As investiga��es come�aram em mar�o deste ano, a partir do setor de intelig�ncia do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), que contou com a participa��o das pol�cias Militar e Civil de Minas e apoio dos grupos de Atua��o Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de S�o Paulo e da Bahia. A opera��o, denominada Bandeira Suja, apontou que a organiza��o criminosa agia de forma muito sofisticada e contava com informa��es privilegiadas de ex-funcion�rio da Petrobras.
Para o desvio de combust�vel, os criminosos identificaram por onde passam dutos da refinaria Regap. O sistema tem 364 quil�metros e interliga a refinaria da Grande BH ao terminal de Campos El�sios, em Duque de Caxias (RJ), segundo a Petrobras, para envio de gasolina e diesel produzidos em Betim. Identificada a localiza��o, foi alugada uma ch�cara no munic�pio de M�rio Campos, na Regi�o Metropolitana de BH, que permitia acesso � tubula��o. L�, foram instaladas v�lvulas nos dutos para sugar a gasolina. Na tentativa de disfar�ar, n�o s� a opera��o, como o cheiro forte do produto, foi constru�do um galinheiro no local de extra��o, na tentativa de que a retirada do produto n�o fosse percebida por vizinhos.
O combust�vel subtra�do era levado em cargas menores a um galp�o no Bairro Citrol�ndia, em Betim, na Regi�o Metropolitana de BH. Com volume maior armazenado, segundo as autoridades, um caminh�o-tanque buscava a carga furtada, seguindo para o Sul de Minas. O produto era ent�o distribu�do para cinco postos das cidades de S�o Louren�o, El�i Mendes e Pouso Alegre.“Eles tinham um sistema de seguran�a bastante sofisticado. Tanto a ch�cara onde era realizada a prepara��o quanto o galp�o onde armazenavam a gasolina e at� a vinda do caminh�o eram monitorados com c�meras de seguran�a. Eles tamb�m tinham o h�bito de sempre acompanhar o transporte do caminh�o”, explicou o promotor Luiz Felipe Sheib, respons�vel pelo caso.

O esquema, segundo as autoridades, demonstra que os criminosos entendiam perfeitamente como funcionam os procedimentos de seguran�a da Petrobras, e atuavam de forma que fosse impercept�vel o furto. “Eles furtavam cerca de 5 mil litros por dia, totalizando 40 mil litros por semana e 160 mil por m�s. A Petrobras conta com um sistema de intelig�ncia que detecta toda vez que h� a diminui��o de press�o em algum ponto, mas eles sabiam qual quantidade poderiam retirar para n�o ser descobertos”, apontou o promotor. Como a gasolina desviada da refinaria era pura, os criminosos misturavam a subst�ncia com �lcool, para n�o chamar a aten��o das autoridades. O combust�vel era, ent�o, vendido a pre�o de mercado.
N�o por acaso, entre os integrantes da organiza��o estavam ex-trabalhadores da companhia: “Identificamos que alguns desses funcion�rios j� trabalharam na Petrobras e um deles trabalhava atualmente em uma empresa que recebe combust�vel da refinaria, al�m de deter conhecimento de mec�nica. Da� a capacidade organizacional desse grupo”, destacou o promotor. As investiga��es apontam que nenhum funcion�rio atual da empresa facilitou ou contribuiu para a a��o criminosa.
‘F�RIAS INTERROMPIDAS’ O chefe da organiza��o criminosa foi preso em um resort de luxo na Bahia. De acordo com o Minist�rio P�blico, ele � velho conhecido da pol�cia: j� havia sido detido outras duas vezes por furto. “Ele j� tinha hist�rico da pr�tica desse crime em S�o Paulo. O perfil dos criminosos era de escolaridade superior e condi��es t�cnicas de produzir esse tipo de crime. Sabiam como operar sem levantar suspeitas”, descreveu o promotor. Os nomes dos presos n�o foram divulgados.
