O misterioso retorno de uma pe�a sacra roubada h� 24 anos

A devolu��o espont�nea de uma pe�a sacra do s�culo 18 surpreende autoridades do patrim�nio, fortalece a campanha para recupera��o de bens culturais de Minas e traz � tona o furto, em 24 de julho de 1994, do acervo do Museu Diocesano Dom Jos� Medeiros Leite, de Oliveira, na Regi�o Centro-Oeste. Deixando um bilhete em papel branco, apenas com a palavras “Igreja de Oliveira MG”, escritas em azul, uma pessoa n�o identificada entregou na superintend�ncia de S�o Paulo do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) a imagem de Santo Onofre, em madeira, que est� registrada no banco de dados do Minist�rio P�blico de Minas Gerais como item desaparecido. A informa��o foi divulgada ontem pela superintendente da autarquia federal em Minas, C�lia Corsino, que espera alguns tr�mites na capital paulista para que a objeto de f� retorne ao estado e depois � cidade de origem.

Segundo C�lia Corsino, a imagem foi entregue enrolada em pl�stico bolha, dentro de uma sacola de papel, o que mostra certo cuidado de n�o danific�-la. “Trata-se de uma atitude muito importante, e esperamos que ocorram outras devolu��es espont�neas”, disse. O bispo diocesano de Oliveira, dom Miguel �ngelo Freitas Ribeiro, que era padre na �poca do furto, tamb�m se mostrou alegre com a entrega volunt�ria. “Ainda temos esperan�a de encontrar as outras 35 pe�as furtadas. Por causa disso, o museu acabou desativado, pois perdemos metade do acervo”, afirmou.

A superintendente do Iphan em Minas ressaltou a import�ncia dos invent�rios, com fotos e descri��o detalhada, para identifica��o dos bens culturais desaparecidos, e da fiscaliza��o constante. “Desde a d�cada de 1980, a equipe do Iphan elabora invent�rios dos acervos. Atualmente, est� sendo feita a revis�o dos invent�rios na Regi�o Norte de Minas. Por ser uma institui��o nacional, o Iphan atua na fiscaliza��o de leil�es de pe�as sacras e obras de arte, principalmente em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, onde eles ocorrem com mais frequ�ncia.”

C�lia lembrou que, em junho, a imagem de Nossa Senhora do Ros�rio retornou � capela de mesmo nome em Prados, na Regi�o do Campo das Vertentes, com apoio desse tipo de trabalho. A pe�a de devo��o iria a leil�o no Rio, quando foi vista pela muse�loga F�tima Bevil�qua, que considerou o fato “estranho”. Na sequ�ncia, foi acionado o pesquisador e historiador Olinto Rodrigues dos Santos Filho, do escrit�rio t�cnico do Iphan em Tiradentes, na mesma regi�o, que, a partir de fotos e an�lises, comprovou a origem. No caso de Oliveira, ela observa que “as devolu��es espont�neas n�o s�o muito corriqueiras, por isso nos deixam satisfeitos”.

BANCO DE DADOS A identifica��o da imagem de Santo Onofre se tornou poss�vel gra�as ao blog patrimoniocultural.blog.br, da Coordenadoria das Promotorias de Justi�a do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC/MPMG), que mant�m um banco de dados atualizado constantemente e dispon�vel � popula��o. Na busca no endere�o eletr�nico, a equipe do Iphan, na capital paulista, encontrou informa��es necess�rias para fazer sua parte. Agora, disse C�lia Corsino, ser� aberto um processo administrativo, elaborado um relat�rio, com o registro do car�ter an�nimo de quem entregou o objeto – a pessoa fez a devolu��o e se recusou a dar o nome, indo embora em seguida. A etapa final ser� fazer a entrega, em seguran�a, ao museu de Oliveira.

