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Estado de Minas MONTANHAS DE HIST�RIAS

Ventania dificulta ainda mais a travessia na Serra Fina

Baixas temperaturas e florestas de bambus multiplicam as dificuldades


postado em 29/07/2018 06:00 / atualizado em 29/07/2018 08:16

(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.Press)
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.Press)

Itamonte e Passa Quatro – O zunir do vento � incessante na travessia da Serra Fina. Sopros que chegam a reunir for�a suficiente para desequilibrar quem caminha pela crista da forma��o montanhosa. Esse rigor derruba ainda mais as temperaturas, ao ponto de j� terem sido registrados -13,5°C e de as redes sociais exibirem relatos de aventureiros com �gua congelada em seus cantis. Essa ventania empurra as nuvens como se fossem estruturas l�quidas, que praticamente escorrem pelos picos rochosos. Quando se vislumbra o abrigo que a vegeta��o mais fechada pode fornecer contra o vento, o est�mulo � chegar logo ao ref�gio. Contudo, apesar de aplacar a incid�ncia direta do vento, a vegeta��o se torna um obst�culo ainda maior. A cadeia montanhosa � intercalada por florestas extensas de varas finas de bambus emaranhados, que se fecham sobre as passagens, grudando nas mochilas e equipamentos. O reflexo natural de usar os bra�os para abrir caminho em pouco tempo resulta em ferimentos nos membros, mesmo quando se est� de luvas e com trajes compridos.

As dificuldades acabam unindo as pessoas que fazem a travessia. A reportagem do Estado de Minas, por exemplo, come�ou a expedi��o com dois componentes e terminou com cinco. Um deles foi o t�cnico em seguran�a do trabalho Efig�nio Vieira Silva, de 46 anos, que saiu de Campinas (SP) para fazer o caminho sozinho e aproveitou o encontro para cumprir o trajeto com mais seguran�a. “Vim para a Serra Fina pela conex�o com a natureza e o desafio pessoal de superar a montanha, conhecer meu limite e outras pessoas que gostam dessas aventuras. Fiz algumas trilhas longas h� mais tempo, como o Vale do Pati (BA), e estou retornando agora”, disse. “A gente estava procurando algum lugar que tivesse montanha, trilhas e que fosse bonito. Quando soubemos que a Serra Fina � um dos lugares mais dif�ceis, isso nos interessou. Tiramos uns dias (de folga) e viemos”, conta o programador campinense Thiago Ribeiro Mendes, de 38. “� bem cansativo, mas a beleza compensa. Voc� acaba subindo todos os picos que v� pela frente. Tem chuva, por isso � bom estar preparado. Os picos s�o muito bonitos e a gente pegou muita neblina. Isso foi bastante interessante”, disse o tamb�m programador Erick Baun, de 29.

A vegeta��o se torna mais escassa e cede espa�o a rochas na �rea mais remota e desolada da Serra Fina. � justamente nesse cen�rio �rido que se avista o Pico da Pedra da Mina (2.798 metros). Uma montanha cinzenta, salpicada de capim amarelado e que se ergue sozinha no vale. O clima dessa regi�o � selvagem, praticamente imprevis�vel. Nos cerca de 60 minutos gastos para atingir o cume, o c�u azul ensolarado deu lugar a um ac�mulo repentino de nuvens e ventos de tempestade. Um nevoeiro espesso e g�lido reduziu a visibilidade para cerca de quatro metros. Para chegar � parte mais alta, percorre-se um labirinto de paredes de pedras empilhadas, que formam v�rios abrigos constru�dos pelos montanhistas para barrar os ventos e proteger quem acampa no pico. No meio da tarde, o term�metro marcava 9°C, mas a sensa��o era congelante.

Exemplos de supera��o e admira��o ficam registrados no livro do pico, um caderno dentro de uma caixa met�lica postada no marco de georreferenciamento deixado pelo IBGE: “Gratid�o por ter chagado ao topo. Cuidem do planeta”; “Obrigado a quem participou por mais essa subida”. Algumas pessoas deixam adesivos na caixa, outras, canetas para que mais aventureiros possam usar e at� folhas de papel higi�nico, al�m de tabletes de manteiga de cacau para os que sofrem com l�bios feridos. A solidariedade da montanha tamb�m se faz presente em outros pontos, onde aventureiros deixam garrafas com �gua para quem tem sede.

Ao descer a Pedra da Mina, mais um ponto que promete tr�gua, por aparentar ser mais plano, prova-se t�o exigente quanto as demais regi�es. Trata-se do Vale do Ruah, uma das depress�es entremontes mais altas do Brasil, a 2.500 metros de altitude. Ruah � a translitera��o do hebraico para sopro, que dizem ter sido dada por um padre que conheceu os ventos implac�veis que varrem aquele planalto contido entre as cadeias da serra e por onde corre o Rio Verde. A navega��o por ali � muito prejudicada por uma vegeta��o de touceiras de mato, que chegam a atingir mais de dois metros de altura, escondendo as curvas e bifurca��es da trilha. � o caminho para mais dois picos extremos, o do Cupim de Boi (2.543 metros) e o dos Tr�s Estados (2.665 metros).

O Pico dos Tr�s Estados � um dos mais exigentes da Serra Fina, pois � preciso escalar rochas muito �ngremes e escorregadias, que se precipitam em abismos fatais. Nessa eleva��o, a reportagem experimentou mais uma vez a imprevisibilidade da travessia. O c�u limpo se encheu de nuvens pretas e uma tempestade de raios fez do destino o lugar mais perigoso para se estar, pois quanto mais alta a localiza��o, mais suscet�vel a uma descarga el�trica a pessoa se torna. No pico, esse maci�o divide Minas Gerais, Rio de Janeiro e S�o Paulo. Uma escultura traz exatamente a disposi��o de cada estado. Dali em diante, s�o ainda mais 11 quil�metros pesados, o que se tornou ainda mais penoso devido � chuva fria e � vegeta��o densa que molha roupas e equipamentos completamente.

A trilha mesmo termina no chamado S�tio do Pierre, quase na Garganta do Registro. O dono atual da propriedade tranquiliza as pessoas que fazem a travessia. “Comprei essa propriedade para preserva��o mesmo. Todas as pessoas que fazem a travessia de forma ordeira s�o bem-vindas. Comprei a terra de um m�dico canadense, chamado Pierre, que montou um local de repouso e tratamento psiqui�trico para clientes abastados de S�o Paulo. A �rea me lembrou minha terra natal, Campos do Jord�o, mas atualmente moro em Belo Horizonte”, conta o engenheiro civil Jos� Ant�nio Costa Cintra, de 61.


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