade”, afirma Leila. Mesmo assim, a dem�grafa explica que n�o est� previsto o retorno dos n�veis de fecundidade no curto e m�dio prazo, embora tamb�m n�o se fa�a uma proje��o de queda acentuada.

Eduardo Lee Murça e Larissa de Souza, ambos professores, com a filha única, Maria Eliza: mais tempo e recursos para dedicar à pequena (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Eduardo Lee Mur�a e Larissa de Souza, ambos professores, com a filha �nica, Maria Eliza: mais tempo e recursos para dedicar � pequena (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)


FILHA �NICA O que se revela nas estat�sticas ganha contornos de realidade em hist�rias como a do casal Eduardo Lee Mur�a e Larissa Lima de Souza Mur�a. Muito antes de se casar, o professor de 40 anos, morador de Montes Claros, na Regi�o Norte, j� pensava em ter apenas um filho ou uma filha. O motivo estava nas dificuldades financeiras e problemas sociais que via no mundo. Assim, querendo dar uma boa educa��o e um tempo maior de assist�ncia � crian�a, planejava uma fam�lia pequena. Tamb�m professora da rede p�blica de ensino, Larissa entendeu as raz�es do marido e o casal teve apenas Maria Eliza, de 4.

Passando as f�rias escolares em Belo Horizonte, os tr�s aproveitaram esta semana para passear pela Pra�a Carlos Chagas, mais conhecida como Pra�a da Assembleia, no Bairro Santo Agostinho, na Regi�o Centro-Sul. A menina sorridente aproveitou o balan�o e o cavalinho, e, sempre vigilante, Eduardo lembrou as dificuldades que seus pais tiveram para criar seis filhos. “E olha que minha m�e n�o trabalhava fora”, afirmou, antes de explicar que o casal n�o tem empregada dom�stica e cuida de tudo.

“Fam�lia exige uma log�stica, e n�o tivemos uma filha para deixar os outros criarem. A gente precisa se virar para cuidar. Vejo casais dizendo que as crian�as ficam com os av�s, mas n�o queremos isso”, conta Larissa. Para dar aten��o total a Maria Eliza, Eduardo fica de manh� em casa, de forma que a menina nunca est� sozinha.

E os n�meros do IBGE refletem ainda aqueles casais que decidem n�o formar descend�ncia, como os aposentados Paschoal da Silva Moura, de 78, e Valnete Bonif�cia de Oliveira Moura, de 65. Ele, depois de ter quatro filhos de uma primeira uni�o, voltou a se casar ap�s ficar vi�vo. Ela, pensando na fam�lia do marido, que j� era grande, resolveu n�o engravidar. Decis�o que, a julgar pelo sorriso franco nos rostos de ambos, n�o afetou a felicidade nos dois cora��es.

Censo vai "virar" em 2040

Movimento na Praça Sete, Centro de Belo Horizonte: mineiros serão a quinta população entre estados brasileiros a começar a declinar. No país, virada ocorre mais tarde(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Movimento na Pra�a Sete, Centro de Belo Horizonte: mineiros ser�o a quinta popula��o entre estados brasileiros a come�ar a declinar. No pa�s, virada ocorre mais tarde (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Acostumados a ver ano a ano o n�mero de habitantes crescer, os brasileiros v�o conviver com movimento inverso em tr�s d�cadas, aponta proje��o feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) e divulgada ontem. A popula��o deve parar de crescer em 2047, quando chegar� ao pico (233.233.670 de pessoas). Pelas proje��es, no ano seguinte haver� a primeira redu��o, passando para 233.190.482 habitantes – queda que ser� constante at� 2028, quando a popula��o projetada � de 228.286.347 pessoas.

Em Minas Gerais, que tem atualmente a menor taxa de fecundidade do pa�s (1,62, contra 1,77 da m�dia nacional), a queda na popula��o total vai ocorrer quase uma d�cada antes. A previs�o � de que o n�mero de habitantes pare de crescer em 2039, quando se dar� o pico populacional (22.478.907 pessoas). Em 2040, o total de moradores em territ�rio mineiro dever� diminuir para 22.473.382 habitantes. O estado ser� o quinto do pa�s a passar por essa transforma��o.

Menos crian�as nascendo e a popula��o vivendo cada vez mais s�o tend�ncias que est�o mudando tamb�m a cara da popula��o do Brasil. A proje��o do IBGE mostra uma mudan�a no cen�rio daqui a muito pouco tempo. Em 2039, o n�mero de pessoas com idade superior a 65 anos vai ultrapassar a quantidade dos adolescentes e crian�as menores de 15 anos. Em Minas Gerais, essa virada se dar� ainda mais cedo: em 2033, de acordo com o levantamento divulgado ontem.

"Acredito que n�o volte mais. Pa�ses que incentivaram a natalidade, porque estavam com fecundidade baixa e problemas at� mesmo de produtividade, com bolsas, aumento da licen�a-maternidade e at� b�nus em dinheiro para cada filho nascido, aumentaram um pouco, mas n�o conseguiram voltar aos n�veis anteriores, nem ao n�vel de reposi��o populacional"

Leila Ervatti, dem�grafa do IBGE



O primeiro estado a ter a virada, de acordo com essa proje��o, ser� o Rio Grande do Sul, com 2,074 milh�es de maiores de 65 anos e 2,037 milh�es de menores de 15 anos em 2029. Quatro anos depois ser� a vez de Minas Gerais e tamb�m do Rio de Janeiro. Apenas os estados de Roraima e Amazonas n�o chegar�o a esse patamar no tempo previsto para o restante do pa�s, conseguindo faz�-lo apenas em 2065.

