Beatificado em cerim�nia no est�dio do Mineir�o, na Pampulha, em 15 de junho de 2006, Padre Eust�quio est� em processo de canoniza��o, mas, para se tornar santo, � preciso que o Vaticano reconhe�a um milagre ocorrido ap�s aquela data. “Temos o registro de muitas gra�as alcan�adas, por�m n�o temos a ocorr�ncia de um milagre”, explicou o titular da Par�quia dos Sagrados Cora��es, padre Vin�cius Maciel. Na avalia��o do p�roco, cerca de 25 mil fi�is deveriam passar, ontem, pela igreja. “No ano passado, 16 mil pessoas receberam a h�stia.”
Na avalia��o do padre Vin�cius, Padre Eust�quio era um “homem misericordioso”, capaz de dar aten��o aos sofredores, pobres, doentes e �s crian�as. “A f� era o ponto fundamental para seu amor ao pr�ximo. A maior li��o que ficou � que � poss�vel aliar, na atualidade, a religi�o, a religiosidade, com a vida real. Muitos, �s vezes, costumam busca na religi�o algo externo, intimista, mas o Padre Eust�quio nos ensinou que a religi�o faz parte da vida concreta, do sofrimento humano, dos necessitados”, afirmou o p�roco.
ARTE E F� Presentes � missa das 10h, com a participa��o de 1,2 mil pessoas e celebrada pelo padre Edmar Aparecido de Oliveira, ordenado h� uma semana, os sobrinhos do beato – os irm�os Maria Velings, Will e Jan van den Boomen, e a sobrinha desse, Willenij – falaram sobre o orgulho de estar mais uma vez em BH, costume que come�ou na cerim�nia de beatifica��o. “Ele tinha como lema ‘sa�de e paz’, que vale para todo o mundo, no sentido de acabar com as desigualdades sociais”, afimou Jan.
Os devotos ocuparam o templo e outros espa�os, como o memorial, em anexo, a entrada do teatro, na qual foi montada a sala dos milagres e de exposi��o de reportagens jornal�sticas, esculturas, pinturas, retratos e objetos, e o vel�rio. No palco do teatro, uma equipe gravava depoimentos de pessoas que alcan�aram gra�as por intercess�o de Padre Eust�quio, enquanto, nos degraus na frente da igreja, uma equipe de jornalistas holandeses, da mesma regi�o do beato, realizava um document�rio.
A professora aposentada Concei��o de S� Oliveira Mata, moradora do bairro vizinho Carlos Prates, visitou os retratos em companhia da filha Cl�udia de S� Oliveira Mata Silveira, casada e m�e de tr�s filhos. Com os olhos brilhantes, Concei��o lembrou que, em 1966, gr�vida de Cl�udia, teve rub�ola e foi orientada pelo m�dico a abortar. “J� estava com a guia de interna��o, mas decidi vir aqui � igreja e rezar, pedindo a intercess�o do Padre Eust�quio. J� tinha dois filhos e a� veio esta princesa”, disse Concei��o olhando para Cl�udia, que trabalhou 30 anos em banco e se aposentou. “Nasci por causa dessa gra�a alcan�ada”, afirmou Cl�udia.
O amor ao pr�ximo foi sempre o sentimento que mais entusiasmou a enfermeira aposentada Aparecida Sampaio, moradora do Conjunto Santos Dumont, nas proximidades da igreja. “Gosto do Padre Eust�quio. � mais do que f�, de ficar rezando”, afirmou. Moradora da Regi�o do Barreiro, a professora Vera L�cia de Andrade confessou que estava � espera de uma gra�a. “Tenho certeza de que est� para chegar”, disse com toda confian�a. De ter�o na m�o, a escritora e terapeuta hol�stica Marlene Reis Barbosa, de 70, vi�va, destacou que a m�e dela, Generosa, conheceu Padre Eust�quio. “Essa igreja � muito importante na minha vida, pois fui batizada, coroei Nossa Senhora e fiz primeira comunh�o aqui. Tenho f� e considero Padre Eust�quio um santo.”
VIDA E OBRA Eust�quio van Lieshout nasceu na Holanda, em 1890, e aos 15 anos ingressou na Congrega��o dos Sagrados Cora��es, inspirado no exemplo de santidade do mission�rio S�o Dami�o de Molokai. Em 1919, foi ordenado sacerdote e continuou em seu pa�s. Seis anos mais tarde, veio para o Brasil e fundou, junto com os padres Gil van den Boogaart e Matias van Rooy, a primeira comunidade da congrega��o no pa�s.
Padre Eust�quio construiu o Santu�rio de Nossa Senhora da Abadia de �gua Suja, em Romaria, na Regi�o do Alto Parana�ba, e em seguida foi transferido para Po� (SP), onde se tem os primeiros relatos de milagres. A fama de santidade do chamado Vig�rio de Po� se espalhou por todo o pa�s e, conforme as pesquisas, o incontrol�vel ass�dio das multid�es levou seus superiores a afast�-lo da par�quia, em 1941. Viveu retirado em v�rias cidades paulistas, mineiras e na capital carioca.
Em 1942, o padre foi nomeado p�roco em Belo Horizonte. Ficou apenas 1 ano e 4 meses na capital, o suficiente para deixar ra�zes profundas na espiritualidade do povo belo-horizontino. Mas uma repentina febre alta interrompeu este intenso apostolado e em 30 agosto de 1943 faleceu, vitimado por tifo exantem�tico ou febre maculosa, tamb�m chamada de febre do carrapato.
Conforme os relatos da �poca, incluindo a edi��o do Estado de Minas, o funeral foi uma verdadeira marcha triunfal. O t�mulo, no Cemit�rio do Bonfim, continuou sendo visitado pelos fi�is, mas, com a constru��o da Igreja dos Sagrados Cora��es, o povo passou a cham�-la de Igreja Padre Eust�quio. O corpo de Padre Eust�quio foi exumado e trasladado para um t�mulo dentro da igreja, em 1949, ficando at� o ano de 2007, quando foi transferido para o Memorial, constru�do anexo ao templo.
Enquanto isso...
...PALCO A CAMINHO
Segundo o titular da Par�quia dos Sagrados Cora��es, padre Vin�cius Maciel, Padre Eust�quio, durante o ano em que morou em Belo Horizonte, n�o s� se preocupou com as a��es pastorais e sociais, como tamb�m culturais. Embora na �poca em que viveu na capital (d�cada de 1940) o terreno da igreja fosse um campo de futebol, ele idealizou um projeto com col�gio, cinema, teatro e creche. Sobre o teatro, ser� inaugurado, ainda neste semestre, o Teatro Padre Eust�quio, ao lado da igreja, e em processo de restaura��o. Aberto para todas as manifesta��es art�sticas, incluindo a exibi��o de pe�as, o espa�o tem 500 assentos.
FESTA DA BEATIFICA��O
Em 15 de junho de 2006, milhares de pessoas lotaram o est�dio do Mineir�o, na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, para participar da cerim�nia de beatifica��o do Padre Eust�quio. Com a presen�a de autoridades do Vaticano, estava ali o reconhecimento p�blico de uma vida heroica nas virtudes e no servi�o. A festa foi realizada no dia de Corpus Christi, durante a 12ª Torcida de Deus, e recebeu a presen�a de delega��es de v�rios estados brasileiros e at� de religiosos latino-americanos. Como ocorreu ontem, muitos dos devotos aguardam agora a solenidade de canoniza��o, quando, finalmente, o beato se tornar� santo para os cat�licos.