A opera��o cumpriu 20 mandados de busca e apreens�o, sendo 14 em Minas Gerais e seis em S�o Paulo, al�m de 10 mandados de pris�o (oito em Minas e dois em SP) e uma pris�o em flagrante. No total, foram apreendidos R$ 211 mil em esp�cie, 10 ve�culos – incluindo os caminh�es de transporte – tr�s armas de fogo e grande quantidade de combust�vel ainda armazenado. O avi�o pertencente aos propriet�rios dos postos de gasolina tamb�m est� nas m�os da Justi�a.
Os acusados podem ser denunciados pela pr�tica de forma��o de organiza��o criminosa, por todos os furtos praticados durante cinco meses e por sonega��o fiscal. “Todos permanecer�o presos, em pris�o preventiva tempor�ria, a n�o ser que haja outra decis�o da Justi�a, mas as den�ncias s�o muito bem fundamentadas”, pontuou o promotor Luiz Felipe Sheib.
Ainda segundo ele, o esquema de seguran�a da Petrobras – que detecta a diminui��o de press�o – e o rob� que faz vistoria nos tubos ainda n�o s�o 100% eficientes para coibir desvios e furtos. “Como vimos, o sistema pode ser burlado, dependendo de como � feita a subtra��o. Continuamos atentos a mais informa��es, para novas investiga��es feitas pelo setor de intelig�ncia do Minist�rio P�blico”, destacou.

RISCOS Al�m dos preju�zos para a Petrobras, a pr�tica do crime pode ser perigosa para a popula��o. O superintendente de Pol�cia T�cnico-Cient�fica, Roberto Sim�o, chamou a aten��o para o risco de explos�o e de contamina��o do solo decorrente desse tipo de pr�tica. “O risco de explos�o � iminente. E ela pode acontecer no momento da perfura��o dos dutos ou ap�s, � imprevis�vel”, alertou. Segundo o especialista, os sistemas usados para o desvio de gasolina s�o de fabrica��o artesanal e, consequentemente, v�o se desgastar. “Ocorrendo a explos�o, a popula��o ao redor corre risco. Havendo vazamento de gases ou de l�quidos eles podem contaminar o solo, os len��is fre�ticos e alcan�ar mananciais de �gua”, pontuou. O especialista disse n�o saber ainda se houve, nesse caso, algum tipo de vazamento, mas amostras foram recolhidas para an�lises laboratoriais.
A Petrobras se pronunciou sobre a situa��o por meio de nota: “A Petrobras � v�tima de a��es criminosas de furto de �leo e derivados e colabora com o Minist�rio P�blico e a Pol�cia Civil nas investiga��es sobre essa atividade. A maior preocupa��o da companhia � a seguran�a das fam�lias vizinhas �s instala��es, pois interven��es criminosas podem trazer riscos para a comunidade, como inc�ndios e explos�es”, apontou. A empresa alerta a popula��o que “sempre que identificar cheiro de combust�vel ou qualquer movimenta��o suspeita na faixa de dutos ou em terrenos pr�ximos, a comunidade pode entrar em contato com a Transpetro, subsidi�ria da Petrobras, pelo telefone 168”. A liga��o � gr�tis e o telefone funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
Mem�ria
Rio teve golpe semelhante
No in�cio do m�s, opera��o conjunta da Pol�cia Civil e do Minist�rio P�blico do Rio de Janeiro terminou na pris�o de integrantes de uma quadrilha respons�vel por furtos de combust�vel na regi�o metropolitana da capital fluminense. O grupo revendia o produto no interior de S�o Paulo. A estimativa � de que ao menos um dos crimes tenha causado preju�zo de R$ 200 mil. Segundo as investiga��es, a quadrilha conseguia retirar petr�leo e �leo diesel de dutos da Transpetro em munic�pios como Duque de Caxias, Nova Igua�u e Mag�, na Baixada Fluminense e Silva Jardim e Pinheiral, no Sul do Rio.