A devolu��o espont�nea ganha contornos mais amplos, j� que Minas lembra os 15 anos da grande campanha para resgate das pe�as sacras desaparecidas de igrejas, capelas e museus, que teve como marco os “anjos de Santa Luzia”, retirados por ordem judicial de um leil�o no Rio de Janeiro (RJ) ap�s den�ncia do Estado de Minas. As autoridades mineira ainda procuram 734 pe�as desaparecidas, incluindo imagens sacras, como o Santo Onofre j� encontrado, casti�ais, sinos, peda�os de altares e outras. Na lista, que cont�m objetos desaparecidos desde 1848, h� muitas pe�as atribu�das a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), o “mestre do barroco”, cujos 280 anos de nascimento foram lembrados na quarta-feira.

No per�odo de campanha, foram encontradas e devolvidas 269 pe�as. Mais de 250 outras aguardam decis�o judicial, todas fruto de apreens�es do MPMG, pol�cias Federal, Militar e Civil ou entregues espontaneamente. “Nosso objetivo � devolver as pe�as a seus lugares de origem. N�o h� alegria maior, pois os moradores nunca perdem a esperan�a de rever seus objetos de devo��o”, disse ao EM a coordenadora das Promotorias de Justi�a do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais, Giselle Ribeiro de Oliveira.

FA�A CONTATO

Qualquer informa��o sobre as pe�as desaparecidas deve ser comunicada aos �rg�os competentes. Veja como acion�-los

Minist�rio P�blico de Minas Gerais, via Coordenadora das Promotorias de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico (CPPC): pelo
telefone (31) 3250-4620, pelo
e-mail [email protected] ou carta para Rua Timbiras, 2.941,
Bairro Barro Preto, Belo Horizonte, CEP 30.140-062

Iphan: Pelos telefones (31) 3222-2440 / (61) 2024-6342 / (61) 2024-6355 / (61) 2024-6370 ou pelos e-mails
[email protected], [email protected] e
[email protected]

Iepha – Pelos telefones
(31) 3235-2812 e (31) 3235-2813 ou pelo e-mail www.iepha.mg.gov.br

DEVOLU��ES ESPONT�NEAS

As autoridades mineiras registram outras entregas volunt�rias de bens culturais, religiosos ou n�o. Relembre algumas

» Em maio de 2015, uma pe�a em madeira pertencente ao Palacete Dantas, na Pra�a da Liberdade, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, foi devolvida de forma espont�nea ao Minist�rio P�blico de Minas Gerais e entregue ao Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG), �rg�o estadual respons�vel pelo tombamento do espa�o p�blico em 1977 e gestor do Circuito Cultural da pra�a

» Em novembro de 2014, um colecionador, de nome n�o divulgado, levou � sede da Coordenadoria das Promotorias de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico, em BH, em um caminh�o, quatro pe�as de ferro que ficavam na torre esquerda da Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, na Grande BH – cruz, haste de sustenta��o com sete metros de comprimento, galo e esfera armilar, com o sinal do poder da Coroa portuguesa. J� em madeira, foram restitu�dos os dois �culos frontais (aberturas na parede para entrada de ar e luz)

» Pouco depois, em 2014, outro colecionador, tamb�m de nome n�o divulgado, surpreendeu a equipe da CPPC ao entregar um conjunto de portas frontais, com duas bandeiras e duas partes superiores (sobrebandeiras), de madeira, e o conjunto de portas laterais

» Em fevereiro de 2006, tamb�m foi devolvida � CPPC/MPMG a imagem de Nossa Senhora do Ros�rio, do s�culo 18, de madeira policromada. Muito degradada, a pe�a foi depois restaurada

» Em janeiro de 2005, houve umas mais surpreendentes devolu��es: uma imagem de S�o Sebasti�o e tr�s crucifixos do s�culo 18, roubados havia mais de 50 anos, foram devolvidos � Igreja Matriz de S�o Jos� da Lagoa, depois de uma confiss�o. As pe�as foram entregues embrulhadas e teriam passado por uma restaura��o prec�ria. O nome da pessoa que as devolveu n�o foi revelado, j� que � segredo protegido pela confiss�o

» Em mar�o de 2004, foi devolvida, em S�o Paulo (SP), enrolada em um cobertor, a imagem de S�o Vicente Ferrer, do s�culo 19, tamb�m acompanhada de um bilhete. Desaparecida havia 10 anos, ela voltou para o Museu Regional do Sul de Minas, no munic�pio de Campanha