Com as taxas de fecundidade despencando, a popula��o est� ficando madura. Com uma m�dia de 32,58 anos de idade, os brasileiros abaixo dos 30 se concentram, basicamente, em estados do Norte e Nordeste (em Alagoas e Maranh�o). Minas � um dos quatro estados “mais velhos” da federa��o, com idade m�dia de 34,3 anos, atr�s de Rio Grande do Sul (35,9), Rio de Janeiro (35,4) e S�o Paulo (34,4).

“O envelhecimento est� dado. Para qualquer proje��o que se fa�a, pode ser um pouco depois ou antes, h� essa invers�o em rela��o � popula��o maior de 65 anos”, destaca a dem�grafa Leila Ervatti, do IBGE. Pela estimativa, em 2060, um quarto da popula��o (25,5%) dever� ter mais de 65 anos. “Acredito que n�o volte mais. Pa�ses que incentivaram a natalidade, porque estavam com fecundidade baixa e problemas at� mesmo de produtividade, com bolsas, aumento da licen�a-maternidade e at� b�nus em dinheiro para cada filho nascido, aumentaram um pouco, mas n�o conseguiram voltar aos n�veis anteriores, nem ao n�vel de reposi��o populacional”, argumenta. Estudos mostram que a taxa de 2,1 filhos por mulher � o indicador necess�rio para garantir a reposi��o do n�mero de habitantes. “Abaixo disso, certamente, a popula��o vai come�ar a cair.”

LONGEVIDADE Aos 78 anos, o aposentado Paschoal da Silva Moura, morador do Bairro Padre Eust�quio, na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, diz, com bom humor, que “o pessoal hoje est� muito devagar, n�o quer ter muitos filhos”. Pai de quatro, do primeiro casamento, e com seis netos, ele se acostumou a ver proles numerosas. “Minha av� do lado materno teve 14 filhos”, orgulha-se. Ao ficar vi�vo, Paschoal se casou h� 24 anos, “no civil e no religioso”, com Valnete Bonif�cia de Oliveira Moura, de 65, aposentada.

Mas os tempos j� eram outros e Valnete achou melhor n�o ter filhos, mesmo ainda n�o sendo m�e. “J� estava com 40 anos e pensei nas dificuldades, pois ele j� tinha quatro filhos. Ent�o, como sou de olhar para frente, jamais para tr�s, achei melhor n�o engravidar.” Na tarde de ontem, caminhando pelo Centro da cidade, mais especificamente em frente da Igreja S�o Jos�, os dois demonstraram que a harmonia reina absoluta nos dois cora��es.

O peso da migra��o

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Al�m da queda na taxa de fecundidade, outro fator combinado faz com que a popula��o diminua em um per�odo mais curto de tempo: a migra��o. � o que explica a dem�grafa Leila Ervatti, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). “Minas ainda expulsa a popula��o, mesmo que essa perda ocorra com menos intensidade do que no passado”, diz. O levantamento usa os dados de 2010, pois n�o tem outra fonte de informa��o. “O Censo de 2020 pode indicar outro dado, que est� recebendo mais pessoas, por exemplo”, afirma.

A migra��o interestadual e internacional � um dos pontos que podem trazer surpresas. O IBGE ressalta que a quest�o vem sofrendo profundas mudan�as desde os anos 1980, quando se encerrou um ciclo de volumosos deslocamentos, em que dezenas de milh�es de pessoas da Regi�o Nordeste e de Minas Gerais partiram na dire��o, principalmente, de S�o Paulo e do Rio de Janeiro. O instituto acrescenta que, no caso das migra��es internas, n�o h� informa��es dispon�veis em registros administrativos que possam orientar a defini��o das hip�teses a respeito do comportamento da mobilidade da popula��o no �mbito interestadual.

J� a migra��o internacional voltou a se destacar como importante fen�meno social e demogr�fico, mas, desta vez, h� possibilidade de algo ao inverso. O IBGE indica dados de estudiosos segundo os quais, a partir dos anos 1980, cerca de 1,5 milh�o de brasileiros sa�ram do pa�s com destino aos Estados Unidos e, na d�cada de 1990, pelo menos 550 mil foram para Jap�o e pa�ses da Europa. Com a crise econ�mica na Europa, em 2008, o Brasil se tornou ponto de chegada de imigrantes estrangeiros e, no Censo de 2010, se observou ainda o retorno de brasileiros.

A tend�ncia � de que outro fluxo recente, de haitianos, venezuelanos, s�rios, africanos e asi�ticos, engrosse ainda mais essas estat�sticas. Se antes de 2010 a Pol�cia Federal e o Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros registraram a entrada de 394.412 pessoas de outros pa�ses, a partir de 2013 foram mais de 100 mil por ano. A proje��o considerou a migra��o da Venezuela para Roraima entre 2015 e 2022. Nesse per�odo, migrariam para o estado cerca de 79 mil venezuelanos. 


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